terça-feira, 25 de março de 2008

Porto de Quintana

Publicado na edição 121 do Jornal do Centro - Abril 2008
Sinto uma dor infinita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...”

(Mário Quintana)

Como Quintana, sou um daqueles que nasceu no interior, mas que era porto-alegrense desde sempre. Também existe em mim um olhar sobre a cidade, onde “há tanta esquina esquisita,tanta nuança de paredes”.

Como caminhar pela Rua da Praia, que é tão mais tranqüila quando sai do Gasômetro e cruza por nós atravessando a Alfândega, alardeando nossos anseios de democracia na esquina com a Borges, sem perceber o caminho da história para chegar até o agora?

E no meio da multidão que compõe o quebra-cabeça desses que falam “di”, o que esperar da babel que nos leva e traz, sai do Mercado Público e contorna os mapas do mundo daqui: Açorianos, Argentina, Monte Vidéu e mesmo Porto Alegre até a nossa Redenção própria em meio às praças?

Quem são os moradores e visitantes, turistas, filhos adotivos da cidade do Porto dos Casais, dos amantes e do gaúcho que assiste ao pôr ou nascer do sol?

E o caleidoscópio que forma o corpo de quem mora aqui, será apenas reflexo nos braços do Guaíba?

Quando vim, o tamanho da cidade me assombrava, suas cores me assustavam, e o escuro da noite só era acalentado pelo bate-papo na rua da República, por essa vida cultural em cada sombra, pelo novo mundo dado a quem chegara já se sentindo em casa, como se à mesa da sala estivesse.

Depois, como tantos outros daqueles que “vendorô” e “compro-vale-vendo-vale”, a oportunidade aos que aqui estão. Somos todos desbravadores de um trabalho formal, de um minuto de certeza entre o primeiro e o último tri-legal. Bem-aventurados nós mesmos, ambulando pelas trajetos da cidade, do Paço ao Largo, do início ao Bom Fim.

E nestes dias de festa, uma semana, é preciso ter um pouco mais de romance ao olhar a capital. Encontrar o belo no envelhecer dos prédios que tombaram, das folhas que caíram e nas crianças que prospectam futuro nos balanços da praça da Matriz. E na esperança daqueles que oram. Ali, no meio de tantos poderes, o singelo poder de estar.

Porto Alegre estende sua mão, derruba seus muros e, no gentílico de porto-alegrense, oferece seus braços para acalmar o pesar daqueles que não são daqui. E que todos possam ter a sorte que tive, à luz que cidade me deu, de filho adotivo da capital, de pai deu um menino aqui nascido.

Somos porto-alegrenses, seja pela opção que fizemos, pelo coração da capital de portas abertas, e acreditamos sempre que, se há um lugar para se morar, é aqui, da beira do Cais ao alto do morro, do nível do rio ao Santa Tereza.

Doce ancoradouro de um alegre porto!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Política e Conferência das Cidades

Publicado no Jornal do Centro de 05 a 20 de março
O Forum Social Mundial deixou nossa cidade e se perdeu pelo mundo. Para trás, ficaram marcados os posicionamentos da dita esquerda, dando visibilidade para a capital como referência no campo das idéias. Consequência direta, Porto Alegre foi escolhida para realização da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento de Cidades.

Em fevereiro, passaram por aqui mais de trinta instituições, trezentos especialistas e cinco mil parciticipantes, nacionais e internacionais. Como ocorreu com o FSM, nesses dias, o incremento da economia e do turismo durante a realização do evento foi um dos principais destaques para os porto-alegrenses. Entretanto, não é este o principal legado da Conferência.

Foram debatidos temas que envolvem diretamente o cidadão em sua acepção, como habitante da cidade – esta que passa por crescimento e adequação. Nesse sentido, sustentabilidade e capital social foram abordados através da troca de experiênias, de soluções e projetos inovadores, envolvendo munícipes na definição de ações no cotidiano das metrópoles e das pequenas cidades.
Esse é o grande questionamento que nos cabe: qual o nosso papel em relação a nossa cidade, a nossa comunidade, ao nosso bairro? Somos nós que temos a vivência com os problemas e possíveis soluções, que, em nosso convívio, nos relacionamos com as demais redes de pessoas e com o poder público. Esse foi um dos principais motes abordados pela conferência: o capital social.

É essa inteligência coletiva dos moradores que é disperdiçada e que foi chamada de “nova cidadania”, engajando e dando responsabilidade ao cidadão . Por conseguinte, as ações dos agente políticos e públicos, muitas vezes, acabam por ignorar a visão de montanha dos moradores, agindo diretamente na planície. Metáforas à parte, temos visto nossa cidade mudar, sem saber quais os planos para o futuro, quais projetos nos aguardam e quais as consequências no nosso dia-a-dia.

São novos tempos, cujos temas trazidos nos parecem distantes, como integração nas democracias representativas e “cidades-rede”, defendidas pelos particibantes. Por outro lado, assuntos sobrevêm pela proximidade, como inclusão digital do bairro, construção da segurança local e redução da miséria, tão comuns em ano de promessas.

Mais uma vez, Porto Alegre se estabelece como referência na contrução de idéias, mais que da aplicação de recursos. Esperemos que nossos governantes deixem de lado a estiagem na criatividade política e que passem à prática do aproveitamento das idéias de seus eleitores.

sexta-feira, 7 de março de 2008

A soberania das Farc *

Publicado no Jornal do Comércio de 31/03/08
"A morte me parece uma opção doce."

A citação é de Ingrid Betancourt, que é mantida em cativeiro pelas Farc, e serve para ilustrar a angústia por que passam as pessoas mantidas em cativeiro pela guerrilha. Enquanto estes penan, os governantes brincam de todo poderosos.

Com economia de adjetivos, ainda assim é de pasmar a vocação latino americana de pobres países terceiro-mundistas face a cogitada aventura bélica por "invasão e violação de fronteiras".
Todos estão errados. Primeiramente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), por seu financiamento ligado ao narcotráfico e ao seqüestro.

