quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Que venha a crise! Meu artigo em @opiniaozh publicado na @zerohora de hoje http://bit.ly/SUUDiY



12 de dezembro de 20120
Não é de hoje que o Legislativo não cumpre o seu papel como deveria. Talvez o tenha feito pela última vez na Constituinte de 1988. Desde então, o que se vê são legisladores que procuram suplantar brechas constitucionais.
A declaração recente do presidente da Câmara dos Deputados de que "isso vai criar uma crise entre o Judiciário e o Legislativo" _ a respeito da possibilidade de parlamentares condenados através da Ação Penal 470 (mensalão) terem seus mandatos cassados de forma automática _ trouxe holofotes necessários a uma crise de funções já sacramentada entre os poderes.
A Constituição é a lei máxima de um país. Mas e quando esta deixa dúvidas sobre a sua aplicação, opondo-se e gerando interpretações entre o cumprimento de seus princípios ou a aplicação do Código Civil ou Penal? Por lógico, cabe ao Judiciário, mais especificamente ao Supremo Tribunal Federal (STF), dirimir quaisquer incertezas. Contudo, não há tal lógica quando os afetados são integrantes de um dos poderes.
A dúvida que se levanta é: não fosse a vicissitude da decisão do Supremo atingir alguns de seus pares (não só de partido, mas também de governo), estaria o Legislativo questionando a "intromissão em prerrogativa da Câmara dos Deputados", como disse seu presidente? Provavelmente, não.
As instituições são corporativistas e exemplos não faltam. Recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou, com articulação do Judiciário, o aumento de subsídios para o cargo de procurador-geral da República e, pela provável "similaridade remuneratória entre carreiras jurídicas", o efeito cascata deve atingir Ministério Público e outras carreiras, com um custo para os cofres públicos, nos próximos dois anos, de R$ 30 bilhões, segundo um deputado que se manifestou contrário à proposta.
Mas e quando ocorre o oposto? O Legislativo causando interferência nas decisões a serem tomadas pelo Judiciário? Caso sabido é o de deputados que, pendurados a seus cargos e já condenados em duplo grau de jurisdição, recorrem ao Supremo para manter seus mandatos e, depois, articulam para que a decisão a respeito de seus casos não seja tomada e não entre sequer na pauta do STF. Não deveria o parlamento ter-lhes cassado o mandato?
São relatos que nos levam à indagação maior: qual o papel do legislador? Enquanto os próprios parlamentares não assumirem a natureza de suas prerrogativas _ de causa, o papel para o qual foram eleitos e o desempenho de suas atividades; de efeito, o inevitável vácuo legislativo e "judicialização" de nossas leis _ haverá, sim, a sobreposição de atribuições e poderes.
Que venha a crise entre os poderes! A boa crise, para que voltemos a ter um Congresso forte e um Judiciário independente.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Artigo: 2013, o ano da reforma política


Entre país do futuro a país das reformas e dos marcos regulatórios – a lembrar: pacto federativo, reestruturação tributária, previdência, internet, o Brasil esforça-se em busca do desenvolvimento. São  tamanhas  as brechas constitucionais e necessidades que é difícil traçar prioridade sobre o que fazer primeiro.
Na Câmara dos Deputados, a Comissão Especial criada para tratar da reforma política deveria encarregar-se de propor nova legislação e sanar lacunas. Da definição de sistemas eleitorais (voto em lista e distrital, por exemplo) às formas de participação direta – como plebiscito, referendo e iniciativa popular parcos foram os avanços.
Não fosse um aspecto, assunto quase esquecido: com a atenção da mídia e a condenação de marqueteiros, financiadores e políticos pelo mensalão (Ação Penal 470), o financiamento público de campanha permaneceu em pauta. Porém, estancaria os desvios que envolvem as agremiações partidárias, uma vez que réus afirmaram categoricamente a existência de “caixa dois” nas campanhas eleitorais brasileiras?
Talvez sim, apesar do descrédito da classe política. Até agora, o modelo privado afirma-se fracassado. São incontáveis e mirabolantes as artimanhas utilizadas por alguns parlamentares e detentores de cargos para recompensar empresas, lobistas e financiadores, fazendo com que o interesse privado domine a coisa pública.
Contudo, “quem não quer a reforma política e por que ela não anda?”, pergunta feita, curiosamente, pelo condenado Zé Dirceu em seu blog, na véspera das eleições municipais. A primeira resposta: o governo. A segunda, este mesmo governo. Antes, não havia interesse em qualquer avanço na área. O governo detém a relatoria, e maioria na Comissão Especial e no plenário da Câmara, além da presidência da Casa. Agora, pós-eleições, o cenário é outro.
O PT conquistou São Paulo, mas perdeu cidades importantes. Viu o PSD se consolidar com Kassab, o PSB crescer com Eduardo Campos, o PMDB se reestabelecer com Paes e preparar-se para assumir as presidências da Câmara e do Senado simultaneamente. E ainda há a ameaça permanente do PSDB e casos regionais como o PDT do RS.
Também é preciso evitar movimentação dos partidos, distanciamento da base, “coligações Frankenstein” que causem derrotas, dúvidas sobrecaixa dois”, garantir transparência e assegurar currais eleitorais e recursos para campanha. É mister aproveitar o vácuo Legislativo, suplantar a obsoleta Lei Eleitoral e impedir outra “judicialização como a ocorrida com a Lei da Ficha Limpa, a fidelidade partidária e a cláusula de barreira.
Tudo isso de maneira legal e um ano antes das eleições de 2014, para que, pela legislação, já possa vigorar. Logo, 2013 é o ano da reforma política. 

