quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sem medo da praça

Publicado na Edição da 56 Feira do Livro - Jornal do Centro

 Para nós, o Centro escreve uma página sobre a nuance de nossas vidas. Há capítulos em cada esquina, versos, prosa, personagens. E, quando a Feira do Livro desce da estante em que a cidade a abriga, abre-nos estórias na Praça da Alfândega.

Bem antes do início da Feira, os estandes começam a se erguerem, rascunham as primeiras linhas que irão tomar conta do coração da cidade. São novos escritores em novos livros. São famosos e anônimos. Mas são sempre muitos leitores que por ali transitam.

Mesmo a noite parece ter novo brilho. Serve pra esconder os romances policiais que ouvimos falar, deixando novos caminhos abertos, iluminando sombras e atraindo aqueles que têm medo do escuro ou que acreditam que o Centro não é um lugar para se passear à noite.

Alunos, principalmente, todas as noites, e não importa a hora, circulam por entre a praça. Se não há medo neles. Por que não há coragem em nós? E se obras literárias ocupam esse espaço, trazem pra nós a bravura de explorar o que lhes é cotidiano.

Quando o dia amanhece, embaixo das árvores florescem bancas com livros que exalam cultura, atraem visitantes de nossa e de outras cidades. São Contos da Carochinha, fadas, ciência, história e política. E nós (abelhas) esquecemos de outro problema, da sujeira de nossas praças.

À tarde, crianças tomam conta dos canteiros, brincam com Quintana e com Drummond, e como se fossem também imortais transbordam os espaços que já ocupam o Cais, cruzam a Mauá, e nem nos apagam o problema do Muro, transpondo barreiras que nem lembramos mais.

E quanto o sol está se pondo, a música começa a tomar conta e dividir espaço com as letras, parece trazer de volta os bons tempos dos coretos. O tempo passa e vai-se o dia, deixando de lado a falta de incentivos e atrativos culturais em outras épocas do ano.

E assim se segue a semana, recheada de atividades. Por quinze dias, o bairro hospeda a todos, deixando de lado problemas que não podem ser esquecidos, mas resolvidos.

Foi-se a eleição, e o prefeito deve honrar com as promessas, o lúdico da feira passa e, como tantos outros eventos de nossa cidade, o valor agregado se vai com o desmontar das bancas. Será que não estamos preparados para melhorar nosso bairro de forma permanente? E ali tão perto, por que a praça da matriz assiste a tudo tão distante?

Sem medo da Praça somos todos patronos, e o Centro espera a todos de livros abertos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Política do Chimarrão

Publicado no Jornal do Comércio de 22/10/08 e Jornal Nacional de Passo Fundo de 21/10/08
Qualquer um de nós, gaúchos, sabe que, para se fazer um bom mate, precisamos, basicamente, de erva-mate e água quente. Mal comparando, nas nossas eleições, parece que passamos por algo semelhante à Política do café-com-leite, a política do chimarrão.

Na República Velha, alicerçados pelo coronelismo e pelo voto de cabresto — grandes latifundiários que indicavam em quem os eleitores, seus “subordinados”, deveriam votar —, alternavam-se no poder São Paulo (café) e Minas (leite), revezando-se no controle da política nacional por um acordo de bastidores. Quadro esse só alterado quando Vargas assume o governo.
Nos dias de hoje, ainda pagamos o preço por essa articulação, que centralizou a economia no sudeste do país em detrimento aos demais estados, como o RS, onde, de maneira mais visível na capital, assistimos à alternância no poder entre PT (água quente) e PMDB (erva-mate).

A água quente petista passou a ferver nossos pleitos e fazer parte do cenário, ativamente, em 1992, com a eleição de Tarso Genro e a derrota de Schirmer em Porto Alegre. Depois, em 94, Antônio Brito (erva-mate) derrota Olívio Dutra. Em 96, o PT vence na capital ainda no primeiro turno, e, à época, o PMDB de Odone não chega a ter grande votação, mas vai ao segundo turno do Governo do Estado (derrotado por apenas 1,5% dos votos).

Em 2000, mais uma votação inexpressiva dos pemedebistas e outra vitória do PT. Apesar desses tropeços e de os partidos nanicos difundirem suas propostas durante o primeiro turno e apoiarem um dos lados no segundo, o governo do Estado e da capital têm repetido a disputa. Atestando o conservadorismo gaúcho durante as eleições.

Não fosse a eleição de Fogaça (eleito pelo PPS e agora de volta ao PMDB), de Yeda (PSDB), do surgimento de Manuela d´Ávila em Porto Alegre (o que não foi suficiente para o crescimento de novas forças no Estado), a rivalidade e alternância seria a mesma, entre o antigo PMDB e o já nem tão inovador PT.

O que vemos, agora, é a perpetuação de nossa história. A esquizofrenia de coligações que ocorrem nos pleitos municipais e a força de partidos como PP e PDT, nesses casos, não são suficientes para projetar um novo quadro para 2010.

O que possivelmente veremos nas próximas eleições é um repeteco do que vivenciamos nas ruas porto-alegrenses. O fenômeno pop Manuela não estará na disputa (ela não possui a idade mínima para concorrer); logo, uma terceira alternativa deve surgir. Mas, invariavelmente, enquanto não mudarmos nossa visão, manter-se-á a política do chimarrão. Sempre com erva-mate e água quente.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Obrigado


Obrigado.
Esta é a palavra que resume a participação de todos em cada passo dado nesta campanha. Um voto, antes de tudo, é uma assinatura de confiança. Foram 258 que subscreveram nossas propostas e trabalho no dia 5 de outubro de 2008. Data que marca o início de uma nova caminhada! A partir de agora, cabeça erguida e sapatos novos para novos rumos. E, como sempre disse: "Vamo que vamo!"

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Turismo, cultura e representatividade

Publicado no Jornal do Centro

"Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam" (Platão)

É muito comum ouvir-se indagações e afirmativas sobre "se ainda tem sentido continuar falando de política como uma atividade importante".

Prova é este momento eleitoral em que vivemos, quando a política, os eleitores e os candidatos devem se propor a renovar o que não está bom. São pessoas que se esmeram em tentar passar a idéia de que nos podem representar.

Este é o principal papel daqueles que buscam cargos eletivos. Muitos destes, no Centro. Onde fachadas cobertas e obras inacabadas escondem a ociosidade de nossa cidade para com o Turismo e a Cultura.

O meio cultural, que até pouco passava incólume às crises de corrupção, foi maculado por mais um escândalo do Governo Yeda. A razão é muito simples: quando elegemos alguém, esta pessoa é responsável por um conjunto de outras mais. Isso continuará ocorrendo enquanto transparência não for a palavra de ordem daqueles que buscam representatividade.

No meio turístico, no intuito de se criar o chamado "trade" de turismo (de maneira simples, agregar valor ao mercado a partir de investimentos municipais na área) o que estaria ocorrendo é a substituição dos políticos e da política pelo mercado e por técnicos (substituição por cima), e pelas redes de solidariedade e organizações não governamentais (substituição por baixo).

Turismo e cultura andam lado a lado, gerando dividendos para a economia privada a partir da "supervisão" dos governos. Isso se dá, na maioria das vezes, pelas chamadas leis de incentivo. Cabe aos representantes da comunidade fiscalizar a execução de recursos captados. No município, este é o papel do vereador, do legislador.

Onde está o poder municipal para garantir que o lucro seja também da população? Quais os investimentos feitos nessas áreas? E a representatividade daqueles que elegemos e que se comprometeram, na eleição passada, em defender propostas e buscar leis que valorizassem o turismo e as nossas formas culturais, o que fizeram? Qual a grande inovação que percebemos em nossas ruas nos últimos anos?

Centros culturais, a adoção de parques, praças e — pasmem — da Orla do Guaíba não agregam valor aos munícipes, são meros casos de publicidade. Algumas de lisura questionável.

Defendo, há tempos, que o Centro tem que servir de modelo para o município, seja na área da cultura, seja no turismo. A maneira que temos de fazer com que isso ocorra é analisar, nestes dias de política que antecedem ao pleito, quem de fato, tem compromisso com a renovação, com a representatividade do bairro!

Sim! Nestes tempos é que temos que afirmar que a política é uma atividade importante!


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Turismo, cultura e representatividade


“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam"  (Platão)

 

            É muito comum ouvir-se indagações e afirmativas sobre “se ainda tem sentido continuar falando de política como uma atividade importante”.

            Prova é este momento eleitoral em que vivemos, quando a política, os eleitores e os candidatos devem se propor a renovar o que não está bom. São pessoas que se esmeram em tentar passar a idéia de que nos podem representar.

            Este é o principal papel daqueles que buscam cargos eletivos. Muitos destes, no Centro. Onde fachadas cobertas e obras inacabadas escondem a ociosidade de nossa cidade para com o Turismo e a Cultura.

            O meio cultural, que até pouco passava incólume às crises de corrupção, foi maculado por mais um escândalo do Governo Yeda. A razão é muito simples: quando elegemos alguém, esta pessoa é responsável por um conjunto de outras mais. Isso continuará ocorrendo enquanto transparência não for a palavra de ordem daqueles que buscam representatividade.

            No meio turístico, no intuito de se criar o chamado “trade” de turismo (de maneira simples, agregar valor ao mercado a partir de investimentos municipais na área) o que estaria ocorrendo é a substituição dos políticos e da política pelo mercado e por técnicos (substituição por cima), e pelas redes de solidariedade e organizações não governamentais (substituição por baixo).