Também, a Colômbia, por ter invadido território do Equador, ainda que com o justificado ataque às bases guerrilheiras.

E o Equador que se negara (até quarta) a aceitar o pedido de desculpas feito por aquele país na OEA - Organização de Estados Americanos.

Porém, mais culpado é a Venezuela, mais precisamente seu presidente, que de maneira oportunista vale-se do episódio para "armar" uma guerra. Mas contra os Estados Unidos!

Neste mesmo dia, dando início a sua escalada militar (sem precedentes desde as Malvinas), o senhor da guerra na América Latina, Hugo Chavez, deslocou tropas para a fronteira.

Justifica seu ato a pretexto de combate da expansão do império norte-americano. Entretanto, quase que imediatamente, o absurdo chavista é legitimado pela fala de George "War" Bush, que declarara apoio a Colômbia. Ao passo em que, na quinta (06), o presidente francês barganha a clasificação de terroristas das Farc pela libertação de Betancourt.

Esse absurdo não é o único. O que faziam os guerrilheiros em terras do Equador? Não combatem o governo da Colômbia? Acaso as FARC têm livre acesso territorial vizinho? Indagação necessária: estarão presentes no Brasil?

E mais: por que as organizações internacionais não se manifestaram em defesa da paz enquanto os chanceleres dos paises trocam acusações?

Concomitantemente, no Brasil, que deveria ser um expoente de democracia e defesa da paz, do diálogo continental, o presidente lulinha paz e amor espera pela investigação a ser feita pela OEA.
Titubeou! Era o momento da defesa da paz, e não de insinuações menores e da defesa de teorias ideológicas e de novos inimigos.
(* variante sobre o artigo anterior, de 06/03/08)

quinta-feira, 6 de março de 2008

A soberania das Farc

Estupefato. Atônito. Pasmo e, principalmente, assombrado. Sinônimos para estampar a preocupação que não só eu, mas que todos, absolutamente, devemos ter com nossos países terceiro-mundistas aventando a possibilidade de uma guerra na América Latina.

Todos estão errados. Primeiramente, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), por seu financiamento ligado ao narcotráfico e ao seqüestro. Depois, a Colômbia, por ter invadido o Equador, que se negou a aceitar o pedido de desculpas feito por aquele país na OEA - Organização de Estados Americanos. Mais que todos, a Venezuela, que, de maneira oportunista, vale-se do episódio para se armar para uma guerra, não contra os paises envolvidos, mas contra os Estados Unidos.

Nesta tarde de quarta-feira (5), dando início a sua escalada militar (sem precedentes desde as Malvinas), ao seu anseio de se tornar o senhor da guerra da América Latina, Hugo Chavez deslocou tropas para a fronteira. Justificando o ato pelo combate à expansão do império norte-americano, a Venezuela mobiliza suas tropas. Absurdo completo, referendado pela afirmação de George “War” Bush, que declarou apoio a Colômbia. Só não disse quem são os terroristas pelo seu ponto de vista, se os integrantes da guerrilha, ou os venezuelanos.

Esse absurdo não é o único, ou será que ninguém percebeu que os guerrilheiros mortos estavam no Equador, e não na Colômbia? Acaso as FARC têm livre acesso entre os paises? Podem elas ter “postos avançados” nos países vizinhos? Estão presentes no Brasil? Este é o questionamento imediato: a soberania, que, até o momento, é exercida apenas pelos guerrilheiros. E mais, por que as organizações internacionais não se manifestaram em defesa da paz enquanto os chanceleres dos paises trocam acusações?

No Brasil, quando deveria ser um expoente de democracia e um líder em defesa da paz, das soluções pelo diálogo, o presidente paz e amor espera pela investigação a ser feita pela OEA. Não seria o caso de fazer como o presidente Raul Correa, que busca apoio no Peru, Brasil, Venezuela, Panamá e República Dominicana através de visitas com os líderes destes países? Este é o momento da defesa da paz, e não da defesa de teorias ideológicas ou de novos inimigos.

É lamentável que assistamos a essa cena. É preocupante constatar que mais mortes possam vir a acontecer. Parece que as causadas pela falta de segurança pública, de saúde, pela miséria, e pelo trânsito — que tem matado mais que as guerras — não são suficientes. È preciso que evitemos qualquer tipo de conflito armado, ai sim, a qualquer custo, mas pela diplomacia e pelo diálogo.

sábado, 1 de março de 2008

debates@zerohora.com.br

Publicado em Zero Hora 02/02/08

Qual a sua opinião sobre as ações impetradas na Justiça contra o sistema da cotas da UFRGS?

· O acesso ao Ensino Superior deve ser feito com justiça responsável, e não com o pagamento de dívidas históricas ou com o assistencialismo barato de benefícios que servem apenas àqueles que assistem ao nascimento de mais uma forma de discriminação, a segregação social.

Clei Moraes


· Qualquer sistema de cotas, seja por raça ou tipo de escola freqüentada, é atrasado e injusto. Isso tem de acabar. Provoca mais discriminação, fomenta o ódio racial, e não ajuda a ninguém. É populismo burro. Tentativa de enganar os bobos.

· Lya Luft
Escritora - Porto Alegre

Vale a pena ver de novo?

Publicado em Zero Hora de 31/01/08

Consenso. Esta é a palavra que falta quando governos decidem passar à população a idéia de que as coisas vão bem. Não é verdade! Aos anúncios de boas novas, falta outra palavra nesta novela: diálogo.

Foi o que ocorreu agora quando, instigados pelo painel RBS na última segunda-feira (28), os gaúchos de lá (governo federal), Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Justiça), ambos petistas, e o senador Pedro Simon (PMDB) propuseram a criação de uma "agenda positiva" como solução para a crise que atormenta o Estado. Esqueceram de combinar com os gaúchos daqui (governo estadual). O resultado, mais um verbete: discórdia.

