quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A volta das eleições indiretas

Que a função de vice tem razão de ser mais na composição de apoio e tempo de TV que poder todos sabem. Contudo, quem o elege é a população. Retirar essa função (a de ter sido escolhido para substituir o presidente) e propor eleições indiretas é um retrocesso no processo democrático.



MUDANÇA PÓS-ELEIÇÃO

Projeto esvazia função do vice-presidente

Três dias depois do peemedebista Michel Temer ser eleito para a vice-presidência da República na chapa de Dilma Rousseff (PT), o Senado deu o primeiro passo para aprovar um proposta que esvazia as funções do vice. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa aprovou ontem Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que determina a realização de uma nova eleição para escolher o presidente da República se o cargo ficar vago.

Pela regra constitucional em vigor, o vice-presidente assume o lugar do titular em caso de vacância até o final do mandato. Para ter validade, o texto aprovado ontem na CCJ precisa passar pelos plenários do Senado e da Câmara, em dois turnos de votações. A proposta estabelece que o país deverá realizar eleições 90 dias depois da Presidência da República ficar vaga para a escolha do novo chefe de Estado.

De acordo com a nova proposta, se a vacância do cargo ocorrer nos dois últimos anos de mandato do presidente, caberá ao Congresso realizar eleição indireta para escolher o novo presidente.

– A proposta tem o objetivo de enfraquecer o poder do vice. Substituto não é sucessor – disse o relator da proposta na CCJ, senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Marcelo Nova: "mundo só vai consertar o dia que a mulher tomar o poder"

“Hoje tem um monte de… Hoje tem um monte de mulher na platéia.  Legal.
Hoje é o dia… Hoje é o dia internacional da mulher.
E nós queremos aproveitar a oportunidade porque o Camisa de Vênus tem sido acusado de ser uma banda machista, mas não é nada disso. Na verdade, o Camisa de Vênus é a única banda heterossexual do planeta. Né?
E então a gente não podia  deixar de dizer que nós adoramos as mulheres. Sem você, nós não viveríamos em hipótese alguma. Inclusive eu acho que mundo só vai consertar o dia que a mulher tomar o poder, bicho. Tem mais tato, tem mais sensibilidade, tem mais carinho.
Agora que eu já enchi o ego de vocês pode arria as calçolinhas e vamos lá.”
Ao discurso desbocado de  Marcelo Nova seguiu-se a proibida “Silvia”,  relato de um corno recheado de palavrões sobre a sua mulher infiel. O disco ainda trazia outras duas canções com nomes de mulheres e histórias de violência contra elas: o clássico da banda “Eu Não Matei Joana D’Arc”, que recria a história da heroína francesa,  e “Bete Morreu”, relato de um estupro da garota mais popular da escola.
Uma pena que outra música como nome de mulher tenha ficado de fora do registro: “Lena”.
Marcelo Nova, agora sem o Camisa, vem preparando há tempos um disco sobre mulheres. A aguardar.

Minha homenagem pra @dilmabr

Carlos Drummond de Andrade


 E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?
e agora, você ?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José ?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José ?

E agora, José ?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José !

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José !
José, pra onde ?