Turismo e cultura andam lado a lado, gerando dividendos para a economia privada a partir da “supervisão” dos governos. Isso se dá, na maioria das vezes, pelas chamadas leis de incentivo. Cabe aos representantes da comunidade fiscalizar a execução de recursos captados. No município, este é o papel do vereador, do legislador.

Onde está o poder municipal para garantir que o lucro seja também da população? Quais os investimentos feitos nessas áreas? E a representatividade daqueles que elegemos e que se comprometeram, na eleição passada, em defender propostas e buscar leis que valorizassem o turismo e as nossas formas culturais, o que fizeram? Qual a grande inovação que percebemos em nossas ruas nos últimos anos?

            Centros culturais, a adoção de parques, praças e — pasmem — da Orla do Guaíba não agregam valor aos munícipes, são meros casos de publicidade. Algumas de lisura questionável.

            Defendo, há tempos, que o Centro tem que servir de modelo para o município, seja na área da cultura, seja no turismo. A maneira que temos de fazer com que isso ocorra é analisar, nestes dias de política que antecedem ao pleito, quem de fato, tem compromisso com a renovação, com a representatividade do bairro!

Sim! Nestes tempos é que temos que afirmar que a política é uma atividade importante!

Planejamento por debaixo da “ponte”


 (Publicado no Jornal de Centro)

Para a história da cidade, o Viaduto Otávio Rocha, que passa sobre a Borges de Medeiros na altura da Duque de Caxias, é um dos marcos mais visíveis no Centro. Foi construído em 1914, tombado em 1988 e reformado em 2001. Desde sua criação, sofre com depredações.

Ali, estão situadas, quase que desapercebidas pelos transeuntes e pela pressa do nosso dia-a-dia, 36 lojas com produtos que vão desde artigos religiosos a barbearia e venda de discos vinil. O que não foge aos olhos de quem passa é a deterioração do local, tanto nas escadarias quanto nos arcos da Borges com suas paredes pichadas.

Os banheiros que ali existiam, bem como as escadarias centrais que interligam Duque e Borges e que são desconhecidas da população, foram fechados pela prefeitura. Dia e noite, usuários de drogas e desabrigados freqüentam ou se “hospedam” pelos degraus.

Mas, depois da reforma até hoje, onde estava a prefeitura para garantir os cerca de 1 milhão de reais de investimento? Quando se reforma, não se pensa em manutenção? Por que as sugestões dos comerciantes com relação à segurança não foram atendidas? Por que as pichações e infiltrações continuam?

Agora, servindo de mais um exemplo de obra de ano eleitoral, como ocorre com a construção do camelódromo (prometido para maio) e o asfaltamento das ruas mais visíveis, algumas reivindicações estão em estudo. Para o problema das pichações, por exemplo, a terceirização dos problemas se deu pelo disque-pichação da Guarda Municipal. Ou seja, a prefeitura exime-se de manter o patrulhamento e transfere a fiscalização para o cidadão, trabalhando exclusivamente sob demanda.

Para a segurança, oito câmeras de monitoramento foram prometidas para serem instaladas. Já é um começo, mas ainda não é o suficiente e promessas têm que ser concretizadas. Quando isso acontecer, pode evitar furtos de cabos e luminárias e talvez alguns atos de vandalismo que ali ocorrem. Mas resolve o problema dos desabrigados que usam o local como moradia? Ou será apenas um “Big Brother” para a prefeitura?

Ora, quando fazemos, nós, qualquer tipo de investimento, sempre nos preocupamos em como iremos mantê-lo depois, é assim com carro, casa e nossos bens particulares. Se isso nos parece tão óbvio por que o poder público não o faz?

O Executivo deve pensar suas soluções para a cidade e para o Centro de maneira planejada para que qualquer recurso público seja bem aproveitado. Nosso bairro, deve servir de modelo como solução para os demais!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Realidade virtual em obras

Assusta-me um pouco a quantidade de publicidade que a prefeitura de Porto Alegre tem despejado em nossos meios de comunicação, principalmente através da televisão. É estratégia rotineira de quem ocupa o Executivo deixar a pirotecnia de mídia para o ano de eleição.

Muito já se evoluiu com relação à propaganda dos próprios feitos por nossos políticos. Antigamente, as obras eram assinadas em nome pessoal, com logotipia própria daqueles que usufruíam de mandado. Coisa do tipo “Foi o Maluf (hic!) que fez” tinha o aval dos legisladores. Hoje, faz-se divulgação através da entidade, ou seja, da prefeitura, do governo do Estado, ou da Câmara de Vereadores, de acordo com o caso e circunscrição eleitoral.

A política privilegia a esses que usam a máquina pública (a estrutura de pessoal, de escritório e financeira, principalmente) para alardear investimentos nem sempre factíveis ou existentes. Na nossa capital, a mais recente peça publicitária trata de se vangloriar do Programa Socioambiental (futura rede de esgoto sanitário), do Programa Portais da Cidade (futuro sistemas de integração nas linhas de ônibus). Todas obras do futuro! Nada que se veja de fato em nosso dia-a-dia.

Estranhamente, e alguém me corrigia caso me engane, não vejo anúncios da “solução tapa-furo” que é o camelódromo (Centro Popular de Compras). Mas, de real, cheguei a presenciar manchetes sobre sua execução e entrega em maio e, com certeza, longe da conclusão, dado os andamentos das obras. Estamos em junho. Fato semelhante com anúncios da ligação da Borges com Mauá, que deve alterar o fluxo de veículos no entorno do Mercado Público. Em cada marco de obra que talvez um dia possamos ter, uma placa! Mais estranho ainda é o fato de a SMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre) ter programa para reduzir a poluição visual.

Não sou contrário a divulgar o que é feito, desde que isso realmente exista, o que não tem sido o caso ultimamente. Primeiro, é necessário que se possua mais que a “pedra fundamental” para qualquer ação, obra ou programa para divulgá-la aos quatro ventos. Contudo, se há verba para publicidade, por que não a usam para manter em dia o Art. 37 da Constituição: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” Será por que publicidade e eficiência devem andar juntas?

Ano eleitoral é isso. Os políticos e seus marqueteiros esquecem-se que, quando se fala em publicidade de governos tem mais a ver com transparência que com propaganda. É lastimável que essa falta de memória se dê em dias tão tortuosos, onde a ética tem se tornado uma lembrança e a corrupção uma constante.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Crise ético-política em ano eleitoral

Neste espaço, tenho me referido continuamente a esse assunto, pois incluo-me entre os cidadãos que estão desesperançados com a indiferença e a não indignação social ante o conjunto de irregularidades cometidas por políticos nos últimos anos.

Quanto ao cego comportamento coletivo, convém lembrar que a história é farta nas demonstrações dos erros decorrentes na indevida proteção dos governantes flagrados em delito, em detrimento da hierarquia dos valores permanentes de uma nação.

Do mesmo modo, importa denunciar a idolatria. Líder nenhum é fiel e exclusivo depositário das lutas de um povo, de suas esperanças e desejos político-sociais.

Independentemente de nossas opções/opiniões políticas, ideológicas e partidárias - e mesmo que não tenhamos nenhuma, não podemos prescindir da crença num sistema de valores nacionais, regras constitucionais, dispositivos legais, conceitos éticos, entre outros de igual importância.

Estes valores são frutos do esforço coletivo, sofrimento e resignação, às vezes de várias gerações. Não podem ser contaminados pela fraqueza, incompetência e desonestidade de indivíduos que não estão, ou não estiveram, à altura de determinado cargo e/ou momento histórico da nação.

Quanto à militância e fidelidade partidária, o engajamento no processo eleitoral, enfim, a opção por um companheiro/candidato, não pode constituir-se em compromisso inalterável, uma vez confrontado com fatos graves e ilegais, imorais e anti-éticos, relevantes à nação.

Descontados os equívocos de nossas opções partidárias, que merecem revisão e repactuação, a exemplo dos - por nós atribuídos - defeitos de outras ideologias, aliás, todas em constante processo de mutação e transformação, não tolero a idéia, nem me conformo, em permitir que destruam o patrimônio de luta, resistência e esperança de várias gerações. Somos muito jovens no exercício da democracia.

Em verdade, neste vai-vem da política, aprendemos a sentir o amargo sabor da verdade e da realidade. À medida que a utopia e a paixão dão lugar à compreensão acerca das fraquezas humanas e das vocações autoritárias dos grupelhos políticos, aprendemos a valorizar os instrumentos básicos de um Estado Democrático de Direito.

A aprender, também, é que na política, como no amor, por conta de nossa idealização, demoramos para ver os defeitos de nosso objeto amoroso.

Todavia, mantenhamos as esperanças. Com certeza, haveremos de encontrar e construir as soluções para nossa tragédia e seus impasses. A história ensina que cada geração tem uma experiência inédita. Não há repetição. Cada retrato da sociedade é próprio de sua época.

Não nos esqueçamos, pois, que este é um ano eleitoral e devemos estar atentos à renovação, à "limpeza" eleitoral daqueles que não corresponderam às nossas expectativas ou que deixaram a hombridade somente no discurso.
Colaborou: Ástor Wartchow

terça-feira, 29 de abril de 2008

A casa caiu

Publicado no Jornal do Centro (PoA) Edição 122 - Maio de 2008
Comemorar os quinze meses de mandato só se justifica pela necessidade de aparecer. Nesse meio, isso se chama marketing político. É a única explicação para usar pirotecnia publicitária para lançar fumaça sobre os problemas que rondam as paredes do Piratini. A começar pelo DETRAN e sua CPI.