A proposta não é nenhum "Ovo de Colombo". No passado muito próximo, para aqueles que não se lembram, houve o Pacto pelo Rio Grande, que englobava desde entidades privadas ao Tribunal de Contas, passando – claro – pelos partidos, por entidades de trabalhadores, municípios, meios de comunicação. Como base também tinha sua agenda e o comprometimento daqueles que o subscreveram.

No site da Assembléia ainda podemos constatar uma enquete que aponta o "O compromisso do futuro Governador eleito com as sugestões do Pacto" como principal fator para que este pudesse dar certo. No mesmo endereço, também está a esquecida agenda mínima e um formulário que oportuniza sugestões. Seria o caso de sugerir o seu cumprimento?

No Legislativo, com a posse do novo presidente da Assembléia Legislativa, Deputado Alceu Moreira (PMDB), mais novidades. Por lá, a palavra convergência vai pautar as ações da nova Mesa diretora da AL. Como ele mesmo disse ao responder sobre como nasceu o programa Sociedade Convergente: "Nunca se pode tirar o direito da divergência", lembrando do antagonismo das forças políticas no Estado. Muito mais acirradas que no Governo Federal. Para os meios de comunicação, é o "agendamento" do assunto nas pautas da mídia.

No Executivo, enquanto analisa o "positivismo" dos gaúchos de lá, a governadora Yeda Crusius continua enfrentando desordem na casa e começa o ano sem medidas práticas, muito menos eficientes, ao passo em que, mais uma vez, a Segurança dá sinais de problemas. Enquanto exibia o vídeo do debate, a solução foi cobrar idéias contra a crise, esquecendo-se que, definitivamente, criatividade não parece ser uma característica de nossos políticos. Nem lá, nem aqui.


Só notícia boa! É o que os discursos estão prometendo para o ano de 2008, que deve se iniciar logo após o carnaval. Esqueçamos as nossas falências e limpemos as peneiras para nos protegermos do sol dos próximos dias de estiagem na criatividade política.

É o fim da picada!

Publicado no Jornal Diário da Manhã em 22/01

Era pra ser novidade, mas não é. No mínimo, deveria ser diferente, mas também não é. Enquanto o Ministro da Saúde assistiu as manchetes calado - por doze dias, mais uma vez, somos assolados por um mosquito. Desta vez, a febre amarela virou notícia.
É difícil acreditar que ainda enfrentemos as mesmas dificuldades que passaram Cristóvão Colombo e, depois, os brasileiros – pasmem – em 1846!


A história remota era da dengue. Porém, como o nosso conhecido Aedes aegypti também transmite a febre amarela, três anos depois, em 1849 (a primeira referência é de 1685), tivemos uma grande epidemia, ocorrida na capital do Império, no Rio de Janeiro.


Passaram-se os anos e a febre amarela urbana foi considerada erradicada em 1942. Contudo, o tempo parece não ter dado aos nossos governantes, nem ao nosso sistema público, a experiência necessária para erradicar tais doenças de nosso dia-a-dia, definitivamente.


E definitivo é palavra que nos falta quando falamos em saúde pública e erradicação de doenças no Brasil. Prova disso são as ocorrências de doenças ora epidêmicas, ora endêmicas.


Simploriamente, a diferença está na incidência da primeira, com grande número de casos em curto período de tempo; ao passo que a segunda se caracteriza pelo aparecimento de menor número de casos ao longo do tempo. Ilações conseqüentes: as doenças que têm como vetor um mosquito são endêmicas no país.


Outra inferência: se temos vacina como medida paliativa para febre amarela, por exemplo, não a possuímos para a dengue!


Ou seja, o uso de vacinas para combater surtos apenas atenua de forma momentânea determinado problema. Nesses casos, com origens maiores, como a falta de saneamento básico, a inexistência de programas sócio-educativos e de prevenção continuados, ou o simples emprego efetivo de receitas destinadas à saúde.


Em breve, como aconteceu no ano passado, inicia-se o ciclo das chuvas, quando a dengue volta a ser manchete. Esperemos que até lá estejamos com um plano de contenção eficiente, sem que tenhamos que enfrentar mais uma “operação emergencial mata-mosquito”.


Temporão, de acordo como dicionário Aurélio, é o que vem ou acontece fora ou antes do tempo próprio. Extemporâneo como poucos, o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse à época da dengue que “estamos perdendo a guerra para a doença”.


Agora, alheio aos acontecimentos e à experiência do consciente coletivo, o ministro vem a público dizer que “a situação é tranqüila!”. Até esse domingo, dia 20, já haviam morrido oito pessoas!
Fatal e ironicamente, tranqüilos estão os agora mortos. A julgar pelas filas e o fim dos estoques da vacina, os demais brasileiros parecem nervosos!

Camelódromo: a sufixação do problema urbano

Publicado no Jornal do Comércio em 22/01/08
Publicado no Jornal do Centro em Fev/2008


A idéia de reunir vendedores ambulantes em um único local, de modo à bem os localizar, regularizar e estruturar, parece ser uma solução de centros urbanos como capitais e cidades-pólo.

Embora referendando possíveis ilegalidades e irregularidades, o camelódromo pode vir a amenizar o comércio informal e a concorrência desigual.

O sufixo grego drómos significa lugar para correr, pista, local de fluxo, corrente. É a sufixação servindo como resposta aos problemas das cidades. Como ocorreu com o sambódromo da capital, deslocado para o Porto Seco!

Em Porto Alegre, teremos um camelódromo aéreo. O término da obra está previsto para maio deste ano, com o possível abrigo de 800 comerciantes.

Camelódromo aéreo? Supostamente, para atrair (mais) consumidores e/ou por "esconder" os camelôs da área central.

