Ontem, vi meu pai dar uma palmada em minha mãe. Hoje, ela bateu em mim. Amanhã, aquele meu colega “gordinho” vai levar a dele.
Essa sequência poderia ser o raciocínio de uma criança ao estabelecer uma cadeia de violência e agressões, mas são fatos que procuramos esconder.
Se, no passado, não se discutia o que acontecia em casa, e o marido tinha direito de bater na esposa, agora, leis de proteção à mulher vítima de violência doméstica baniram tais atitudes.
Essa mulher, e mãe, atualmente assume que bater em criança é um bom método para educar ou está apenas mascarando frustrações pessoais?
Nesse ponto, omite-se a capacidade de educação a partir do lar. A palmada e suas conseqüências são veladas e escondidas na família enquanto disfarçamos a ignorância com canudos e diplomas.
Questiona-se a interferência do estado em questões de alcova e transfere-se a responsabilidade à escola.
Essa interferência já existe e está muito bem explicada no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que instigou a criação de Conselhos Tutelares e o surgimento de delegacias especializadas - que indiciam pais, tios, parentes, independente de salário ou formação.
Já no meio escolar, procuramos uma explicação pedagógica para nossas agressões próprias. Transfere-se, mais uma vez, a responsabilidade.
Como subterfúgio, debate-se Bullying e outras formas modernas de violência envolvendo a agressão recíproca entre crianças e adolescentes.
O principal, ou seja, a origem e a conseqüência e os reflexos psicológicos saem do foco. Que trauma um tapa sem motivo pode provocar? A quantidade de lesões aparentes reflete a verdadeira violência?
Nos artigos do Paulo Freire, renomado educador moderno, pode-se constatar aquilo que já deveria ser transparente a todos.
Hoje, mais que a educação institucional, desde a alfabetização, os métodos pedagógicos têm uma função social: a de preparar nossos filhos para o convívio em sociedade, para a cidadania. O “papel” das palmadas não tem participação nessa formação.
Em seus artigos e livros, Freire procura estabelecer um método de educação voltado para a não violência. Uma educação para a paz, engajada no processo educacional, sem palmatórias físicas ou psicológicas. Palmatórias que cedo ou tarde venhamos a presenciar. Também estabelece relações entre a educação de nossos filhos e nosso futuro.
Ora, se somos conscientes e detentores da força física, agentes das palmadas, tem-se que inferir sobre o que pode pensar uma criança ao ser agredia pela pessoa que deveria acariciá-la e zelar pela sua segurança e bem estar.
Hipocrisia dizer que bater educa, que não dói e que não se deve revidar. Não é batendo hoje que seremos poupados amanhã.
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