Não fosse a sorte, principalmente no setor produtivo, que gerou dividendos e avalizou o tão aclamado empréstimo ao BIRD, o bode do caixa quebrado ainda estaria na sala, ampliando a desordem da casa. Sem dinheiro, não se faz. Com dinheiro, ao que tudo indica, se corrompe.

Sem medidas práticas ou eficientes na administração e com integrantes do governo associados aos problemas de malversação do dinheiro público, é difícil acreditar em um "novo jeito de governar". Nada de prático no combate à corrupção tem sido visto por parte de Yeda. Sem outra opção, catapultar secretários para fora da hoste governista tem sido o único método utilizado. Do contrário, a credibilidade e a sustentação do Governo jaziam no palácio.

Prova disso é a troca de Záchia para a SEDAI, visivelmente distanciado da Governadora. Mais recentemente, o pedido de demissão (sugerido?) de Ariosto Culau, secretário do planejamento. Na fila estão Delson Martini, secretário-geral de goveno, e José Francisco Mallman, fiel oriundo da Polícia Federal, responsável pela Operação Rodin – origem da CPI do lamacento DETRAN.

Mas a ciranda de secretários e diretores de autarquias não é suficiente para assegurar apoio (já questionado pela base) ao governo estadual, desgastado desde o final de 2007 com malogro na tentativa de aumentar o ICMS. Também há o descumprimento de promessas de camapanha. O governo vai mal, instável e sem respaldo. O Estado corre perigo!

Não é só isso: o TCE (Tribunal de Contas do Estado) investiga as denúncias de Feijó — o vice intrigante —, com relação ao Banrisul. Foram apontadas irregularidades como dispensa indevida de licitação, subcontratações e evasão de tributos. Esse filme já assistimos em lição ministrada pelos comparsas do DETRAN. Lá, o rombo pode girar em torno de R$ 40 mi; no Banrisil, R$ 100 mi. E ainda tem a casa da própria governadora.

Motivados pela corrupção que assolava o governo, a mídia e a mobilização da oposição (que ainda se mantém rancorosa no RS) derrubaram o ex-presidente Fernando Collor, que sofreu o impeachment (cassação do mandato). Os gaúchos nunca presenciaram tempos tão evidentes de mau agouro.

À época de Collor, não tínhamos ainda as facilidades que a tecnologia e os "podcasters" (com suas fotos e vídeos) têm de nos manter informados através da internet. Hoje, nem um chopp passa desapercebido.

Precisamos ficar atentos às próximas manchetes!

terça-feira, 15 de abril de 2008

Lula terceiro

Popularidade. Esse é o princípio. Tornar possível uma nova reeleição do presidente Lula não está, necessariamente, nos anseios dele.

Já aqueles que se abarrotam no usufruto do poder ao redor do messias transformam cogitação em exeqüibilidade.

Mal praticamos nossa democracia soberanamente, Fernando Henrique e Lula são os primeiros presidentes que permaneceram eleitos diretamente, e somos assombrados pela sede de permanência no poder.

Mesmo que o presidente afirme que não, os atuais governistas sinalizam um possível terceiro mandato. Por quê? Pelo respaldo gerado pelo índice de 58% de aprovação dado ao companheiro.

O que mais? Para a população, segundo o Latinobarômetro (http://www.latinobarometro.org/), "apenas 30% dos brasileiros declararam-se satisfeitos com a democracia e tão somente 43% apoiaram esse regime político". Nossa democracia tem a solidez de um castelo de cartas!

São esses índices que fazem crer que, se há possibilidade do exercício de sufrágio universal, isto basta para aqueles que o exercem, independente da alternância ou permanência no poder. Entendem o voto como suficiente para o seu democratismo.

Contudo, não é apenas a eleição de um representante central que garante a democracia. Há ainda Legislativo e Judiciário, poderes que se inter-relacionam com o Estado e o Executivo, baseados na Constituição. Essa que, no Brasil, só foi estabelecida de fato há apenas vinte anos, com a Assembléia Constituinte. É o Estado democrático de direito que pode estar em discussão!

Entretanto, neste nosso modelo de democracia representativa (nós elegemos quem decida sobre nossos anseios de Estado), há espaço para que os eleitos — e o grupo que está no poder — forçem o continuísmo, através de brechas que permitem a modificação da Constituição. Este é o perigo, reescrevê-la ao bel prazer de quem está no poder.

A oportunidade (além das que tramitam no Congresso) está no próximo pleito. Em conjunto com as eleições municipais, poder-se-ia incluir uma consulta direta à população. Nessa hipótese, o plebiscito (supostamente numa relação instantânea com a atual popularidade do presidente) garantiria um terceiro mandato.

A vitória do sim não só respaldaria os defensores da idéia, como abonaria reeleições infinitas. Isso estendível aos demais cargos majoritários. Ou seja, governadores e prefeitos também poderiam se tornar donos de prefeituras, estados e cidades. Absurdo!

Com isso, a alternância no poder estaria soterrada. Mais que a garantia de continuar obras e projetos de "relevância" para a população, o desejo (e o exercício) de um mandato infinitamente tende a impedir que novas opiniões surjam, através de novos líderes ou da manifestação de novas idéias e conceitos.

É imperativo que nos manifestemos! Sarney esticou seu mandato, Fernando Henrique inventou a reeleição, Lula, mesmo afirmando que não, anseia por mais um mandato. A comparação pode ser distante, mas alguém esqueceu que Hitler foi eleito?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Isabella e o show da morte

É renitente. Toda vez que algum crime violento ocorre no país, nossa sede vampiresca vem à tona. Somos tomados pela necessidade de acompanhar cada fato, cada pista ou pingo de sangue que possa levar à solução do caso. Teorizamos.

Enquanto isso, na periferia, nas classes menos assistidas (auxiliadas e vistas), casos de violência são diários. Desta vez, como já aconteceu anteriormente, é a classe média que atiça a curiosidade da mídia, locupletada por índices de Ibope e pela rivalidade de emissoras.

Para gerar audiência, não é necessário ser famoso. Também não é preciso cair de avião, como os Mamonas, ou comover a nação, como foi com a morte do Senna. Em 2007, as câmeras se voltararam, com extensa cobertura, para o ocorrido em uma escavação no metrô de São Paulo. Sete vítimas anônimas.

Em todos os acidentes, violência, morte e a devoção do público ao caráter de novela que o noticiário empresta ao tema. No caso do metrô, a atenção só foi dada porque era uma obra pública, envolvendo gastos de políticos e empreiteiras em um bairro de classe média. Em qualquer dos casos, a curiosidade mórbida!

Desde o final de março, a imprensa dá cobertura ao caso da menina Isabella, que possivelmente foi arremessada pela janela de casa após ter sido agredida (já não vem ao caso por quem, mas quanto se pode gerar em números). Nosso sadismo, em meio a suspiros, alimenta a cobertura do incidente.

Com essa audiência, a mídia mostra muitas lágrimas. Túrgidos, regozijamo-nos com a tristeza, somos capazes de ter pesar pela situação da qual nos aproximamos através da televisão. Usurpação do sentimento de dor daqueles que estão envolvidos.

Com isso, afirmamos que, se é verdade que uma imagem vale mais que mil palavras, quando houver lágrimas, esta verdade vale ainda mais. Tudo, hoje, é televisionado, não importa o meio, há tecnologia suficiente. Imagem é tudo!

Na última teça (08), quiçá motivada pela cobertura da mídia, pelas manchetes, pelas correntes da Internet, um bebê de oito dias foi “deixado cair” pela mãe. A criança despencou de uma altura de cerca de dois metros e sofreu ferimentos leves. Provavelmente, não veremos mais notícias sobre o fato. Não houve nem morte nem sangue. Para piorar, a mãe é pobre.

Por óbvio, não é a imprensa, a mídia em geral ou a televisão que devem ser responsabilizadas pelas atitudes criminais e impensadas que alguém possa ter cometido. Porém, a morbidez pública presta-se a motivar a busca da audiência pela audiência.

Por fim, mea culpa (nossa), pelo desejo do mórbido, do sangue, da violência — desde que distante. Entretanto, não seria, então, a hora da mídia mudar de atitude, com maior cometimento quando desses acontecimentos, e assim influenciar a atitude da população? Não é a hora de rever o conceito de audiência?

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Os fora-collor e a corrupção do Sr. Reitor

A política nasce na escola. Na sala de aula, temos um representante. No grêmio estudantil, mais um. Nós gaúchos somos agregados pela União Gaúcha de Estudantes, UGES. Quando chegamos à universidade, são os diretórios acadêmicos e o diretório central de estudantes — DA´s e DCE.

Nacionalmente, a União Nacional dos Estudantes (UNE) defende os interesses estudantis desde 1937. Tendo grande influência na política brasileira, participou de movimentos contra a ditadura, pelas eleições diretas e pelo fora Collor, entre outros.

Contrária ao vácuo que ocorre na passagem pelos cursinhos pré-vestibular, a representatividade dos que estudam está garantida desde o ingresso no ensino fundamental, aparentemente. O impeachement (cassação do mandato) que minha geração presenciou foi motivado por estudantes.