Em 2005, ainda na apresentação do projeto, a Associação dos Cegos do Rio Grande do Sul, que possui 28 bancas na Praça Montaury, alertou quer "o empreendimento teria de atrair 500 mil pessoas diariamente para poder manter as bancas que ali seriam instaladas". Afinal, quem são os cegos?

A construção tem servido como argumento para a proposta de revitalização do Centro. Onde o Projeto Monumenta transcorre concomitantemente. Mas, por favor, não faça juízo estético!

O trânsito foi modificado, preparando a população para a transferência dos terminais de ônibus e sua integração aos "Portais da Cidade". A estação do Trensurb também altera itinerários no entorno do Mercado Público.

Com toda a visibilidade que as mudanças e o assunto proporcionam em ano eleitoral, a construção do chamado Centro Popular de Compras (CPC) pode, entretanto, não resolver o problema da informalidade e do tumulto que acompanham as barracas dos camelôs.

Ademais, outras questões precisam ser respondidas pelas autoridades. Qual o tratamento que será dado à possível venda e/ou sublocação dos espaços?

O que vai ser feito quando da (provável) reocupação das vias públicas por outros e novos ambulantes?

Qual o impacto comercial que o deslocamento da população, a circulação de consumidores e transeuntes poderá causar?

As perguntas e a pressa das autoridades é o dicionário que responde. Através da sufixação dos problemas da cidade!

O ovo da serpente

Com mais um vestibular em curso na UFRGS, volta à tona o contraditório tema do acesso à universidade pelo sistema de cotas. Enquanto as federais e o ensino superior viram grife e estudantes escondem a habilitação como cotistas, o debate segue sem consenso.


A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma das mais conceituadas do Brasil, reúne a miscigenação dos gaúchos e do Brasil em seus corredores. Ali, também estão os principais cursos, a administração e o cérebro pensante da instituição. Pensante?
Recentemente, na Ufrgs, por trás da disputa de diretórios acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes, o tema foi o sistema de cotas para ingresso na faculdade, acalorando o debate em torno do pleito.


A disputa entre chapas colocou na vitrina a discussão velada entre nós: o racismo, a discriminação e a segregação racial. A chapa derrotada teve seus cartazes pichados com a suástica, chamando à baila a hipocrisia do discurso de igualdade racial que se apregoa em uníssono no Brasil.

Não foi a primeira vez. Em junho de 2007, o alvo eram os negros, com frases como "voltem pra senzala" pichadas nas calçadas da Av. João Pessoa. Infelizmente, o assunto “morreu” sem ser esclarecido.

As cotas, agora, são chamadas de sociais, discriminando alunos e permeando a questão do acesso ao ensino. Não como medida paliativa quando do ingresso na universidade, mas como política de educação desde a infância.

Associado a falta de diploma, o preconceito não faz distinção de gênero, número ou idade e amplia as hostes do desemprego. A concessão de benefícios – sejam eles quais forem –, quando transformada em privilégios, amplia a distância entre os grupos e camadas sociais, raças ou pessoas. E mesmo aqueles que são atingidos acabam por transformar seus grupos em militantes na busca de vantagens.


Já não bastassem tais formas de preconceito racistas ou de xenofobia, constatados em nossas ruas, tomadas por subempregos quase sempre ocupados por negros, índios ou mulheres, com a implantação das cotas, talvez ainda venhamos a presenciar cenas explícitas de segregação social.

A inclusão e o acesso ao ensino superior devem ser feitos com justiça responsável, e não com o pagamento de dívidas históricas ou com o assistencialismo barato de benefícios, que servem exclusivamente àqueles que assistem ao nascimento de mais uma forma de discriminação.

2007: crescimento com gosto amargo

Publicado na Folha de São Paulo de 28/12/07

Não é preciso ser Adam Smith, o teórico do liberalismo econômico, para perceber que algo está mudando em nossa economia. Sem otimismo e euforia governista, e ao contrário do que ocorre no Estado, o Brasil sinaliza crescimento.
Neste sentido, índices não faltam.

O IBGE cita crescimento de 2,9% de área colhida nas previsões para a safra de 2008, aliado ao aumento de mais de 80% da área de lavouras.


Já o comércio tem 9,1% acumulados no volume de vendas do comércio varejista, enquanto a indústria tem produção física de 10,3 % superiores em comparativo com 2006.


Os indicadores macroeconômicos apontam um crescimento do PIB de 4,8%, uma queda da taxa de inflação (3,8%) e saldo comercial favorável de US$ 39 bilhões.


Nesse cenário de porcentagens e cifras, visíveis ou não, o efeito dominó é evidente: queda do índice de desemprego (8,2%), o menor desde 2002.


Contudo, sem que as estatísticas positivas batam à porta e ainda nos pareçam distantes, é preciso manter olhos abertos e orelhas em pé. Ocorre que a política do "rouba, mas faz" é a capa protetora das ações de governos corruptos, que anunciam projetos a todo instante enquanto regurgitam a falência dos cofres públicos.


Se o momento econômico parece alentador, o setor público definha no engessamento burocrático da labuta cartorial, favorecendo o mal que há em suas veias. Refiro-me a corrupção institucionalizada que cerca de privilégios a classe política.


Segundo o Transparência Brasil, nas últimas eleições, cerca de 8,3 milhões de eleitores foram instados a vender o voto; 2 % do PIB são abocanhados mensalmente pela corrupção, que tem como dieta anual parte dos recursos oriundos de gastos indevidos e desvios.


A economia tende a recrudescer a distância entre os escândalos de corrupção e a sociedade que ainda não saboreia o mel da queda das desigualdades sociais, reiterando o prelúdio de "A Riqueza das Nações", que diz que movidos apenas por interesse próprio (self-interest) os indivíduos (ou políticos) promovem crescimento econômico e inovação tecnológica.


Para o próximo ano, o alerta que nos cabe é: “Será que estamos disposto a provar o gosto amargo do fel dos desvios de verbas e escândalos que envolvem nossos governantes em troca do tão esperado crescimento econômico, da qualidade administrativa e da eficiência do poder público?”


