segunda-feira, 18 de agosto de 2014

#Artigo: Religião mata!

Em 1993, uma menina, padecida por anemia falciforme, seguido de quadro de leucemia, morreu após o procedimento de transfusão de sangue ser impedido. Os pais, Testemunhas de Jeová, optaram pela morte da filha à transfusão.
Nesta semana, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pela não imputação de crime quando da decisão dos pais de não realizarem transfusão de sangue nos filhos, mesmo que isso venha a matá-los.
Contudo, a decisão deixa a cargo do médico a responsabilidade pelo respeito a ética médica. Em contraponto, eleva sobremaneira a liberdade religiosa. A decisão parece paradoxal. Tentou preservar - caso raro - todas as partes envolvidas.
Na prática, a partir de agora, pais podem não autorizar ou encaminhar os filhos a realizar procedimentos, mas quando o médico o fizer, ciente da necessidade, deverá atuar em razão da preservação da vida, não da religião.
Com a reversão da decisão inicial, do tribunal de justiça de São Paulo (de levar o caso a júri popular), e a recusa da sustentação do Ministério Público, pela condenação por assassinato, o STJ pode ter aberto uma brecha na legislação.
Exemplifico: são vários os casos em que pais são presos após matarem filhos em rituais religiosos, como o ocorrido em Maceió. Na época (2009), a mãe argumentou estar possuída por uma entidade que almejava vingança por ela ter mudado de religião.
Esse é um caso extremo. Porém, a que ponto podem, os que creem, praticar seus atos em nome da fé e da religião? A liberdade religiosa pode se sobrepor à preservação da vida? Acredito que não.
A decisão está posta. Entretanto, fica um questionamento: houve isenção ou os ministros de nosso hipócrita Estado laico a deixaram de lado em nome de impressões pessoais ou culturais?
Enquanto todo o país luta pela doação de sangue e órgãos, o Judiciário caminha na direção oposta, prevalecendo a religião sobre a vida, justificando atitudes daqueles que abominam hemocentros.
No momento em que vivemos, de expansão de seitas dogmáticas e conservadoras, onde até pastor é candidato a presidente, não é sensato “incentivar” o fim da laicidade e a morte pela religião.

domingo, 17 de agosto de 2014

"Não tenha pressa, vamos chegar", disse-me Eduardo Campos.

O evento estava tomado por uma multidão de prefeitos de todo o país. Eduardo, que chegara separado de Marina, chegou pela entrada principal. O local era confuso, e as entradas de garagem mais ainda.
Eduardo Campos: "Não tenha pressa"

Alguém havia me avisado de sua chegada. Responsável pela condução de autoridades, corri ao seu encontro. Acostumado a essas situações, para que não perdesse a participação no debate que estava prestes a começar, disse a ele: "Vem comigo, governador".

Em meio a seguranças e jornalistas, atalhamos por dentro da plateia que, acomodada esperando o início de sua fala, ficou eufórica ao vê-lo entre cadeiras, flashs e selfies.

Para facilitar o deslocamento, já que eu o guiava e Eduardo não conhecia o local, ele segurou em meu braço enquanto o puxava salão a dentro.

Nisso, alguém saca o celular para uma foto, bate-se em mim e o celular cai. Eduardo para, abaixa-se, pega o celular,olha-me, com o verde ofuscante dos olhos e o sorriso característico, e diz: "Não tenha pressa, vamos chegar". Enquanto entregava o aparelho a seu dono, que completava a frase "... e vamos ganhar a eleição".

- Presidente, uma foto, por favor. Disse. Eduardo, muito simpático e solicitou, parou, fez a foto, e seguiu comigo até onde era aguardado.

Deixou-me uma lição.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Um desabafo. Uma carta a @Silva_Marina e um pouco sobre Eduardo e @BetoAlbuquerque



Uma carta a Marina.Um pouco sobre Eduardo e Beto Albuquerque

Sou daqueles que acreditam que a política tem um propósito em si: o de transformar
.
E, mesmo que Eduardo Campos ainda estivesse em terceiro nas pesquisas, acreditava nele. Primeiramente porque me devolveu a esperança que outros roubaram.