À época, a inconformidade com a corrupção que assolava o governo de Fernando Collor motivou a cobertura da mídia e a mobilização dos estudantes. Em 92, ocorreram passeatas com a participação de mais de quinhentas mil pessoas.

Recentemente, estudantes gaúchos invadiram a reitoria da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS). Entre as reivindicações, a de questionar a ausência de investimentos na entidade. Na Pontifícia Universidade Católica (PUC) e Universidade do Rio Grande do Sul (UFRGS), manifestações e reivindicações estudantis são rotineiras.

É comum, pois, a demonstração de qualquer inconformidade por parte dos estudantes, seja aqui no Estado, seja no âmbito nacional. É o que ocorre com a não resignação dos estudantes que ocupam o prédio da reitoria da Universidade de Brasília (UNB).

Eles exigem a renúncia do reitor Timothy Mulholand, que é acusado de desviar dinheiro da instituição destinado à pesquisa científica para comprar mobílias para seu apartamento funcional. Mais uma vez, a possibilidade de corrupção é a causa da revolta.

Vergonhosamente, alguns os consideram meros invasores inconseqüentes. Mas são eles os únicos a bradar contra o possível desvio do dinheiro público, enquanto nós, "BBB´s", assistíamos a mais um provável caso de impunidade de um corrupto.

O idealismo estudantil que estes possuem, tanto para influenciar decisões políticas quanto para alertar-nos contra o comodismo não podem ser desvalorizados. A história da qual fizemos parte como estudantes reafirma esta posição.

Se há corrupção, que ela não inicie em nossas salas de aula. Que não vire escola! Que não se pós-gradue e, muito menos, seja tratada com banalidade. Já são bastantes os casos que maculam a nossa política.

Todavia, os temas que não são de interesse direto dos estudantes são banalizados. Os movimentos estudantis são partidarizados e a participação serve, muitas vezes, unicamente a um partido. Onde estão os "fora-collor"?


segunda-feira, 7 de abril de 2008

CPI e gerundismo dos poderes

"O que se quer desta CPI"? Foi o que declarou um dos deputados que integram a CPI do DETRAN, ontem, minutos antes de se iniciar mais uma sessão que procura investigar possíveis fraudes lá ocorridas. Estão investigando.

Enquanto isso, o Ministério Público está ajustando. Começou com o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), que nada mais é que um "acordo de futuro bom comportamento" imposto pelo MP aos deputados em conseqüência aos desarranjos gerais e peripécias do Macalão na administração de recursos da casa.

Os deputados estão se perdendo. Esquecem-se de que a apuração dos fatos é mais importante que a troca de acusações entre oposição e governo.

Descuidam-se de que estão imbuídos de poderes de investigação judicial e que devem, ao cabo dos trabalhos, "estar encaminhando" suas conclusões ao MP.

O Judiciário está interferindo. Claro que é direito de cada depoente resguardar-se e não se auto-incriminar. Para isso, uma chuva de liminares e habeas corpus tem garantido o silêncio nas oitivas.

Contudo, seria mesmo necessário estar fechando as sessões?

A Polícia Federal está colaborando. Mesmo sem ter acesso a todo o inquérito da Operação Rodin, que desencadeou a CPI, os deputados contarão com o apoio dos delegados que participaram da investigação, assim que forem solicitados.

A imprensa está se manifestando. Dia de CPI é dia de novidade junto à imprensa, que, rotineiramente, tem subsidiado a atividade e as ações dos deputados. Tem acesso a informações e, por muitas vezes, antecipa as ações no Legislativo.

O Executivo está assistindo. A governadora, que chegou a afirmar que "o Piratini é o alvo da oposição na CPI", teme que a investigação bata à sua porta, pelo envolvimento de alguns membros da família Ferst com as sistemistas, uma vez que Lair Ferst era peça-chave em sua campanha.

A população está aguardando. Mais que qualquer interferência entre os poderes, é preciso dar uma satisfação aos contribuintes que arcam com as somas que são desviadas. Somos nós que nos indignamos a cada novo escândalo de corrupção no Estado.

Mas quem está legislando? As crianças. Foram elas que trataram de legislar nesta segunda-feira (08), enquanto os deputados tratavam de se perguntar. "O que se quer desta CPI"?

Gerundismo! É disso que se quer desta CPI — não só aqui, mas em quase todas as que vemos aparecer a cada dia — estar na mídia, estar aparecendo. Manter o tempo de conjugação sem que este nunca acabe. É um pouco mais que o infinitivo.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Só eles não sabem

"Todo mundo por aqui sabe, só a polícia não!" Esse é um comentário rotineiro da população nas pequenas cidades, ou nos bairros das grandes cidades, onde as pessoas se conhecem.

Um lugar comum que se refere às bocas de fumo, bancas de jogo do bicho, desmanche de automóveis, prostituição de menores, bingos clandestinos, rinhas de galo, pegas de carros.

Enfim, toda a sorte de contravenções e crimes com os quais as comunidades convivem e que são de domínio público, mas que a autoridade pública, estranhamente, não parece perceber.

Ao serem investigados pela imprensa, ou quando vêm a público por algum interesse contrariado ou disputa de poder, esses fatos e acontecimentos evidenciam um grau de participação dos atores envolvidos, que vai desde o temor dos moradores, passando por eventuais "vantagens" de envolvidos e que pode chegar ao comprometimento da polícia por acomodação, omissão ou participação.

Falha o sistema. Omite-se o Estado. A sociedade não reage! Logo, só uma mudança de filosofia e de modelo apontarão as soluções. Enquanto isto, parece existir um consentimento tácito para que as coisas sejam dessa forma, um certo convívio com tais distorções.

Aumentam a população e a criminalidade. O efetivo policial é o mesmo há quarenta anos. Os agentes são mal remunerados, desequipados e não se lhes proporciona treinamento e qualificação adequada.

Assim, ponderam, com razão, os que desculpam ou sublimam as deficiências da segurança pública.

Entrementes, por mais amordaçados que estejamos, é difícil calar frente ao episódio da liberação do adolescente criminoso de Novo Hamburgo. Libertado, mesmo tendo confessado vários crimes de assassinato!

Esse fato por si só representa uma situação grave e injustificável. Agora, as declarações das cúpulas policiais, tentando debitar a falha cometida ao tecnicismo, à burocracia, ao legalismo (que existem), sobrepassam o limite do suportável.

Estarrecidos, percebemos a falta de capacidade de indignação e de reação das autoridades. Erro grave não ter procurado a forma possível para manter o infrator confesso sob tutela do Estado.
Também, erro grave o descaso com a não determinação de imediata e rigorosa investigação do fato, o que levaria, inevitavelmente, à comprovação da confissão e confirmação de outras evidências.

Bem, admita-se erros e, inclusive, o desejo de respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas, a reação corporativista em explicar, justificar o injustificável, na forma em que tem sido feita, procurando afastar responsabilidades, imputando à legislação a culpa do ato inapropriado, motiva a indignação da sociedade.

Assim, nessas circunstâncias o Estado inspira mais receios e incertezas que a necessária sensação de proteção. Corrigir e aperfeiçoar os seus procedimentos é um imperativo!
(Com a colaboração do Dr. Beto Grill)

terça-feira, 25 de março de 2008

Porto de Quintana

Publicado na edição 121 do Jornal do Centro - Abril 2008
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...”

(Mário Quintana)

Como Quintana, sou um daqueles que nasceu no interior, mas que era porto-alegrense desde sempre. Também existe em mim um olhar sobre a cidade, onde “há tanta esquina esquisita,tanta nuança de paredes”.

Como caminhar pela Rua da Praia, que é tão mais tranqüila quando sai do Gasômetro e cruza por nós atravessando a Alfândega, alardeando nossos anseios de democracia na esquina com a Borges, sem perceber o caminho da história para chegar até o agora?

E no meio da multidão que compõe o quebra-cabeça desses que falam “di”, o que esperar da babel que nos leva e traz, sai do Mercado Público e contorna os mapas do mundo daqui: Açorianos, Argentina, Monte Vidéu e mesmo Porto Alegre até a nossa Redenção própria em meio às praças?

Quem são os moradores e visitantes, turistas, filhos adotivos da cidade do Porto dos Casais, dos amantes e do gaúcho que assiste ao pôr ou nascer do sol?

E o caleidoscópio que forma o corpo de quem mora aqui, será apenas reflexo nos braços do Guaíba?

Quando vim, o tamanho da cidade me assombrava, suas cores me assustavam, e o escuro da noite só era acalentado pelo bate-papo na rua da República, por essa vida cultural em cada sombra, pelo novo mundo dado a quem chegara já se sentindo em casa, como se à mesa da sala estivesse.

Depois, como tantos outros daqueles que “vendorô” e “compro-vale-vendo-vale”, a oportunidade aos que aqui estão. Somos todos desbravadores de um trabalho formal, de um minuto de certeza entre o primeiro e o último tri-legal. Bem-aventurados nós mesmos, ambulando pelas trajetos da cidade, do Paço ao Largo, do início ao Bom Fim.

E nestes dias de festa, uma semana, é preciso ter um pouco mais de romance ao olhar a capital. Encontrar o belo no envelhecer dos prédios que tombaram, das folhas que caíram e nas crianças que prospectam futuro nos balanços da praça da Matriz. E na esperança daqueles que oram. Ali, no meio de tantos poderes, o singelo poder de estar.