O Natal e o vendedor de papel para presente

Publicado no Jornal do Centro - Dez/07

Considerada uma das datas mais rentáveis para o comércio, o Natal aquece o mercado consumidor, repete notícias, reportagens, matérias e compras de última hora, transformando o Centro da cidade na Meca dos consumidores porto-alegrenses.


Como na peregrinação, a vinda ao centro é obrigatória ao menos uma vez na vida, para disputar espaço entre compradores apressados, sacolas, seguranças de lojas, camelôs (formais e informais) e vendedores de papel de presente — um dos símbolos, quase que exclusivos, de nossa Capital.


Antes, em um passado não distante, em uma das lojas de armarinho, ou em uma das "Mesblas e Renners", os presentes eram embrulhados pelos próprios vendedores, com fitas de cor vermelha e laços da melancolia que isso nos traz.


Era época de pouca pressa, em que parávamos para observar os enfeites natalinos que ainda alteram, em nossos dias, as fachadas de prédios e o cenário de nossas ruas.


O vendedor de papel para presente nasceu do casamento do comércio moderno com as compras de última hora. Não teve lugar no shopping, nem em uma mega store.


Hoje, observa o surgimento de grandes lojas e a transformação do Centro em referência em compras, oferecendo serviços, produtos de artesanato, mercadorias de R$ 1, 99, videogames e eletro-domésticos high-tech, e até automóveis.


Nas lojas, além do horário de funcionamento ampliado, o 13º auxilia a engordar o carrinho de compras, anabolizando as vendas em cerca de 7% a 10%, ampliando a oferta de empregos e fazendo com que o mês de dezembro seja época de bois gordos para o comércio, segundo o CDL. E para o vendedor de papel para presente, é claro!


Mas nem tudo é idílico nessa história. Alguns problemas ainda se repetem. A falta de segurança, o trânsito complicado que cria engarrafamentos — ainda mais agora, com a construção do camelódromo. Também a informalidade dos vendedores de calçada e o "shopping chão" da Rua da Praia agregam-se aos problemas não resolvidos no Natal de nossos governantes municipais.


Porém, o Natal é a celebração do símbolos e não leva em consideração os números do comércio, tampouco os problemas com assaltos nem mesmo a ceia do vendedor de papel para presente. É primordial solucionar os velhos problemas que acompanham a chegada do Papai Noel.
Clei Moraes – Consumidor (contato@clei.com.br)


A hipocrisia nossa de igualdade racial

Publicado no Jornal do Centro - Dez/07

Porto Alegre, por seus costumes cosmopolitas, abriga moradores vindos do interior e de outros estados e países. No bairro Bom Fim é onde a mistura de idiomas, cores e raças são mais evidentes.

No Centro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul - a UFRGS, uma das mais conceituadas do Brasil, reúne e revela a miscigenação dos porto-alegrenses e gaúchos em seus corredores. Ali, também estão os principais cursos, a administração e o cérebro pensante da instituição. Eu disse pensante?

Face à disputa de diretórios acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes, sempre há a participação de agremiações políticas que acaloram o debate em torno do pleito. Desta vez, o tema era o sistema de cotas para ingresso na faculdade.

A disputa entre as chapas colocou na vitrina uma discussão velada que quase não ocorre entre nós: o racismo. Quando a chapa derrotada teve seus cartazes pichados com a suástica e dizeres racistas, trouxe à tona a hipocrisia do discurso de igualdade racial que se apregoa em uníssono.

Não foi a primeira vez. Em junho deste ano, o alvo foram os negros, com frases como "voltem pra senzala" pichadas nas calçadas da João Pessoa. Agora, foi a vez dos judeus. Nas formas de preconceito racista, talvez ainda venhamos a presenciar cenas explícitas de xenofobia e anti-semitismo.

É fácil percebê-las em nossas ruas, tomadas por subempregos quase sempre ocupados por negros, índios e mulheres. O preconceito não faz distinção de gênero, número ou idade e amplia as hostes do desemprego.

A concessão de benefícios – sejam eles quais forem –, quando transformada em privilégios, amplia a distância entre os grupos e camadas sociais, raças ou pessoas. E mesmo aqueles que são atingidos acabam por transformar seus grupos em militantes na busca de vantagens.

O debate do racismo e preconceito deve permanecer para que os "pensantes" possam chegar à conclusão de que não é através de privilégios e benefícios que teremos uma sociedade mais igualitária, com menos diferenças sócio-econômicas e ou raciais.

É preciso que todas as políticas públicas, especialmente as que se referem à educação, tenham como baluarte o acesso, a inclusão e a justiça responsável, e não o pagamento de dívidas históricas ou o assistencialismo barato de benefícios.

A corrupção também usa bombachas

Publicado em Zero Hora 07/12/07
Síntese publicada no Jornal do Comércio de 12/12/07

“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente."

Passados cerca de cento e cinquenta anos da afirmação de Lord Acton, a máxima bate à porteira do Rio Grande, fazendo ruir (literalmente), em sua acepção, o frontispício de austeridade e politização dos gaúchos, deveras cantado e proclamado.

É essa bandeira, agora farrapa (com o perdão do trocadilho), que (ora) tanto nos aborrece. Não somos diferentes, não estamos distantes do suborno, do nepotismo, da extorsão, do tráfico de influência. Não somos melhores!

No Brasil — historicamente estabelecido pelo seu sistema cartorial autoprotetor, que concede foros privilegiados e legitima aqueles que obtém poder político, a corrupção alicerça-se na falta de punição e no crime sem castigo, transformando o “jeitinho brasileiro” em propina.

Prova dessa impunidade é o estudo divulgado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), que mostra que entre 1988 e 2007 nenhum agente político foi condenado pelo STF. Nesse período, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) condenou apenas cinco autoridades
Em suas variadas formas, a corrupção atinge-nos diretamente em todas as esferas da organização social e estatal. No RS, apesar da venda em nossos olhos, é fácil encontrar políticos, empresários e funcionários públicos envoltos em fraudes licitações e contratos irregulares, desvio de dinheiro público, enriquecimento ilícito e casos mal explicados.

