terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Muito boa a avaliação da @leticiaduarte "O bairrismo dos outros"


Fonte: Pg 10 de ZH - 09/01/12 link

E se fosse o Rio Grande do Sul que tivesse recebido 90% das verbas de programas contra desastres do Ministério da Integração Nacional, o que você diria?


Antes de responder, é interessante observar a reação de setores da mídia de Pernambuco ao direcionamento de verbas públicas pelo ministro Fernando Bezerra Coelho ao seu Estado.

Enquanto cresce a indignação nacional pelos sucessivos indícios de uso eleitoral das políticas, como a concentração da verba antienchente e a liberação de maior volume de emendas parlamentares da pasta para o filho do ministro, o deputado federal Fernando Coelho (PSB-PE), em Pernambuco ganha força a tese de que se trata de “preconceito” sulista contra o Nordeste.

No blog de política do Diário de Pernambuco, por exemplo, o comentarista Josué Nogueira publicou um texto intitulado “Fogo amigo e bairrismo explicariam ataques ao ministro”. No texto, afirma que existe uma “campanha” contra o único ministro do PSB no governo Dilma, orquestrada por “petistas paulistas”, com o objetivo de frear as pretensões nacionais do governador Eduardo Campos (PSB). E argumenta que “ministros que representam o Nordeste costumam ‘desagradar’ grupos do Sudeste”:

– Interessa a muitos manter o Nordeste miserável. Luxo apenas para os ensolarados resorts e hotéis que recebem paulistas – escreve.

Radicado em Petrolina, reduto eleitoral da família do ministro, o jornalista Carlos Britto também destaca em seu blog oposições regionais, em títulos como: “Jornal paulistano afirma que Integração Nacional privilegiou Fernando Filho na liberação de emendas. Ministério rebate”.

As reações incitam reflexões sobre noções de Justiça. Quando a política bairrista nos favorece, parece legítima. E isso não vale apenas para Pernambuco. Em meio à crise no Dnit, por exemplo, a Folha de S.Paulo mostrou que o gaúcho Hideraldo Caron havia transformado o Rio Grande do Sul em foco prioritário de sua atuação como diretor de Infraestrutura Rodoviária, com 69% das viagens destinadas ao Estado. Quantos gaúchos reclamaram dessas viagens?

O mesmo raciocínio regionalista pôde ser observado em discussões sobre a divisão dos royalties do pré-sal, em que Estados produtores resistiam em compartilhar sua riqueza e os demais reclamavam de injustiça. E aí, mais uma vez, cabe a pergunta: se o Rio Grande do Sul fosse produtor e tivesse de abrir mão de lucros, os gaúchos apoiariam?

É mais fácil condenar o bairrismo alheio – mas, quando se trata de política, ele se mostra sempre equivocado. A Justiça não pode ser regionalizada.