Porto Alegre estende sua mão, derruba seus muros e, no gentílico de porto-alegrense, oferece seus braços para acalmar o pesar daqueles que não são daqui. E que todos possam ter a sorte que tive, à luz que cidade me deu, de filho adotivo da capital, de pai deu um menino aqui nascido.

Somos porto-alegrenses, seja pela opção que fizemos, pelo coração da capital de portas abertas, e acreditamos sempre que, se há um lugar para se morar, é aqui, da beira do Cais ao alto do morro, do nível do rio ao Santa Tereza.

Doce ancoradouro de um alegre porto!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Política e Conferência das Cidades

Publicado no Jornal do Centro de 05 a 20 de março
O Forum Social Mundial deixou nossa cidade e se perdeu pelo mundo. Para trás, ficaram marcados os posicionamentos da dita esquerda, dando visibilidade para a capital como referência no campo das idéias. Consequência direta, Porto Alegre foi escolhida para realização da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades.

Em fevereiro, passaram por aqui mais de trinta instituições, trezentos especialistas e cinco mil parciticipantes, nacionais e internacionais. Como ocorreu com o FSM, nesses dias, o incremento da economia e do turismo durante a realização do evento foi um dos principais destaques para os porto-alegrenses. Entretanto, não é este o principal legado da Conferência.

Foram debatidos temas que envolvem diretamente o cidadão em sua acepção, como habitante da cidade – esta que passa por crescimento e adequação. Nesse sentido, sustentabilidade e capital social foram abordados através da troca de experiênias, de soluções e projetos inovadores, envolvendo munícipes na definição de ações no cotidiano das metrópoles e das pequenas cidades.
Esse é o grande questionamento que nos cabe: qual o nosso papel em relação a nossa cidade, a nossa comunidade, ao nosso bairro? Somos nós que temos a vivência com os problemas e possíveis soluções, que, em nosso convívio, nos relacionamos com as demais redes de pessoas e com o poder público. Esse foi um dos principais motes abordados pela conferência: o capital social.

É essa inteligência coletiva dos moradores que é disperdiçada e que foi chamada de “nova cidadania”, engajando e dando responsabilidade ao cidadão . Por conseguinte, as ações dos agente políticos e públicos, muitas vezes, acabam por ignorar a visão de montanha dos moradores, agindo diretamente na planície. Metáforas à parte, temos visto nossa cidade mudar, sem saber quais os planos para o futuro, quais projetos nos aguardam e quais as consequências no nosso dia-a-dia.

São novos tempos, cujos temas trazidos nos parecem distantes, como integração nas democracias representativas e “cidades-rede”, defendidas pelos particibantes. Por outro lado, assuntos sobrevêm pela proximidade, como inclusão digital do bairro, construção da segurança local e redução da miséria, tão comuns em ano de promessas.

Mais uma vez, Porto Alegre se estabelece como referência na contrução de idéias, mais que da aplicação de recursos. Esperemos que nossos governantes deixem de lado a estiagem na criatividade política e que passem à prática do aproveitamento das idéias de seus eleitores.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A soberania das Farc *

Publicado no Jornal do Comércio de 31/03/08
"A morte me parece uma opção doce."

A citação é de Ingrid Betancourt, que é mantida em cativeiro pelas Farc, e serve para ilustrar a angústia por que passam as pessoas mantidas em cativeiro pela guerrilha. Enquanto estes penan, os governantes brincam de todo poderosos.

Com economia de adjetivos, ainda assim é de pasmar a vocação latino americana de pobres países terceiro-mundistas face a cogitada aventura bélica por "invasão e violação de fronteiras".
Todos estão errados. Primeiramente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), por seu financiamento ligado ao narcotráfico e ao seqüestro.

Também, a Colômbia, por ter invadido território do Equador, ainda que com o justificado ataque às bases guerrilheiras.

E o Equador que se negara (até quarta) a aceitar o pedido de desculpas feito por aquele país na OEA - Organização de Estados Americanos.

Porém, mais culpado é a Venezuela, mais precisamente seu presidente, que de maneira oportunista vale-se do episódio para "armar" uma guerra. Mas contra os Estados Unidos!

Neste mesmo dia, dando início a sua escalada militar (sem precedentes desde as Malvinas), o senhor da guerra na América Latina, Hugo Chavez, deslocou tropas para a fronteira.

Justifica seu ato a pretexto de combate da expansão do império norte-americano. Entretanto, quase que imediatamente, o absurdo chavista é legitimado pela fala de George "War" Bush, que declarara apoio a Colômbia. Ao passo em que, na quinta (06), o presidente francês barganha a clasificação de terroristas das Farc pela libertação de Betancourt.

Esse absurdo não é o único. O que faziam os guerrilheiros em terras do Equador? Não combatem o governo da Colômbia? Acaso as FARC têm livre acesso territorial vizinho? Indagação necessária: estarão presentes no Brasil?

E mais: por que as organizações internacionais não se manifestaram em defesa da paz enquanto os chanceleres dos paises trocam acusações?

Concomitantemente, no Brasil, que deveria ser um expoente de democracia e defesa da paz, do diálogo continental, o presidente lulinha paz e amor espera pela investigação a ser feita pela OEA.
Titubeou! Era o momento da defesa da paz, e não de insinuações menores e da defesa de teorias ideológicas e de novos inimigos.
(* variante sobre o artigo anterior, de 06/03/08)

quinta-feira, 6 de março de 2008

A soberania das Farc

Estupefato. Atônito. Pasmo e, principalmente, assombrado. Sinônimos para estampar a preocupação que não só eu, mas que todos, absolutamente, devemos ter com nossos países terceiro-mundistas aventando a possibilidade de uma guerra na América Latina.

Todos estão errados. Primeiramente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), por seu financiamento ligado ao narcotráfico e ao seqüestro. Depois, a Colômbia, por ter invadido o Equador, que se negou a aceitar o pedido de desculpas feito por aquele país na OEA - Organização de Estados Americanos. Mais que todos, a Venezuela, que, de maneira oportunista, vale-se do episódio para se armar para uma guerra, não contra os paises envolvidos, mas contra os Estados Unidos.

Nesta tarde de quarta-feira (5), dando início a sua escalada militar (sem precedentes desde as Malvinas), ao seu anseio de se tornar o senhor da guerra da América Latina, Hugo Chavez deslocou tropas para a fronteira. Justificando o ato pelo combate à expansão do império norte-americano, a Venezuela mobiliza suas tropas. Absurdo completo, referendado pela afirmação de George “War” Bush, que declarou apoio a Colômbia. Só não disse quem são os terroristas pelo seu ponto de vista, se os integrantes da guerrilha, ou os venezuelanos.

Esse absurdo não é o único, ou será que ninguém percebeu que os guerrilheiros mortos estavam no Equador, e não na Colômbia? Acaso as FARC têm livre acesso entre os paises? Podem elas ter “postos avançados” nos países vizinhos? Estão presentes no Brasil? Este é o questionamento imediato: a soberania, que, até o momento, é exercida apenas pelos guerrilheiros. E mais, por que as organizações internacionais não se manifestaram em defesa da paz enquanto os chanceleres dos paises trocam acusações?

No Brasil, quando deveria ser um expoente de democracia e um líder em defesa da paz, das soluções pelo diálogo, o presidente paz e amor espera pela investigação a ser feita pela OEA. Não seria o caso de fazer como o presidente Raul Correa, que busca apoio no Peru, Brasil, Venezuela, Panamá e República Dominicana através de visitas com os líderes destes países? Este é o momento da defesa da paz, e não da defesa de teorias ideológicas ou de novos inimigos.

É lamentável que assistamos a essa cena. É preocupante constatar que mais mortes possam vir a acontecer. Parece que as causadas pela falta de segurança pública, de saúde, pela miséria, e pelo trânsito — que tem matado mais que as guerras — não são suficientes. È preciso que evitemos qualquer tipo de conflito armado, ai sim, a qualquer custo, mas pela diplomacia e pelo diálogo.

sábado, 1 de março de 2008

debates@zerohora.com.br

Publicado em Zero Hora 02/02/08

Qual a sua opinião sobre as ações impetradas na Justiça contra o sistema da cotas da UFRGS?

· O acesso ao Ensino Superior deve ser feito com justiça responsável, e não com o pagamento de dívidas históricas ou com o assistencialismo barato de benefícios que servem apenas àqueles que assistem ao nascimento de mais uma forma de discriminação, a segregação social.

Clei Moraes


· Qualquer sistema de cotas, seja por raça ou tipo de escola freqüentada, é atrasado e injusto. Isso tem de acabar. Provoca mais discriminação, fomenta o ódio racial, e não ajuda a ninguém. É populismo burro. Tentativa de enganar os bobos.

· Lya Luft
Escritora - Porto Alegre

Vale a pena ver de novo?

Publicado em Zero Hora de 31/01/08

Consenso. Esta é a palavra que falta quando governos decidem passar à população a idéia de que as coisas vão bem. Não é verdade! Aos anúncios de boas novas, falta outra palavra nesta novela: diálogo.

Foi o que ocorreu agora quando, instigados pelo painel RBS na última segunda-feira (28), os gaúchos de lá (governo federal), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Justiça), ambos petistas, e o senador Pedro Simon (PMDB) propuseram a criação de uma "agenda positiva" como solução para a crise que atormenta o Estado. Esqueceram de combinar com os gaúchos daqui (governo estadual). O resultado, mais um verbete: discórdia.

