quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Sem medo da praça

Publicado na Edição da 56 Feira do Livro - Jornal do Centro

 Para nós, o Centro escreve uma página sobre a nuance de nossas vidas. Há capítulos em cada esquina, versos, prosa, personagens. E, quando a Feira do Livro desce da estante em que a cidade a abriga, abre-nos estórias na Praça da Alfândega.

Bem antes do início da Feira, os estandes começam a se erguerem, rascunham as primeiras linhas que irão tomar conta do coração da cidade. São novos escritores em novos livros. São famosos e anônimos. Mas são sempre muitos leitores que por ali transitam.

Mesmo a noite parece ter novo brilho. Serve pra esconder os romances policiais que ouvimos falar, deixando novos caminhos abertos, iluminando sombras e atraindo aqueles que têm medo do escuro ou que acreditam que o Centro não é um lugar para se passear à noite.

Alunos, principalmente, todas as noites, e não importa a hora, circulam por entre a praça. Se não há medo neles. Por que não há coragem em nós? E se obras literárias ocupam esse espaço, trazem pra nós a bravura de explorar o que lhes é cotidiano.

Quando o dia amanhece, embaixo das árvores florescem bancas com livros que exalam cultura, atraem visitantes de nossa e de outras cidades. São Contos da Carochinha, fadas, ciência, história e política. E nós (abelhas) esquecemos de outro problema, da sujeira de nossas praças.

À tarde, crianças tomam conta dos canteiros, brincam com Quintana e com Drummond, e como se fossem também imortais transbordam os espaços que já ocupam o Cais, cruzam a Mauá, e nem nos apagam o problema do Muro, transpondo barreiras que nem lembramos mais.

E quanto o sol está se pondo, a música começa a tomar conta e dividir espaço com as letras, parece trazer de volta os bons tempos dos coretos. O tempo passa e vai-se o dia, deixando de lado a falta de incentivos e atrativos culturais em outras épocas do ano.

E assim se segue a semana, recheada de atividades. Por quinze dias, o bairro hospeda a todos, deixando de lado problemas que não podem ser esquecidos, mas resolvidos.

Foi-se a eleição, e o prefeito deve honrar com as promessas, o lúdico da feira passa e, como tantos outros eventos de nossa cidade, o valor agregado se vai com o desmontar das bancas. Será que não estamos preparados para melhorar nosso bairro de forma permanente? E ali tão perto, por que a praça da matriz assiste a tudo tão distante?

Sem medo da Praça somos todos patronos, e o Centro espera a todos de livros abertos.