terça-feira, 10 de junho de 2008

Realidade virtual em obras

Assusta-me um pouco a quantidade de publicidade que a prefeitura de Porto Alegre tem despejado em nossos meios de comunicação, principalmente através da televisão. É estratégia rotineira de quem ocupa o Executivo deixar a pirotecnia de mídia para o ano de eleição.

Muito já se evoluiu com relação à propaganda dos próprios feitos por nossos políticos. Antigamente, as obras eram assinadas em nome pessoal, com logotipia própria daqueles que usufruíam de mandado. Coisa do tipo “Foi o Maluf (hic!) que fez” tinha o aval dos legisladores. Hoje, faz-se divulgação através da entidade, ou seja, da prefeitura, do governo do Estado, ou da Câmara de Vereadores, de acordo com o caso e circunscrição eleitoral.

A política privilegia a esses que usam a máquina pública (a estrutura de pessoal, de escritório e financeira, principalmente) para alardear investimentos nem sempre factíveis ou existentes. Na nossa capital, a mais recente peça publicitária trata de se vangloriar do Programa Socioambiental (futura rede de esgoto sanitário), do Programa Portais da Cidade (futuro sistemas de integração nas linhas de ônibus). Todas obras do futuro! Nada que se veja de fato em nosso dia-a-dia.

Estranhamente, e alguém me corrigia caso me engane, não vejo anúncios da “solução tapa-furo” que é o camelódromo (Centro Popular de Compras). Mas, de real, cheguei a presenciar manchetes sobre sua execução e entrega em maio e, com certeza, longe da conclusão, dado os andamentos das obras. Estamos em junho. Fato semelhante com anúncios da ligação da Borges com Mauá, que deve alterar o fluxo de veículos no entorno do Mercado Público. Em cada marco de obra que talvez um dia possamos ter, uma placa! Mais estranho ainda é o fato de a SMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre) ter programa para reduzir a poluição visual.

Não sou contrário a divulgar o que é feito, desde que isso realmente exista, o que não tem sido o caso ultimamente. Primeiro, é necessário que se possua mais que a “pedra fundamental” para qualquer ação, obra ou programa para divulgá-la aos quatro ventos. Contudo, se há verba para publicidade, por que não a usam para manter em dia o Art. 37 da Constituição: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” Será por que publicidade e eficiência devem andar juntas?

Ano eleitoral é isso. Os políticos e seus marqueteiros esquecem-se que, quando se fala em publicidade de governos tem mais a ver com transparência que com propaganda. É lastimável que essa falta de memória se dê em dias tão tortuosos, onde a ética tem se tornado uma lembrança e a corrupção uma constante.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Crise ético-política em ano eleitoral

Neste espaço, tenho me referido continuamente a esse assunto, pois incluo-me entre os cidadãos que estão desesperançados com a indiferença e a não indignação social ante o conjunto de irregularidades cometidas por políticos nos últimos anos.

Quanto ao cego comportamento coletivo, convém lembrar que a história é farta nas demonstrações dos erros decorrentes na indevida proteção dos governantes flagrados em delito, em detrimento da hierarquia dos valores permanentes de uma nação.

Do mesmo modo, importa denunciar a idolatria. Líder nenhum é fiel e exclusivo depositário das lutas de um povo, de suas esperanças e desejos político-sociais.

Independentemente de nossas opções/opiniões políticas, ideológicas e partidárias - e mesmo que não tenhamos nenhuma, não podemos prescindir da crença num sistema de valores nacionais, regras constitucionais, dispositivos legais, conceitos éticos, entre outros de igual importância.

Estes valores são frutos do esforço coletivo, sofrimento e resignação, às vezes de várias gerações. Não podem ser contaminados pela fraqueza, incompetência e desonestidade de indivíduos que não estão, ou não estiveram, à altura de determinado cargo e/ou momento histórico da nação.

Quanto à militância e fidelidade partidária, o engajamento no processo eleitoral, enfim, a opção por um companheiro/candidato, não pode constituir-se em compromisso inalterável, uma vez confrontado com fatos graves e ilegais, imorais e anti-éticos, relevantes à nação.

Descontados os equívocos de nossas opções partidárias, que merecem revisão e repactuação, a exemplo dos - por nós atribuídos - defeitos de outras ideologias, aliás, todas em constante processo de mutação e transformação, não tolero a idéia, nem me conformo, em permitir que destruam o patrimônio de luta, resistência e esperança de várias gerações. Somos muito jovens no exercício da democracia.

Em verdade, neste vai-vem da política, aprendemos a sentir o amargo sabor da verdade e da realidade. À medida que a utopia e a paixão dão lugar à compreensão acerca das fraquezas humanas e das vocações autoritárias dos grupelhos políticos, aprendemos a valorizar os instrumentos básicos de um Estado Democrático de Direito.

A aprender, também, é que na política, como no amor, por conta de nossa idealização, demoramos para ver os defeitos de nosso objeto amoroso.

Todavia, mantenhamos as esperanças. Com certeza, haveremos de encontrar e construir as soluções para nossa tragédia e seus impasses. A história ensina que cada geração tem uma experiência inédita. Não há repetição. Cada retrato da sociedade é próprio de sua época.

Não nos esqueçamos, pois, que este é um ano eleitoral e devemos estar atentos à renovação, à "limpeza" eleitoral daqueles que não corresponderam às nossas expectativas ou que deixaram a hombridade somente no discurso.
Colaborou: Ástor Wartchow