A proposta não é nenhum "Ovo de Colombo". No passado muito próximo, para aqueles que não se lembram, houve o Pacto pelo Rio Grande, que englobava desde entidades privadas ao Tribunal de Contas, passando – claro – pelos partidos, por entidades de trabalhadores, municípios, meios de comunicação. Como base também tinha sua agenda e o comprometimento daqueles que o subscreveram.

No site da Assembléia ainda podemos constatar uma enquete que aponta o "O compromisso do futuro Governador eleito com as sugestões do Pacto" como principal fator para que este pudesse dar certo. No mesmo endereço, também está a esquecida agenda mínima e um formulário que oportuniza sugestões. Seria o caso de sugerir o seu cumprimento?

No Legislativo, com a posse do novo presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Alceu Moreira (PMDB), mais novidades. Por lá, a palavra convergência vai pautar as ações da nova Mesa diretora da AL. Como ele mesmo disse ao responder sobre como nasceu o programa Sociedade Convergente: "Nunca se pode tirar o direito da divergência", lembrando do antagonismo das forças políticas no Estado. Muito mais acirradas que no Governo Federal. Para os meios de comunicação, é o "agendamento" do assunto nas pautas da mídia.

No Executivo, enquanto analisa o "positivismo" dos gaúchos de lá, a governadora Yeda Crusius continua enfrentando desordem na casa e começa o ano sem medidas práticas, muito menos eficientes, ao passo em que, mais uma vez, a Segurança dá sinais de problemas. Enquanto exibia o vídeo do debate, a solução foi cobrar idéias contra a crise, esquecendo-se que, definitivamente, criatividade não parece ser uma característica de nossos políticos. Nem lá, nem aqui.


Só notícia boa! É o que os discursos estão prometendo para o ano de 2008, que deve se iniciar logo após o carnaval. Esqueçamos as nossas falências e limpemos as peneiras para nos protegermos do sol dos próximos dias de estiagem na criatividade política.

É o fim da picada!

Publicado no Jornal Diário da Manhã em 22/01

Era pra ser novidade, mas não é. No mínimo, deveria ser diferente, mas também não é. Enquanto o Ministro da Saúde assistiu as manchetes calado - por doze dias, mais uma vez, somos assolados por um mosquito. Desta vez, a febre amarela virou notícia.
É difícil acreditar que ainda enfrentemos as mesmas dificuldades que passaram Cristóvão Colombo e, depois, os brasileiros – pasmem – em 1846!


A história remota era da dengue. Porém, como o nosso conhecido Aedes aegypti também transmite a febre amarela, três anos depois, em 1849 (a primeira referência é de 1685), tivemos uma grande epidemia, ocorrida na capital do Império, no Rio de Janeiro.


Passaram-se os anos e a febre amarela urbana foi considerada erradicada em 1942. Contudo, o tempo parece não ter dado aos nossos governantes, nem ao nosso sistema público, a experiência necessária para erradicar tais doenças de nosso dia-a-dia, definitivamente.


E definitivo é palavra que nos falta quando falamos em saúde pública e erradicação de doenças no Brasil. Prova disso são as ocorrências de doenças ora epidêmicas, ora endêmicas.


Simploriamente, a diferença está na incidência da primeira, com grande número de casos em curto período de tempo; ao passo que a segunda se caracteriza pelo aparecimento de menor número de casos ao longo do tempo. Ilações conseqüentes: as doenças que têm como vetor um mosquito são endêmicas no país.


Outra inferência: se temos vacina como medida paliativa para febre amarela, por exemplo, não a possuímos para a dengue!


Ou seja, o uso de vacinas para combater surtos apenas atenua de forma momentânea determinado problema. Nesses casos, com origens maiores, como a falta de saneamento básico, a inexistência de programas sócio-educativos e de prevenção continuados, ou o simples emprego efetivo de receitas destinadas à saúde.


Em breve, como aconteceu no ano passado, inicia-se o ciclo das chuvas, quando a dengue volta a ser manchete. Esperemos que até lá estejamos com um plano de contenção eficiente, sem que tenhamos que enfrentar mais uma “operação emergencial mata-mosquito”.


Temporão, de acordo como dicionário Aurélio, é o que vem ou acontece fora ou antes do tempo próprio. Extemporâneo como poucos, o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse à época da dengue que “estamos perdendo a guerra para a doença”.


Agora, alheio aos acontecimentos e à experiência do consciente coletivo, o ministro vem a público dizer que “a situação é tranqüila!”. Até esse domingo, dia 20, já haviam morrido oito pessoas!
Fatal e ironicamente, tranqüilos estão os agora mortos. A julgar pelas filas e o fim dos estoques da vacina, os demais brasileiros parecem nervosos!

Camelódromo: a sufixação do problema urbano

Publicado no Jornal do Comércio em 22/01/08
Publicado no Jornal do Centro em Fev/2008


A idéia de reunir vendedores ambulantes em um único local, de modo à bem os localizar, regularizar e estruturar, parece ser uma solução de centros urbanos como capitais e cidades-pólo.

Embora referendando possíveis ilegalidades e irregularidades, o camelódromo pode vir a amenizar o comércio informal e a concorrência desigual.

O sufixo grego drómos significa lugar para correr, pista, local de fluxo, corrente. É a sufixação servindo como resposta aos problemas das cidades. Como ocorreu com o sambódromo da capital, deslocado para o Porto Seco!

Em Porto Alegre, teremos um camelódromo aéreo. O término da obra está previsto para maio deste ano, com o possível abrigo de 800 comerciantes.

Camelódromo aéreo? Supostamente, para atrair (mais) consumidores e/ou por "esconder" os camelôs da área central.

Em 2005, ainda na apresentação do projeto, a Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul, que possui 28 bancas na Praça Montaury, alertou quer "o empreendimento teria de atrair 500 mil pessoas diariamente para poder manter as bancas que ali seriam instaladas". Afinal, quem são os cegos?

A construção tem servido como argumento para a proposta de revitalização do Centro. Onde o Projeto Monumenta transcorre concomitantemente. Mas, por favor, não faça juízo estético!

O trânsito foi modificado, preparando a população para a transferência dos terminais de ônibus e sua integração aos "Portais da Cidade". A estação do Trensurb também altera itinerários no entorno do Mercado Público.

Com toda a visibilidade que as mudanças e o assunto proporcionam em ano eleitoral, a construção do chamado Centro Popular de Compras (CPC) pode, entretanto, não resolver o problema da informalidade e do tumulto que acompanham as barracas dos camelôs.

Ademais, outras questões precisam ser respondidas pelas autoridades. Qual o tratamento que será dado à possível venda e/ou sublocação dos espaços?

O que vai ser feito quando da (provável) reocupação das vias públicas por outros e novos ambulantes?

Qual o impacto comercial que o deslocamento da população, a circulação de consumidores e transeuntes poderá causar?

As perguntas e a pressa das autoridades é o dicionário que responde. Através da sufixação dos problemas da cidade!

O ovo da serpente

Com mais um vestibular em curso na UFRGS, volta à tona o contraditório tema do acesso à universidade pelo sistema de cotas. Enquanto as federais e o ensino superior viram grife e estudantes escondem a habilitação como cotistas, o debate segue sem consenso.


A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma das mais conceituadas do Brasil, reúne a miscigenação dos gaúchos e do Brasil em seus corredores. Ali, também estão os principais cursos, a administração e o cérebro pensante da instituição. Pensante?
Recentemente, na Ufrgs, por trás da disputa de diretórios acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes, o tema foi o sistema de cotas para ingresso na faculdade, acalorando o debate em torno do pleito.


A disputa entre chapas colocou na vitrina a discussão velada entre nós: o racismo, a discriminação e a segregação racial. A chapa derrotada teve seus cartazes pichados com a suástica, chamando à baila a hipocrisia do discurso de igualdade racial que se apregoa em uníssono no Brasil.

Não foi a primeira vez. Em junho de 2007, o alvo eram os negros, com frases como "voltem pra senzala" pichadas nas calçadas da Av. João Pessoa. Infelizmente, o assunto “morreu” sem ser esclarecido.

As cotas, agora, são chamadas de sociais, discriminando alunos e permeando a questão do acesso ao ensino. Não como medida paliativa quando do ingresso na universidade, mas como política de educação desde a infância.

Associado a falta de diploma, o preconceito não faz distinção de gênero, número ou idade e amplia as hostes do desemprego. A concessão de benefícios – sejam eles quais forem –, quando transformada em privilégios, amplia a distância entre os grupos e camadas sociais, raças ou pessoas. E mesmo aqueles que são atingidos acabam por transformar seus grupos em militantes na busca de vantagens.


Já não bastassem tais formas de preconceito racistas ou de xenofobia, constatados em nossas ruas, tomadas por subempregos quase sempre ocupados por negros, índios ou mulheres, com a implantação das cotas, talvez ainda venhamos a presenciar cenas explícitas de segregação social.

A inclusão e o acesso ao ensino superior devem ser feitos com justiça responsável, e não com o pagamento de dívidas históricas ou com o assistencialismo barato de benefícios, que servem exclusivamente àqueles que assistem ao nascimento de mais uma forma de discriminação.

2007: crescimento com gosto amargo

Publicado na Folha de São Paulo de 28/12/07

Não é preciso ser Adam Smith, o teórico do liberalismo econômico, para perceber que algo está mudando em nossa economia. Sem otimismo e euforia governista, e ao contrário do que ocorre no Estado, o Brasil sinaliza crescimento.
Neste sentido, índices não faltam.

