segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Feminismo mal-humorado

Sou machista. Claro. Como todo bom gaúcho de origem. Mas tenho que admitir que os tempos são outros, e machismo e feminismo também são outros. Porém,  mais de um caso de boicote ao humor veio à mídia usando este falso debate.
Na última semana, servindo-se de pretextos para já praticar o cerceamento da liberdade de expressão, políticos mostraram suas garras. Primeiro, contra um apresentador de TV que fez um comentário possivelmente sexista; depois, com a manifestação do governo contra um comercial de televisão e a “violência simbólica” exibida em um quadro de humor.
Isso porque — independente de origem, credo ou sexo —, o politicamente correto tomou conta de nossas falas, e a censura prévia o incorporou como bandeira. Não podemos mais fazer piada. Pelo menos é isso que alguns segmentos governamentais e/ou, da sociedade organizada querem nos levar a crer. O humor pode estar com os dias contados.
Em viagem pela Europa e distante desse tema, a presidenta — e esta é expressão que ela sugere usar — causava inveja em Hillary Clinton e desfilava poder feminino pela Bulgária enquanto uma de suas soldadas preocupava-se com as calcinhas da Gisele Bündchen.
Dilma, eleita, levou ao poder uma gama de asseclas mulheres e quotizou ministérios, autarquias e funções governamentais. Talvez por revanchismo histórico, talvez não. Independente disso, o mundo já é governado por cerca de dez mulheres em seus respectivos países e algumas delas exercem influência mundial.
Aqui, não obstante à preocupação equivocada de algumas feministas com o humor alheio, o Congresso Nacional foi iluminado com luzes coloridas, em uma referência ao Outubro Rosa – movimento mundial que alerta para o problema do câncer de mama.
Também parlamentares manifestaram-se referindo-se aos cinco anos de conquista da Lei Maria da Penha, que (não estranhem) defende homens e mulheres e não faz distinção de gênero.
São esses temas, o enfrentamento da violência contra a mulher, o assédio sexual e moral, a discriminação no trabalho, a participação efetiva e representativa das mulheres em todos os campos, principalmente na política, que devem ter relevância para as feministas de plantão, e não a preocupação pequena com o humor.
Mulheres, sigam o exemplo do trio de ativistas Ellen Johnson Sirleaf e Leymah Gbowee, ambas liberianas, e Tawakkul Karman, do Iêmen,  que venceu o Prêmio Nobel da Paz deste ano, e preocupem-se com temas nobres e mantenham o bom-humor.
Por fim, sem entrar no dilema chauvinista, o machismo do qual falava ao iniciar o artigo foi mera piada.



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A covardia brasileira brasileira do faça o que eu digo e não o que eu faço

Fonte: http://bit.ly/oKiC3f

Querida plateia

Nas Entrelinhas
Correio Braziliense - 06/10/2011
 

Por que o Brasil não votou contra a Líbia e a Síria? Porque prefere caminhar sobre brasas acesíssimas do que arriscar o carimbo de amigo da Europa e dos Estados Unidos. Mas tampouco tem coragem para bater de frente. Como faz por exemplo Hugo Chávez

O Brasil absteve-se no Conselho de Segurança da ONU, que votou moção de censura ao regime da Síria. O que gosta de atirar em manifestantes desarmados. A proposta, impulsionada pelos Estados Unidos e pela Europa, teve maioria, mas caiu pela oposição de dois com poder de veto: a China e a Rússia.
É a segunda abstenção significativa do Brasil. Fizera o mesmo na votação sobre a Líbia, na resolução que abriu as portas para a intervenção da Otan e a remoção de Muamar Kadafi de Trípoli.
O Brasil pede um lugar permanente no Conselho de Segurança, então é razoável imaginar que se já tivesse a cadeira cativa votaria do mesmo jeito. Não haveria por que ser diferente. Flutuar conforme a própria capacidade de interferir seria oportunismo.
Se o Brasil fosse membro permanente com direito a veto no Conselho de Segurança teria, na prática, aprovado a intervenção na Líbia. Pois abster-se significaria abrir mão de vetar.
Assim como não teria impedido a passagem da censura contra o governo de Bashar al Assad.
Então por que o Brasil não votou a favor em nenhum dos dois casos? Aí também já seria demais, né? Nosso governo prefere caminhar sobre o fio da navalha a arriscar o carimbo de aliado da Europa e dos Estados Unidos. O que iria dizer em casa?
Só não tem coragem suficiente para bater de frente. Como faz por exemplo a Venezuela de Hugo Chávez.
O Brasil gosta mesmo é de jogar para a plateia. Não troca por nada o direito de discursar apresentando-se como paradigma de qualquer coisa. O eterno crítico dos outros. A palmatória do mundo. Mas tampouco rasga dinheiro.
O Brasil diz defender uma solução política negociada para o impasse na Síria. O governo de Damasco também defende a negociação, mas antes pede um tempo para eliminar fisicamente os adversários.
Era a estratégia de Kadafi, antes de topar com a intervenção da Otan. O presidente líbio havia advertido que caçaria seus oponentes de casa em casa antes de promover uma abertura política. E estava prestes a conseguir. Acabou ele próprio corrido.
Nos últimos tempos o Brasil vem privilegiando um certo eixo de alianças no Oriente Médio, com o centro em Teerã. O governo anterior operou, na prática, para ajudar o Irã a ganhar tempo no desenvolvimento do programa nuclear.
É possível que o Brasil tenha feito isso por acreditar sinceramente no caráter 100% pacífico do programa nuclear iraniano.
Mas é também razoável suspeitar que o Brasil vê no empreendimento nuclear dos aiatolás uma forma de enfraquecer a posição relativa dos Estados Unidos e da Europa no Oriente Médio. E nutre a esperança de ocupar parte do espaço.
Além do mais, desde há muito existe no establishment civil e militar em Brasília quem proponha rever a adesão brasileira ao Tratado de Não Proliferação.
Exatamente para quê, não se sabe.
Toda ação deve ser medida pelos resultados. Os comerciais parecem bons. O Irã tornou-se um ótimo consumidor da carne brasileira. Na política, entretanto, parece que a coisa não anda tão bem assim.
Na ponta do lápis a influência política do Brasil na região está diminuindo, não aumentando. É só olhar país a país.
Lá atrás o Brasil colocou as fichas na estabilidade perene das ditaduras árabes e islâmicas e saiu a cultivar a amizade dos ditadores. E também por isso vai firme na defesa do carniceiro de Damasco. Que mata seu próprio povo nas ruas e ameaça conflagrar a região para permanecer indefinidamente no poder.
Se bem que em casos assim o radicalismo verbal e as ameaças do déspota costumam ser o prelúdio da queda. É o que diz a experiência. Quem fala muito grosso é por talvez não ter como agir na mesma intensidade.
Ah, sim, e os direitos humanos? E o protagonismo inegociável deles na política externa brasileira?
Sobre essa pauta, ela cumpriu seu papel propagandístico naquela hora e foi ao arquivo. Na categoria das falas descartáveis e descartadas. Nem vou mais desperdiçar, leitor e leitora, o seu precioso tempo com o assunto.