Estarrece a declaração do Ministro Joaquim
Barbosa, do Supremo Tribunal Federal – STF, dada a um repórter: “Vá chafurdar
no lixo como você faz sempre”, “palhaço”. Assombra mais ainda a justificativa
distribuída em nota oficial que atribui a afirmação a “cansaço” e “fortes
dores”. Pasma o silêncio que se sucede na imprensa.
Pode o representante máximo de nosso
Judiciário se manifestar de tal maneira autocrática, opondo-se a críticas,
contestando diretamente o papel da imprensa e o trabalho por ela desenvolvido?
Não! Sua função é a de defesa da democracia, do zelo pelas instituições e
direitos constitucionais e da clareza ao aplicar a constituição.
O episódio destaca uma preocupação que
deveria ser senso comum na letárgica opinião pública: a perseguição e tentativa
de tolher a liberdade de expressão e o poder de imprensa, manifesta pelo
partido do governo e em tramitação no Congresso Nacional.
Some-se a isso o repúdio à contestação e o
apego à possibilidade de censura, já beligerante (vide o caso recente praticado
contra a presença da blogueira cubana Yoani Sánchez no país), que configuram
cenário assustador e temerário: o retorno do autoritarismo vivido no regime
militar.
Naquele período, quiçá o maior “lixo” a se
chafurdar tenha sido – ademais das perseguições políticas, guerrilhas e tortura
– a mordaça aos meios de comunicação, o “dicionário da censura”, a imprensa
oficial e o fim da liberdade de expressão, que acabaram por ofuscar e deturpar
a história.
Além desses fatores, existem os exemplos
regionais: com vinte anos no poder na Venezuela, o chavismo do falecido Hugo
cassou licenças de emissoras de TV que criticavam o governo. Na Argentina, no
poder desde 2003, o kirchnerismo de sua presidente propôs uma reforma que
limita a propriedade dos meios de comunicação.
Aqui, seguindo o mesmo rumo dos governos
populistas dos países vizinhos e há dez anos no poder, o governo parece ter
encontrado respaldo no Judiciário. Podem estar ameaçados princípios
constitucionais, a citar: artigos 1º, 5º, que tratam do pluralismo político, da
livre manifestação do pensamento e da expressão da atividade intelectual.
Concluindo: chafurdar é próprio de porcos,
que o fazem em meio à lama, à chafurda, ao chiqueiro onde se espojam. A reação
destemperada exemplificada neste artigo se deu no Conselho Nacional Justiça –
CNJ, quando o repórter questionava seu presidente, o próprio Ministro, sobre
outra afirmação polêmica (a de que juízes têm cultura pró-impunidade) criticada
por associações de magistrados.
Ilações se façam por si só: é este o Poder
Judiciário que almejamos, que desrespeita membros da imprensa e os chama de palhaços
ao esquecer que ambos têm representação na classe política que compõe o
Congresso?
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