O IBGE cita crescimento de 2,9% de área colhida nas previsões para a safra de 2008, aliado ao aumento de mais de 80% da área de lavouras.


Já o comércio tem 9,1% acumulados no volume de vendas do comércio varejista, enquanto a indústria tem produção física de 10,3 % superiores em comparativo com 2006.


Os indicadores macroeconômicos apontam um crescimento do PIB de 4,8%, uma queda da taxa de inflação (3,8%) e saldo comercial favorável de US$ 39 bilhões.


Nesse cenário de porcentagens e cifras, visíveis ou não, o efeito dominó é evidente: queda do índice de desemprego (8,2%), o menor desde 2002.


Contudo, sem que as estatísticas positivas batam à porta e ainda nos pareçam distantes, é preciso manter olhos abertos e orelhas em pé. Ocorre que a política do "rouba, mas faz" é a capa protetora das ações de governos corruptos, que anunciam projetos a todo instante enquanto regurgitam a falência dos cofres públicos.


Se o momento econômico parece alentador, o setor público definha no engessamento burocrático da labuta cartorial, favorecendo o mal que há em suas veias. Refiro-me a corrupção institucionalizada que cerca de privilégios a classe política.


Segundo o Transparência Brasil, nas últimas eleições, cerca de 8,3 milhões de eleitores foram instados a vender o voto; 2 % do PIB são abocanhados mensalmente pela corrupção, que tem como dieta anual parte dos recursos oriundos de gastos indevidos e desvios.


A economia tende a recrudescer a distância entre os escândalos de corrupção e a sociedade que ainda não saboreia o mel da queda das desigualdades sociais, reiterando o prelúdio de "A Riqueza das Nações", que diz que movidos apenas por interesse próprio (self-interest) os indivíduos (ou políticos) promovem crescimento econômico e inovação tecnológica.


Para o próximo ano, o alerta que nos cabe é: “Será que estamos disposto a provar o gosto amargo do fel dos desvios de verbas e escândalos que envolvem nossos governantes em troca do tão esperado crescimento econômico, da qualidade administrativa e da eficiência do poder público?”


O Natal e o vendedor de papel para presente

Publicado no Jornal do Centro - Dez/07

Considerada uma das datas mais rentáveis para o comércio, o Natal aquece o mercado consumidor, repete notícias, reportagens, matérias e compras de última hora, transformando o Centro da cidade na Meca dos consumidores porto-alegrenses.


Como na peregrinação, a vinda ao centro é obrigatória ao menos uma vez na vida, para disputar espaço entre compradores apressados, sacolas, seguranças de lojas, camelôs (formais e informais) e vendedores de papel de presente — um dos símbolos, quase que exclusivos, de nossa Capital.


Antes, em um passado não distante, em uma das lojas de armarinho, ou em uma das "Mesblas e Renners", os presentes eram embrulhados pelos próprios vendedores, com fitas de cor vermelha e laços da melancolia que isso nos traz.


Era época de pouca pressa, em que parávamos para observar os enfeites natalinos que ainda alteram, em nossos dias, as fachadas de prédios e o cenário de nossas ruas.


O vendedor de papel para presente nasceu do casamento do comércio moderno com as compras de última hora. Não teve lugar no shopping, nem em uma mega store.


Hoje, observa o surgimento de grandes lojas e a transformação do Centro em referência em compras, oferecendo serviços, produtos de artesanato, mercadorias de R$ 1, 99, videogames e eletro-domésticos high-tech, e até automóveis.


Nas lojas, além do horário de funcionamento ampliado, o 13º auxilia a engordar o carrinho de compras, anabolizando as vendas em cerca de 7% a 10%, ampliando a oferta de empregos e fazendo com que o mês de dezembro seja época de bois gordos para o comércio, segundo o CDL. E para o vendedor de papel para presente, é claro!


Mas nem tudo é idílico nessa história. Alguns problemas ainda se repetem. A falta de segurança, o trânsito complicado que cria engarrafamentos — ainda mais agora, com a construção do camelódromo. Também a informalidade dos vendedores de calçada e o "shopping chão" da Rua da Praia agregam-se aos problemas não resolvidos no Natal de nossos governantes municipais.


Porém, o Natal é a celebração do símbolos e não leva em consideração os números do comércio, tampouco os problemas com assaltos nem mesmo a ceia do vendedor de papel para presente. É primordial solucionar os velhos problemas que acompanham a chegada do Papai Noel.
Clei Moraes – Consumidor (contato@clei.com.br)


A hipocrisia nossa de igualdade racial

Publicado no Jornal do Centro - Dez/07

Porto Alegre, por seus costumes cosmopolitas, abriga moradores vindos do interior e de outros estados e países. No bairro Bom Fim é onde a mistura de idiomas, cores e raças são mais evidentes.

No Centro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul - a UFRGS, uma das mais conceituadas do Brasil, reúne e revela a miscigenação dos porto-alegrenses e gaúchos em seus corredores. Ali, também estão os principais cursos, a administração e o cérebro pensante da instituição. Eu disse pensante?

Face à disputa de diretórios acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes, sempre há a participação de agremiações políticas que acaloram o debate em torno do pleito. Desta vez, o tema era o sistema de cotas para ingresso na faculdade.

A disputa entre as chapas colocou na vitrina uma discussão velada que quase não ocorre entre nós: o racismo. Quando a chapa derrotada teve seus cartazes pichados com a suástica e dizeres racistas, trouxe à tona a hipocrisia do discurso de igualdade racial que se apregoa em uníssono.

Não foi a primeira vez. Em junho deste ano, o alvo foram os negros, com frases como "voltem pra senzala" pichadas nas calçadas da João Pessoa. Agora, foi a vez dos judeus. Nas formas de preconceito racista, talvez ainda venhamos a presenciar cenas explícitas de xenofobia e anti-semitismo.

É fácil percebê-las em nossas ruas, tomadas por subempregos quase sempre ocupados por negros, índios e mulheres. O preconceito não faz distinção de gênero, número ou idade e amplia as hostes do desemprego.

A concessão de benefícios – sejam eles quais forem –, quando transformada em privilégios, amplia a distância entre os grupos e camadas sociais, raças ou pessoas. E mesmo aqueles que são atingidos acabam por transformar seus grupos em militantes na busca de vantagens.

O debate do racismo e preconceito deve permanecer para que os "pensantes" possam chegar à conclusão de que não é através de privilégios e benefícios que teremos uma sociedade mais igualitária, com menos diferenças sócio-econômicas e ou raciais.

É preciso que todas as políticas públicas, especialmente as que se referem à educação, tenham como baluarte o acesso, a inclusão e a justiça responsável, e não o pagamento de dívidas históricas ou o assistencialismo barato de benefícios.

A corrupção também usa bombachas

Publicado em Zero Hora 07/12/07
Síntese publicada no Jornal do Comércio de 12/12/07

“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente."

Passados cerca de cento e cinquenta anos da afirmação de Lord Acton, a máxima bate à porteira do Rio Grande, fazendo ruir (literalmente), em sua acepção, o frontispício de austeridade e politização dos gaúchos, deveras cantado e proclamado.

É essa bandeira, agora farrapa (com o perdão do trocadilho), que (ora) tanto nos aborrece. Não somos diferentes, não estamos distantes do suborno, do nepotismo, da extorsão, do tráfico de influência. Não somos melhores!

No Brasil — historicamente estabelecido pelo seu sistema cartorial autoprotetor, que concede foros privilegiados e legitima aqueles que obtém poder político, a corrupção alicerça-se na falta de punição e no crime sem castigo, transformando o “jeitinho brasileiro” em propina.

Prova dessa impunidade é o estudo divulgado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que mostra que entre 1988 e 2007 nenhum agente político foi condenado pelo STF. Nesse período, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou apenas cinco autoridades
Em suas variadas formas, a corrupção atinge-nos diretamente em todas as esferas da organização social e estatal. No RS, apesar da venda em nossos olhos, é fácil encontrar políticos, empresários e funcionários públicos envoltos em fraudes licitações e contratos irregulares, desvio de dinheiro público, enriquecimento ilícito e casos mal explicados.

Através do Google, em uma busca rápida pela palavra corrupção no site http://www.clicrbs.com.br/, encontramos mais de quinhentas ocorrências (524 no momento da pesquisa). Ali aparecem diversos municípos, do interior à capital.

Aparecem Detran, Procergs, prefeituras, autarquias, deputados, bancos, empresas, ministérios; enfim, Executivo, Legislativo e aquele que deveria zelar pela probidade, o Judiciário, figuram em denúncias, inquéritos, diligências e, quando raramente são citadas, prisões — temporárias, é claro.

Na chafurda gaudéria, vimos nossas instituições, representantes, agentes públicos e assessores afundarem-se cada vez mais, trazendo para a roda de chimarrão o cotidiano do mal que assola os brasileiros: corrupção e impunidade!

Humanamente, não poderia deixar de ser de outra maneira, a corrupção também existe entre os gaúchos. Não podemos é fazer olhos grossos e pecar pela omissão. Para este mal, há apenas um remédio: transparência, que deve existir desde o Presidente, passando pela Governadora, até o líder estudantil.