Através do Google, em uma busca rápida pela palavra corrupção no site http://www.clicrbs.com.br/, encontramos mais de quinhentas ocorrências (524 no momento da pesquisa). Ali aparecem diversos municípos, do interior à capital.

Aparecem Detran, Procergs, prefeituras, autarquias, deputados, bancos, empresas, ministérios; enfim, Executivo, Legislativo e aquele que deveria zelar pela probidade, o Judiciário, figuram em denúncias, inquéritos, diligências e, quando raramente são citadas, prisões — temporárias, é claro.

Na chafurda gaudéria, vimos nossas instituições, representantes, agentes públicos e assessores afundarem-se cada vez mais, trazendo para a roda de chimarrão o cotidiano do mal que assola os brasileiros: corrupção e impunidade!

Humanamente, não poderia deixar de ser de outra maneira, a corrupção também existe entre os gaúchos. Não podemos é fazer olhos grossos e pecar pela omissão. Para este mal, há apenas um remédio: transparência, que deve existir desde o Presidente, passando pela Governadora, até o líder estudantil.

Clei Moraes

O BOPE me bateu

Publicado na Zero Hora de 06/11/07
Publicado no Jornal do Centro - Edição Nov/07

Quem dirigiu o filme ou interpreta o Capitão Nascimento? Assistiu a uma cópia pirata? E o ministro também? É "aspira, zero dois"? Perguntas ouvidas em qualquer roda de bate-papo ou lidas em "spams" e internet.


O BOPE e a opinião pública andam em lua-de-mel. A mídia eletrônica baixou o DVD antes do lançamento e derrubou a primeira peça do dominó. Depois disso, avalanches de manifestações (das quais não nos eximimos) favoráveis à truculência, às táticas de guerrilha oriundas do exército e aplicadas à favela — sim, à favela, não só aos bandidos. Para os alistados, treinamento militar de exército. Aplicá-lo significa tratar o outro lado como inimigo. E inimigos têm que morrer!


Direitos humanos são pra bandidos e políticos, não para o BOPE, nem para a população do morro que contracena no filme, já que os demais cariocas e brasileiros que não morreram, apanharam ou foram supostamente torturados, são meros telespectadores da sociedade, à sua margem. Onde está a cena do “pé na porta” da casa dos moradores de classe média-alta ou de outra casta de olhos que não querem ver?


Hipócrita a posição de alguns formadores de opinião que ejaculam precocemente ao bradar que o roteiro tocou na ferida aberta que o tráfico corrói. O mesmo com os "tortura-nunca-mais" que aproveitaram “a deixa” para pleitear seus quinze minutos de fama. Por isso o "blockbuster hollywoodiano" do momento não foi indicado ao Oscar norte-americano. Porque a beleza não existe na pobreza, e o consumo de drogas destroça nossas aspirações de engajamento social. E isso não é belo!


Os operações-especiais devem existir sim, mas para seu fim específico, mantendo em dia o comprometimento com a vida. E, apesar do site do BOPE (http://www.policiamilitar.rj.gov.br/bope/) ter como plano de fundo a imagem de um atirador de elite apontando para quem acessa a página, e mesmo estando em construção os link’s de responsabilidade social e relacionamento com a comunidade, os nossos (e os deles) direitos humanos devem ser preservados.


Agora, com a opinião pública ao seu lado, com os elogios às regras rígidas para fazer parte e se manter no grupo, é fácil “colocar bandido no saco”. São favoráveis as criticas e silenciosas as manifestações dos grupos de direitos humanos. Mas e quando um dos disparos não mais abater a um bandido e sim virar estatística de bala perdida ou baixas aceitáveis? Da platéia, ainda aplaudiremos? Bateu-me a dúvida.

Tradicionalismo em tempos de Orkut

Publicado no Jornal do Centro - Set 2007

Setembro é muito peculiar aos moradores de Porto Alegre. No início do mês, a Semana da Pátria enfeita prédios públicos. Em paralelo, no Parque da Harmonia, gaúchos constróem uma cidade que mantém vivo o tradicionalismo dos porto-alegrenses.

Durante os dias de acampamento, a programação —que vai desde a realização de gincana a provas típicas, feiras e shows — atrai a participação da população da capital e região metropolitana. Até o dia vinte de setembro, com a presença constante de dez mil pessoas e o compadecimento de mais 800 mil visitantes circulando diariamente entre os cerca de 250 piquetes, o Acampamento Farroupilha transforma o Centro no bairro mais populoso de Porto Alegre.

Não se trata de uma cabana, nem de um galpão, mas de um local para cultivar as origens gaúchas. Para os participantes, esta é a definição de Piquete. Além da pilcha e do churrasco, a construção dos piquetes serve de alicerce e de abrigo ao tradicionalimo. É um destes piquetes que tem tornado ainda mais peculiar o mês de setembro, integrando a gauchada através do Orkut.

O nome do piquete é Manotaço e é um dos pioneiros no acampamento, existindo desde o ano de 1991, composto por gente buenaça, que gosta de um truco, de uma churrascada. No Orkut, além da comunidade do Piquete Manotaço, existem outras 367 com este tema e mais de mil que fazem referência a CTG´s.

Respeitando o lema do piquete "Evoluir, pero no mucho", uma Comunidade do Orkut, a "Butequeiros de Porto Alegre" passa a fazer parte do piquete, unindo a modernidade de blogs, fotos digitais, "msn" e levando a tropeada digital ao Parque da Harmonia, desbravando estes novo campos "internéticos" em conjunto com a gaúchada.

