Publicado na Edição155 do Jornal do Centro, dezembro de 2010
Aqui no Rio, ninguém! Nem tampouco há soldados super-equipados a cada esquina ou bandidos em tiroteios cinematográficos. Há, sim, a preocupação com a segurança pública, com a corrupção e com as ações envolvendo políticos, como em Porto Alegre ou nas demais capitais.
Tirante o justificado aparato em armas e equipamentos, o BOPE carioca não é diferente do BOE - Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar do RS - ou de qualquer outro grupo especializado. Reage e especializa-se desde sua criação ao tempo em que a cidade e a população exigem, funciona dentro de uma organização hierárquica e obedece a ordens como em qualquer polícia militar no Brasil.
O ainda em cartaz Tropa de Elite 2 traz, mais uma vez, a polícia e suas relações sócio-políticas para a tela, inspirados em ações de combate ao narcotráfico nos morros do Rio de Janeiro. A diferença agora é o envolvimento das personagens principais com milícias, a mídia, a política e, conseqüência, os direitos humanos.
Aliar esses componentes é trazer à tona o papel dos programas de segurança pública, que procuram combater a violência geralmente com mais violência ao incentivar a aplicação da força e o incremento do aparato policial (essa é função da polícia militar, principalmente a especializada, ser ostensiva e forte em seus atos).
Por isso o crime se desloca dos morros aqui no Rio, onde existe o entendimento da participação da sociedade, da ressocialização, da necessidade de programas, de se valorizar o policial e implementar pontos fortes de combate, como a “ordem da choque” (ainda incipiente no RJ) e as UPP´s.
São essas e outras siglas e ações que foram apregoadas na campanha eleitoral como soluções instantâneas para os problemas envolvendo a Segurança Pública. Na prática, pouco as conhecemos além dos discursos dos políticos e sua retórica.
Políticos esses que passam a ser protagonistas da estória (e história) no próximo dia primeiro de janeiro - Em paralelo e claramente trazido ao público pelo filme, somaram dividendos políticos e eleitorais em busca da eleição.
Nesse conjunto não há imparcialidade para a mídia. Os fatos têm cobertura à medida que produzem boas manchetes. Nesse caso, quanto mais sangue, mais corrupção, maior número de policiais e políticos envolvidos, melhor!
Exemplo recente foi o evento ocorrido em Copacabana onde participaram cerca de um milhão de pessoas, e a manchete generalizada é a de um rapaz gay baleado por militares do exército. Um preço baixo, eu diria, para o tamanho do evento.
Não estou, com a frase acima, pregando a violência contra homossexuais, muito menos a ação discriminatória que houve, mas sim questionando as ações midiáticas dadas as proporções e, já banalizando o fato, não foi nada demais!
É assim que percebemos a segurança pública. Ela não nos afeta diretamente enquanto não fizermos parte das manchetes. “Bandido bom é bandido preso!” (ou morto, dependendo da situação e do interlocutor).
Esses também são pontos levantados por um dos protagonistas da estória dirigida por José Padilha. Os direitos humanos servem pra quem? Segundo o filme, para os bandidos e para os políticos de esquerda angariar votos defendendo os direitos da vida alheia. Para a população, não!
Subliminarmente, o contraponto se daria pela direita, que prega a ordem a qualquer preço e tem como um de seus braços a polícia militar. No filme, a atuação de Wagner Moura no combate aos bandidos e aos políticos é aplaudida várias vezes, principalmente quando este espanca um deputado, causando euforia na platéia!
Nem esquerda nem direita, nada disso importa, e o filme é mera ficção. A opinião pública é a que importa. E, no momento, ela quer bandido preso e a sensação de segurança constante.
Quando falamos em segurança pública, são vários os setores da sociedade envolvidos e com interesses distintos e algumas vezes escusos. É preciso ter medo do Capitão Nascimento?