Clei Moraes

O BOPE me bateu

Publicado na Zero Hora de 06/11/07
Publicado no Jornal do Centro - Edição Nov/07

Quem dirigiu o filme ou interpreta o Capitão Nascimento? Assistiu a uma cópia pirata? E o ministro também? É "aspira, zero dois"? Perguntas ouvidas em qualquer roda de bate-papo ou lidas em "spams" e internet.


O BOPE e a opinião pública andam em lua-de-mel. A mídia eletrônica baixou o DVD antes do lançamento e derrubou a primeira peça do dominó. Depois disso, avalanches de manifestações (das quais não nos eximimos) favoráveis à truculência, às táticas de guerrilha oriundas do exército e aplicadas à favela — sim, à favela, não só aos bandidos. Para os alistados, treinamento militar de exército. Aplicá-lo significa tratar o outro lado como inimigo. E inimigos têm que morrer!


Direitos humanos são pra bandidos e políticos, não para o BOPE, nem para a população do morro que contracena no filme, já que os demais cariocas e brasileiros que não morreram, apanharam ou foram supostamente torturados, são meros telespectadores da sociedade, à sua margem. Onde está a cena do “pé na porta” da casa dos moradores de classe média-alta ou de outra casta de olhos que não querem ver?


Hipócrita a posição de alguns formadores de opinião que ejaculam precocemente ao bradar que o roteiro tocou na ferida aberta que o tráfico corrói. O mesmo com os "tortura-nunca-mais" que aproveitaram “a deixa” para pleitear seus quinze minutos de fama. Por isso o "blockbuster hollywoodiano" do momento não foi indicado ao Oscar norte-americano. Porque a beleza não existe na pobreza, e o consumo de drogas destroça nossas aspirações de engajamento social. E isso não é belo!


Os operações-especiais devem existir sim, mas para seu fim específico, mantendo em dia o comprometimento com a vida. E, apesar do site do BOPE (http://www.policiamilitar.rj.gov.br/bope/) ter como plano de fundo a imagem de um atirador de elite apontando para quem acessa a página, e mesmo estando em construção os link’s de responsabilidade social e relacionamento com a comunidade, os nossos (e os deles) direitos humanos devem ser preservados.


Agora, com a opinião pública ao seu lado, com os elogios às regras rígidas para fazer parte e se manter no grupo, é fácil “colocar bandido no saco”. São favoráveis as criticas e silenciosas as manifestações dos grupos de direitos humanos. Mas e quando um dos disparos não mais abater a um bandido e sim virar estatística de bala perdida ou baixas aceitáveis? Da platéia, ainda aplaudiremos? Bateu-me a dúvida.

Tradicionalismo em tempos de Orkut

Publicado no Jornal do Centro - Set 2007

Setembro é muito peculiar aos moradores de Porto Alegre. No início do mês, a Semana da Pátria enfeita prédios públicos. Em paralelo, no Parque da Harmonia, gaúchos constróem uma cidade que mantém vivo o tradicionalismo dos porto-alegrenses.

Durante os dias de acampamento, a programação —que vai desde a realização de gincana a provas típicas, feiras e shows — atrai a participação da população da capital e região metropolitana. Até o dia vinte de setembro, com a presença constante de dez mil pessoas e o compadecimento de mais 800 mil visitantes circulando diariamente entre os cerca de 250 piquetes, o Acampamento Farroupilha transforma o Centro no bairro mais populoso de Porto Alegre.

Não se trata de uma cabana, nem de um galpão, mas de um local para cultivar as origens gaúchas. Para os participantes, esta é a definição de Piquete. Além da pilcha e do churrasco, a construção dos piquetes serve de alicerce e de abrigo ao tradicionalimo. É um destes piquetes que tem tornado ainda mais peculiar o mês de setembro, integrando a gauchada através do Orkut.

O nome do piquete é Manotaço e é um dos pioneiros no acampamento, existindo desde o ano de 1991, composto por gente buenaça, que gosta de um truco, de uma churrascada. No Orkut, além da comunidade do Piquete Manotaço, existem outras 367 com este tema e mais de mil que fazem referência a CTG´s.

Respeitando o lema do piquete "Evoluir, pero no mucho", uma Comunidade do Orkut, a "Butequeiros de Porto Alegre" passa a fazer parte do piquete, unindo a modernidade de blogs, fotos digitais, "msn" e levando a tropeada digital ao Parque da Harmonia, desbravando estes novo campos "internéticos" em conjunto com a gaúchada.

A Comunidade Butequeiros de Porto Alegre tem por hábito reunir amigos pra um bate-papo nos finais de tarde,
além de comemorar aniversários e eventos. Neste mês, toda agenda foi feita em conjunto com os "piqueteiros", buscando valorizar a cultura gaúcha, com atividades que iniciam no dia 06, com baile, e vão até o dia 19. São aulas de gastronomia, previstas no projeto cultural, dança e gauderiês, além de uma ação beneficente no dia 17.

Uma curiosidade: no piquete, não tem computador.
Publicado no Jornal do Centro - Set 2007

02/07/07

Corrupção, cegueira e impunidade

Publicado no Jornal do Comércio de 28/05/07
Publicado no Jornal do Centro de junho/07

"O homem é um ser político". E "Não há nada de errado com aqueles que não gostam
de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam".

Para não assistir à corrupção de alguns políticos e fazer com que a Justiça perceba os fatos e manifeste reação, Aristóteles e Platão, filósofos, pensadores e autores respectivos das frases acima devem ter pedido à justiça a venda dos olhos — ou posto os olhos a venda.

Mais uma vez, estamos nós, eleitores, sendo enxovalhados pela política, e a argúcia já não nos é permitida quando tratamos do assunto. Nos últimos cinco anos, somos noticiados rotineiramente com o envolvimento de ministros, juízes e detentores de cargos públicos envolvidos em escândalos de corrupção no círculo em torno da popularidade intocável do lulismo. Pelas manchetes, estamparam seus rostos assessores, chefes de gabinete, eminências pardas na parceria com Zé Dirceu, Lalau, Medina, Palocci e outros tantos impunes de condenação que precedem Zuleido e Rondeau.

Por mais que se empenhe e possua a Polícia Federal seu mérito por trazer à tona mais um fato que carcome a esperança daqueles que venceram o medo pelo voto, nem São Galvão vai resolver o problema da corruptividade que degenera o estado brasileiro. Nem pela oração das WebCams e dos Gatos nem pela popularidade do santo e da PF. São pop, causam alarde, têm bons marqueteiros, mas são meros coadjuvantes entre o fato e o feito. Não condenam. É preciso alguém de fora para atestar milagres, abrir as portas do céu ou banir para o mármore do inferno. Vamos orar.

A corrupção derruba qualquer índice positivo de um país. O engessamento do judiciário permeia a eficácia do Ministério Público. A legitimidade e transparência da democracia brasileira é embaçada por políticos corruptos. A ação das polícias federal, civil e militar é truncada pela "burrocracia" de interesses imposta por legisladores. Na complexidade de tantos sistemas públicos, constróem-se castelos de privilégios.

Enquanto possuirmos foros privilegiados para funcionários públicos e detentores de mandatos, a Justiça continuará sendo uma estátua que serve de ícone em frente ao STJ, na praça dos três poderes: a corrupção, a cegueira e a impunidade.

31/05/07

Segurança pública e eu. E daí?

(* publicado na Zero Hora de 14/04/07)
(* publicado em O Nacional - Passo Fundo - de 14/04/07)
(* publicado no Jornal do Comércio de 16/08/07)

Assisto à política como quem assiste a um Gre-nal. Não gosto muito de futebol, mas, se quero ver de perto, tenho que pagar ingresso, como quem vai a um jogo. Nas suas áreas e torcidas, cadeiras ou geral, na segurança pública não é diferente, é mais uma distinção na maneira de pagar.

Quando vou a um jogo, faço parte da torcida sem estar organizado nela. Estatisticamente, gosto de saber quantos pontos, gols e outros números meu time marcou. Se quem o organiza o faz direito, muito que melhor, se é o técnico ou o dirigente, não faz diferença; se quem manda prender é o secretário ou a governadora, muito menos; se quem divulga meu saldo positivo é a imprensa ou o flanelinha que tem isso como assunto, que mau há? O importante é que foram presos, não por aqueles que 'comandam", mas por quem joga.

O que sei é que o outro time não quer que o meu ganhe. Pra isso, devem usar de suas técnicas e estratégias. Pra ver o jogo pela TV, também tenho que assistir aos patrocínios, e estes sempre existem. No intervalo, quando vão todos ao vestiário é que as mudanças e decisões são tomadas sem que eu veja ou saiba e possa acreditar que foi a melhor escolha. Como na política, vestiários e bastidores e treino secreto fazem parte do espetáculo, com 100 dias ou noventa minutos.
Como eu, há outros telespectadores, aqueles que apostam e aqueles que não. Há os cartolas e os líderes partidários. Se vou buscar um técnico porque o atual invadiu o campo, que ele faça parte do jogo. Se quem governa quer manter o time ganhando, há que buscar atacantes em outras áreas? Não sei, não jogo e muito menos aposto. Sou cidadão e o que vejo é meu time ganhando. Não faz diferença quem soltou os fogos. Nesse momento, mais que nunca, continuo assistindo a tudo de fora.

Metáforas com futebol viraram moda em razão do dono do campinho. Pra mim, não há outra melhor. Ninguém me pergunta se quero jogar ou ser treinador. Nem mesmo sou dono da bola. Daí, importa-me é ver meu time ganhando.