Depois, porque era um cara novo, moderno, com uma visão de mundo diferente. E, mesmo nascido na velha política, que ele tanto criticava, era um rebelde que pregava a nova política. Um novo jeito de fazer as coisas.

Quando se viu de punhos erguidos, lutando contra moinhos gigantes, veio Marina Silva e cerrou punhos com ele. E lá estavam os dois, engatilhados para agitar a vida política nacional com novas propostas e ideias.


Agora, ele se foi. E antes de tentar encontrar motivos para que ele tivesse tido um filho com síndrome de down, perdido a inspiração de Suassuna e morrido no dia da morte do avô, logo após o dia dos pais e dia em que completou 49 anos, é preciso enxugar as lágrimas.

Então Marina, procure manter a cabeça erguida e os pés no caminho, pois ainda penso que é possível mudar o Brasil.

É neste momento que a coragem pra isso está sendo posta em prova.

Siga os passos de Eduardo, que dizia que iria "juntar os bons e melhorar o país". Cerque-se dos bons. Faça as coisas pelo bem das pessoas, do nosso povo e do ressurgimento da boa polítca, de cara limpa.

Falo tudo isso para que observe antes de agir, respire antes de falar e estenda a mão a quem pode ajudar a promover a renovação.

Nunca esquecerei o elogio que Campos deu a Beto Albuquerque "O Beto é meu precipício". Mas pra você, Marina, ele pode ser uma alavanca, um motor e a energia para as horas em que as forças faltarem.

Espero que vejam um nos olhos do outro, o quanto é imensa a responsabilidade que a perda da vida de um líder tem na construção de novos líderes.

Me chamo Clei Moraes e não vou desistir do Brasil

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

#Artigo: Brinquedo quebrado (o menino e o tigre)

Há vários males que atingem a criação de nossos filhos. Além da avalanche e licenciosidade de conteúdo, disponíveis a partir de qualquer smartphone, ainda há a questão familiar e o compartilhar.
No mais recente - e assombroso - episódio de repercussão nacional, provavelmente mundial, um menino perdeu o braço, devorado por um tigre. O fato ocorreu no Paraná, enquanto o filho passava as férias com o pai.
Como muitos, sou da geração de pais separados e, ao contrário de meus filhos, “optei” em crescer acolhido por meu pai e não por minha mãe. Ao menos até quase completar 18 anos, era ele o meu cuidador.
Sem querer pregar o falso moralismo do modelo padrão “papai, mamãe e filhinho”, abdiquei da criação dos meus por uma experiência pessoal ruim. O convívio, o amor, o carinho e educação devem fazer parte desse ambiente.
Não há família nem filho que sustente um casamento fracassado. Tampouco a submissão à violência doméstica se justifica em nome da “célula da sociedade”.  Nosso mundo moderno e globalizado já está apto a novos conceitos de família.
Desse possível desmantelamento e a partir da guarda compartilhada dos filhos, os pais passam a revezar responsabilidades, cuidados e férias, com familiares ou não, com consequentes postagens e selfies.
Foi o que aconteceu no Paraná. Sem estabelecer pré-julgamentos, há alguns pontos a considerar. O primeiro deles é o de que o pai (ou mãe) em férias com o filho, geralmente, permite - e até incentiva - estripulias não permitidas no cotidiano.
Mas, onde estava com a cabeça esse “responsável” por zelar pela criança ao possivelmente incentivar (ou ignorar) traquinagens com um tigre, uma animal selvagem? E os guardadores do zoo?
Pior ainda: o que pensavam aqueles que filmavam tudo para depois compartilhar em rede social? Quem assumirá a “devolução” do filho para a mãe - como se um brinquedo quebrado fosse? Os que assistiram e filmaram a tudo?
Recorrentes são os casos de violência que, antes de causa, efeito e consequência, transformam-se em virais de internet. E, evitando que nos tornemos figuras tão bestiais quanto o que compartilhamos, melhor seria pensar antes de curtir.