sábado, 1 de dezembro de 2012

Artigo: "A ascensão do governador" - um alerta a @tarsogenro


O pior cego é aquele que não quer ver. O dito popular serve, em muito, para o momento que vivencia o governo do Estado. Talvez seja hora de “observar a floresta de cima do monte”.
Como muitos dos gaúchos, a carreira política do atual governador iniciou no meio estudantil. Foi vereador pelo MDB, vice-prefeito, secretário, prefeito, ministro da Educação, Relações Institucionais e Justiça, e também presidente nacional do Partido dos Trabalhadores. Currículo não lhe falta.
No primeiro turno de 2010, elegeu-se prometendo melhorias na Educação, Saúde e Segurança – a praxe entre candidatos. Além disso, um possível alinhamento com o governo federal facilitaria investimentos e crescimento do Rio Grande. Ao assumir, compôs um governo de coalizão, com vários partidos integrando o Executivo e ampla base na Assembleia. Estava pavimentado o caminho para o sucesso.
Já no início da administração, o Executivo adota prática semelhante à União – que se vale de Medidas Provisórias para acelerar a tramitação legislativa – e encaminha seus projetos em regime de urgência. Reorganiza e cria secretarias e quadro de pessoal. Valendo-se da popularidade recém-conquistada e de uma oposição fraca, deu forma e “cara” ao novo governo.
Passados cem dias, uma das promessas de campanha bateu à porta do Piratini: o piso nacional do magistério. Entidade forte, o CPERS cobrou o cumprimento do discurso. Sem alternativa, o RS e outros estados tentaram, via judicial, descumprir a obrigação. Não funcionou. Desdobramento recente, o Supremo de Joaquim Barbosa indeferiu o pedido.
Não foi a primeira derrota do Piratini, que tem buscado o Judiciário para resolver problemas administrativos. Não obstante, o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS) está de olho na Receita Pública, cobrando aplicação de recursos, desde os 12% constitucionais da Saúde à recomposição do famoso caixa único.
Na Segurança, a mudança no critério de promoções da Brigada Militar acirrou idiossincrasias da corporação. Houve perda de recurso federal para a execução de projetos como a construção de presídios. Diante da inércia e imobilidade na área, o secretário da pasta balança no cargo.
A casa está bagunçada. Exemplo sintomático, o secretário de Infraestrutura abandonou o navio, alvejado pelo fogo amigo. E há outros, por desejo próprio, com o pé na rua. Para piorar, existe risco de recessão, e o RS pode ser a Grécia do Brasil, como alertou o economista Darcy Carvalho dos Santos, em recente artigo de Zero Hora.
Há, ainda, a dívida com a União e com os pedágios, o investimento em estradas, os precatórios, contratos do DAER e um sem-fim de “pontas” soltas. Tudo com “um olho no Estado e outro em 2014”.
Ou o governador costura uma mudança radical ou resta esperar pela queda.