A Comunidade Butequeiros de Porto Alegre tem por hábito reunir amigos pra um bate-papo nos finais de tarde,
além de comemorar aniversários e eventos. Neste mês, toda agenda foi feita em conjunto com os "piqueteiros", buscando valorizar a cultura gaúcha, com atividades que iniciam no dia 06, com baile, e vão até o dia 19. São aulas de gastronomia, previstas no projeto cultural, dança e gauderiês, além de uma ação beneficente no dia 17.

Uma curiosidade: no piquete, não tem computador.
Publicado no Jornal do Centro - Set 2007

02/07/07

Corrupção, cegueira e impunidade

Publicado no Jornal do Comércio de 28/05/07
Publicado no Jornal do Centro de junho/07

"O homem é um ser político". E "Não há nada de errado com aqueles que não gostam
de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam".

Para não assistir à corrupção de alguns políticos e fazer com que a Justiça perceba os fatos e manifeste reação, Aristóteles e Platão, filósofos, pensadores e autores respectivos das frases acima devem ter pedido à justiça a venda dos olhos — ou posto os olhos a venda.

Mais uma vez, estamos nós, eleitores, sendo enxovalhados pela política, e a argúcia já não nos é permitida quando tratamos do assunto. Nos últimos cinco anos, somos noticiados rotineiramente com o envolvimento de ministros, juízes e detentores de cargos públicos envolvidos em escândalos de corrupção no círculo em torno da popularidade intocável do lulismo. Pelas manchetes, estamparam seus rostos assessores, chefes de gabinete, eminências pardas na parceria com Zé Dirceu, Lalau, Medina, Palocci e outros tantos impunes de condenação que precedem Zuleido e Rondeau.

Por mais que se empenhe e possua a Polícia Federal seu mérito por trazer à tona mais um fato que carcome a esperança daqueles que venceram o medo pelo voto, nem São Galvão vai resolver o problema da corruptividade que degenera o estado brasileiro. Nem pela oração das WebCams e dos Gatos nem pela popularidade do santo e da PF. São pop, causam alarde, têm bons marqueteiros, mas são meros coadjuvantes entre o fato e o feito. Não condenam. É preciso alguém de fora para atestar milagres, abrir as portas do céu ou banir para o mármore do inferno. Vamos orar.

A corrupção derruba qualquer índice positivo de um país. O engessamento do judiciário permeia a eficácia do Ministério Público. A legitimidade e transparência da democracia brasileira é embaçada por políticos corruptos. A ação das polícias federal, civil e militar é truncada pela "burrocracia" de interesses imposta por legisladores. Na complexidade de tantos sistemas públicos, constróem-se castelos de privilégios.

Enquanto possuirmos foros privilegiados para funcionários públicos e detentores de mandatos, a Justiça continuará sendo uma estátua que serve de ícone em frente ao STJ, na praça dos três poderes: a corrupção, a cegueira e a impunidade.

31/05/07

Segurança pública e eu. E daí?

(* publicado na Zero Hora de 14/04/07)
(* publicado em O Nacional - Passo Fundo - de 14/04/07)
(* publicado no Jornal do Comércio de 16/08/07)

Assisto à política como quem assiste a um Gre-nal. Não gosto muito de futebol, mas, se quero ver de perto, tenho que pagar ingresso, como quem vai a um jogo. Nas suas áreas e torcidas, cadeiras ou geral, na segurança pública não é diferente, é mais uma distinção na maneira de pagar.

Quando vou a um jogo, faço parte da torcida sem estar organizado nela. Estatisticamente, gosto de saber quantos pontos, gols e outros números meu time marcou. Se quem o organiza o faz direito, muito que melhor, se é o técnico ou o dirigente, não faz diferença; se quem manda prender é o secretário ou a governadora, muito menos; se quem divulga meu saldo positivo é a imprensa ou o flanelinha que tem isso como assunto, que mau há? O importante é que foram presos, não por aqueles que 'comandam", mas por quem joga.

O que sei é que o outro time não quer que o meu ganhe. Pra isso, devem usar de suas técnicas e estratégias. Pra ver o jogo pela TV, também tenho que assistir aos patrocínios, e estes sempre existem. No intervalo, quando vão todos ao vestiário é que as mudanças e decisões são tomadas sem que eu veja ou saiba e possa acreditar que foi a melhor escolha. Como na política, vestiários e bastidores e treino secreto fazem parte do espetáculo, com 100 dias ou noventa minutos.
Como eu, há outros telespectadores, aqueles que apostam e aqueles que não. Há os cartolas e os líderes partidários. Se vou buscar um técnico porque o atual invadiu o campo, que ele faça parte do jogo. Se quem governa quer manter o time ganhando, há que buscar atacantes em outras áreas? Não sei, não jogo e muito menos aposto. Sou cidadão e o que vejo é meu time ganhando. Não faz diferença quem soltou os fogos. Nesse momento, mais que nunca, continuo assistindo a tudo de fora.

Metáforas com futebol viraram moda em razão do dono do campinho. Pra mim, não há outra melhor. Ninguém me pergunta se quero jogar ou ser treinador. Nem mesmo sou dono da bola. Daí, importa-me é ver meu time ganhando.


