“Pois
aquele garoto que ia mudar o mundo, mudar o mundo, agora assiste a tudo em cima
do muro.”
A epígrafe acima é da música “Ideologia”, de
Agenor de Miranda Araújo Neto, o Cazuza, que já à sua época entoava: “eu quero
uma pra viver”. A faixa era título de álbum homônimo, lançado em 1988.
Naquele ano, pós Era Militar, a nova Constituição consolidou o presidencialismo. Desde então, sobrevieram
agremiações partidárias que procuram representar diversos setores e anseios da
sociedade, matizes originados entre
esquerda e direita.
A soma desses fatores, do sistema
pluripartidário ao presidencialista, deu origem às coligações e aos governos de
coalizão. Em geral, essas aglutinações de partidos se dão objetivando
resultados eleitorais e, posteriormente, a governabilidade. No Brasil, os
partidos vencedores compõem a chamada “base do governo” ou “base aliada”.
De outro lado, a oposição é composta por
partidos avessos ao governo. Com isso, o fator ideológico ficou de lado e,
hoje, as agremiações tratam de ser ou não governo. Pode, pois, um mesmo partido
ser governo na esfera federal, oposição em um estado e ambos em um determinado
município que lhe convier.
Em qualquer dos casos, há os benefícios
públicos, como o Fundo Partidário, valor proporcional assegurado a cada um dos
partidos brasileiros. Há também o horário gratuito, o tempo de televisão, as
barganhas políticas, a troca de influência, poder e cargos.
Direitismos e esquerdismos à parte, quando
alijados desse processo, políticos descontentes transformam seus pares mais
próximos em um novo partido – independente de característica ideológica ou de
quais agremiações ou movimentos sociais tenham sido oriundos.
Exemplos afloram: na esquerda há o PSOL, de
procedência petista; na direita, o DEM, nova roupagem do PFL; no muro há o PSD, provindo de todos os
cantos, sem falar no falecido PAN (aposentados da nação) e do extinto PRN, do
ex-caçador de marajás, Fernando Collor.
Há mesmo distinção ideológica entre as trinta
(!), quase trinta e uma siglas partidárias existentes no Brasil ou se trata
apenas de interesses pessoais ou de pequenos grupos? O “não-partido” dos
“sonháticos” será tão distinto assim do Partido Verde? Se lutamos tanto pelo multipartidarismo,
então, por que não ser partido?
Existem mais, podem vir por aí o Partido dos
Militares, dos Indígenas, o Pirata (dos “nerds”) e tantos outros que em breve
teremos o “partido dos sem ideologia”, dos não-governo e da “nova oposição”. São
as peculiaridades da nossa democracia, que mantém estagnada a reforma política
no Congresso enquanto proliferam-se siglas pelo país.
Por fim, como clamava Cazuza: “Brasil, mostra
tua cara, quero ver quem paga pra gente ficar assim!”