As recentes manifestações deixaram de “calças na mão” nossa democracia representativa. Aos gritos de “sem partido”, mobilizaram milhares de pessoas, e a sociedade civil organizada flagrou-se confusa.
A Nova República eclodiu a partir de manifestações surgidas com o movimento das Diretas Já, que devolveu à população a possibilidade de escolher e eleger seus representantes. Naquela época de transição do regime militar, a principal característica dos atos públicos era o grande número de lideranças, entidades, artistas e partidos.
Fafá de Belém cantou o Hino Nacional, que nas ruas de hoje é entoado por anônimos. O esporte e o futebol tiveram sua liderança com o “doutor” Sócrates. Os movimentos sindicais emanaram a maior de suas lideranças: Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse tempo, também despontou seu atual aliado: Paulo Maluf.
Sem redes sociais e com apoio velado da imprensa (havia censura), o movimento mobilizou cidadãos em todo o país e, em uma de suas últimas passeatas, cerca de 1,5 milhões de pessoas foram às ruas de São Paulo. Pela lógica, em comparação aos dias atuais, muito ainda está por vir.
Cerca de oito anos depois, o fora Collor. Entidades como UNE (União Nacional de Estudantes) e UBES (União Brasileira de Estudantes Secundaristas) foram alavancas do “impeachment” do atual Senador da República, Fernando Collor de Melo, colega de cadeira e legislatura de José Sarney, Renan Calheiros e do ex-cara-pintada Lindberg Farias, hoje petista.
Alicerçado, então, nosso Estado Democrático de Direito e as eleições gerais, partimos para a disputa partidária pelo poder entre a provável esperança e o medo, a direita versus esquerda, a revanche permanente entre governo e oposição. A cada eleição, alianças partidárias com subsequentes governos de coalizão cooptaram agremiações, lideranças e entidades.
Nessa geleia, os partidos criaram um fosso entre suas políticas e os anseios da população. Falta-nos a participação da sociedade, o debate e interação com grandes temas, falta-nos a democracia direta e a possibilidade de decisão, seja no valor da passagem de ônibus, na destinação de recursos ou em projetos de emenda à constituição.
O Congresso Nacional e o Palácio do Planalto não podem mais ser castelos em que coabitam déspotas de nossa política. A participação popular não deve ser menos igual nas decisões tomadas pelos eleitos. Esse descolamento subtraiu a representatividade dos partidos.
Em contrapartida, a aparente apatia dos cidadãos terminou e até que a corrupção e o locupletamento não façam mais parte da política e da República, o uníssono “sem partido” deve permanecer nas ruas.
O Establishment brasileiro acabou. Eu me represento!
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