sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Artigo: A hipocrisia da palmada


Ontem, vi meu pai dar uma palmada em minha mãe.  Hoje, ela bateu em mim. Amanhã, aquele meu colega gordinho vai levar a dele.

Essa sequência poderia ser o raciocínio de uma criança ao estabelecer uma cadeia de violência e agressões, mas são fatos que procuramos esconder.

Se, no passado, não se discutia o que acontecia em casa, e o marido tinha direito de bater na esposa, agora, leis de proteção à mulher vítima de violência doméstica baniram tais atitudes. 

Essa mulher, e mãe, atualmente assume que bater em criança é um bom método para educar ou está apenas mascarando frustrações pessoais?

Nesse ponto, omite-se a capacidade de educação a partir do lar. A palmada e suas conseqüências são veladas e escondidas na família enquanto disfarçamos a ignorância com canudos e diplomas.

Questiona-se a interferência do estado em questões de alcova e transfere-se a responsabilidade à escola.

Essa interferência já existe e está muito bem explicada no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que instigou a criação de Conselhos Tutelares e o surgimento de delegacias especializadas - que indiciam pais, tios, parentes, independente de salário ou formação.

Já no meio escolar, procuramos uma explicação pedagógica para nossas agressões próprias. Transfere-se, mais uma vez, a responsabilidade.

Como subterfúgio, debate-se Bullying e outras formas modernas de violência envolvendo a agressão recíproca entre crianças e adolescentes.

O principal, ou seja, a origem e a conseqüência e os reflexos psicológicos saem do foco. Que trauma um tapa sem motivo pode provocar? A quantidade de lesões aparentes reflete a verdadeira violência?

Nos artigos do Paulo Freire, renomado educador moderno, pode-se constatar aquilo que já deveria ser transparente a todos.

Hoje, mais que a educação institucional, desde a alfabetização, os métodos pedagógicos têm uma função social: a de preparar nossos filhos para o convívio em sociedade, para a cidadania. O “papel” das palmadas não tem participação nessa formação.

Em seus artigos e livros, Freire procura estabelecer um método de educação voltado para a não violência. Uma educação para a paz, engajada no processo educacional, sem palmatórias físicas ou psicológicas. Palmatórias que cedo ou tarde venhamos a presenciar. Também estabelece relações entre a educação de nossos filhos e nosso futuro.

Ora, se somos conscientes e detentores da força física, agentes das palmadas, tem-se que inferir sobre o que pode pensar uma criança ao ser agredia pela pessoa que deveria acariciá-la e zelar pela sua segurança e bem estar.

Hipocrisia dizer que bater educa, que não dói e que não se deve revidar. Não é batendo hoje que seremos poupados amanhã.


quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre Zero Hora

Publicado em ZH de 30/07

Lendo o artigo Por uma vida desplugada (ZH de 28 de julho), fico me perguntando se o autor utilizou uma carta via correio para enviar o artigo, se enviou por e-mail ou foi até o Correio usar grude e selo. Comprou Zero Hora ou leu online?

É intrínseco à existência nossa a adaptação própria aos avanços tecnológicos ou, como dizem os antigos _ e deve ser o caso do articulista _, à modernidade. Ou ainda andaríamos em carroças.

Clei Moraes

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Militares trocam a farda pela política

Publicado na edição 150, do Jornal do Centro, de agosto de 2010.


A constituição brasileira não permite que militares e policiais tenham filiação partidária ativa e constante enquanto estiverem no exercício das funções. Contudo, isso não os impede de participar e se candidatar, bastando sua indicação em convenção partidária e imediato licenciamento. 

No Rio Grande do Sul, a recente entrada do Partido Republicano Progressista no cenário político é motivo de análise e consideração. Formado em setembro de 2009, traz como característica singular o expressivo número de policiais e militares reformados entre os filiados.

Nos próximos dias, a propaganda eleitoral gratuita deverá estampar as telas com quatro candidatos militares, dos seis inscritos pelo partido junto ao TRE gaúcho até o momento.  Destes, o candidato a governador é major da ativa da Brigada Militar, e a única candidata mulher é casada com um oficial da aeronáutica.

Essa composição inclui o próprio presidente do partido (que também é candidato e defende a reforma política) e um dos generais ligados a agremiação, ambos já integrados às forças armadas à época de 64.

São fatos que poderão trazer ao imaginário coletivo o debate sobre os governos do regime militar, sua participação na política e as implicações positivas e negativas na vida e bem-estar dos brasileiros.

Distante dessas preocupações e com o discurso voltado à segurança pública e à administração baseada na disciplina, seus militantes se consideram políticos preparados para “combater a violência com pessoas especializadas na área e com o rigor na execução de seus projetos”.

Outro partidário, de 93 anos, que conviveu com Médici, mas diz não acreditar no militarismo, cita Platão para lembrar que aqueles que não participam da política serão governados pelos que participam.

Inclusive, ele afirma que a atuação de militares na política contemporânea não deve significar ou sugerir qualquer recaída institucional, limitando-se  simplesmente a importante participação de um segmento representativo da sociedade.

Com sede em Porto Alegre e organizado em algumas cidades do interior, os partidários do PRP pretendem implantar suas propostas através da participação política, com candidatos majoritários e proporcionais.

Enfim, a participação no Legislativo e no Executivo através de eleições democráticas e transparentes, pautada no diálogo aberto, não dever ser a reivindicação de um partido, de uma classe ou de militares, mas de todos os eleitores.