O Fim das Bandeiras

(* publicado no Jornal do Centro - poa de agosto/04)

Graças às eleições, alguns temas ressurgem das catacumbas do pensamento, dos porões libertários e dos telhados de vidro dos discursos. Jargões de ideários políticos que não farão parte de vida de nossos filhos e netos.
Devemos deixar de lado o pensamento da formação “ideológica” da esquerda, do “assistencialismo” de centro e da “doutrina” da direita. Velhos assuntos, como lei de imprensa, são tratados como temas de esquerda, repreendidos, cabe salientar. A denúncia, arma da esquerda, virou “homem-bomba” na direita com o nome de denuncismo, sendo verdadeira a recíproca. Foi-se o tempo de segurar uma bandeira na mão e defender uma idéia, quiçá um partido, nos troca-trocas atuais.
Porto Alegre — usada de exemplo como domicílio eleitoral, que deve ser explicado, pois dos vários de que fazemos parte, além do natural, do tributário, do residencial e outros tantos que se façam necessários — é um exemplo típico. Quando dos regimes militares, uma de suas características era a permanência no poder. Aqui, temos 16 anos da mesma idéia política no poder, o que não surpreende os mais venturosos políticos. Caminhamos para 20 anos de mesma proposta. E olha que nem Geisel, “o Tirano”, sonhou com isso.
Mas o que questionar? Em pleno ano eleitoral, vemos candidatos que têm como propostas o continuísmo mascarado ou, quando tentam inovar, esquecem-se que temas como transporte e segurança, muitas vezes, fogem da esfera municipal. E olha que nem menciono a gama de candidatos a edil semi-analfabetos em que a função legislar foge ao vocabulário. Entretanto, a campanha está nas ruas e um bom penteado e um sorriso tratado (no computador é claro) podem angariar alguns votos.
A mesmice paira no ar. Quanto mais específico o tema, pior. Para os porto-alegrenses, trata-se de tergiversar sobre o mesmo assunto, uma conversa para mesa de bar quando de fala do Centro. Quais soluções darão ao bairro, mudá-lo para Curitiba? Bani-lo para a Restinga? Mudar de assunto. Falemos de política internacional, de macro-economia e de um futuro que não viveremos. O presente é um carma, seja de esquerda ou de direita.
Ser candidato, passa por trata-se de ser um “good guy”, um cara legal, sendo a favor aqui e contra lá, e, mais uma vez, situação ou oposição. Essa é a política de poder de duas ideologias: ou se faz parte, ou se é contra, republicanos e democratas ao mais belo estilo americano. Contudo, deixemos a política ideológica para quem estiver animado a escrever a respeito, para que conste nos anais da história, em um capítulo encenado por Judas.
Nunca esquecendo que, graças a nossa boa constituição, que pouco legisla e menos regulamenta, há lugar para todos, inclusive ao sol. E, em tempos de política moderna: “Quem já não foi pragmático, que atire a primeira pedra.”

É dia das mães. Cadê meu pai?

Num outro dia, li o artigo de um amigo que defendia fervorosamente a união indissolúvel do casamento na Igreja Católica, nada mais atual em época de visita papal. Sou agnóstico. Os avós, meus e de meu filho, são separados. Quando digo que morreu o avô, do tio, do meu filho ninguém consegue me explicar quem morreu.


Segundo as últimas estatísticas do Registro Civil do IBGE, na média nacional, os divórcios tiveram uma alta de 15,5%, na comparação de 2005 com 2004. Supondo que, dada a nossa modernidade, antes do casamento estes já eram pais ou moravam juntos ou ambos, temos uma criança que vai passar o dia das mães em companhia de apenas um deles.

Mas e eu, alguém pode me incluir numa estatística? Acredito que todos os filhos devem estar, em primeiro lugar, junto às mães, são elas que nos ensinam o carinho, o afeto, o perdão e são elas que sofrem com casos de agressões que acabam motivando uma separação. Hoje, temos leis que garantem os direitos das mulheres, das mães. Mas quem garante o direito dos filhos de mães - isso mesmo - separadas?

Claro que me sinto culpado por estar longe de meu filho e por já ter perdido alguns passos da vida dele. Porém, transformá-lo em mercadoria ou visita de consultório nunca passou por minha cabeça. Romântico, ainda acredito no amor que motiva casamentos e filhos, mas não creio que a instituição da família deva ser mantida sem que haja amor entre os pais. A criança deve crescer sabendo que é filha de pais separados, para que o doce da união familiar não seja roubado mais tarde, quando se está formando opiniões que vão conduzi-la a uma vida bem suscedida ou ao analista mais próximo.



Para os casos de pais que criam seus filhos sozinhos, acredito neles e no seu papel de sentir na pele e defender o dia-a-dia de ser mãe, para que continuemos comemorando o segundo domingo de maio como uma data especial (o que me faz lembrar que devo ligar pra minha progenitora neste domingo).

O avô do tio do meu filho é o sogro de meu pai.

(* publicado no Jornal do Comércio de 11/05/07)

31/05/07

Sobre passagens aéreas

Enquanto discutimos o uso indevido de passagens aéreas pagas com dinheiro público, oriundo do fundo partidário, uma outra questão perpassa a estratosfera das conversas políticas. É o uso dos programas de milhagens disponibilizados pelas empresas de transporte aéreo para acirrar a concorrência.


O silogismo deveria ser evidente, mas não é. Se dinheiro público paga passagens para funcionários do governo, comissionados e terceirizados, não seria o óbvio que o benefício do uso desses programas disponibilizadas pelas empresas retornassem ao governo?

Sim, mas nesse país que tem o presidente mais ético do mundo paga passagens de parentes e viagens de férias com milhas ganhas pelo dinheiro público.

31/05/07

De um mail

"Estou aqui olhando meu Título de Eleitor... tentando entender o real significadode "Zona Eleitoral"

31/05/07

Carta pro Lula

Lula,

A idéia de te escrever uma carta, nem me é original. É coisa de um outro amigo chamado Ástor. É pena que seja uma carta de internet, dessas modernas do mundo de hoje, pois sei que, ao acabar, estarei molhando o teclado com lágrimas, ao invés do bom e velho papel.

Eu, como teu marketeiro, acredito, de brasileiro e brasileiro nato que sou, que o bom do Brasil é o brasileiro, aquele da propaganda, que também gosta de dar exemplo. Lula, eu sou menos pobre do que já fui e estudei, pelo menos um pouco de história, que é pra tentar entender a vida, as pessoas, a política.

Eu não sei mais se tu és brasileiro, ou se o Roberto é o Talentoso Ripley, aquele que se disfarçava nos filmes, ou se ele é o Jânio, no meio de tantas mímicas, ou se tudo que tu fez até agora não é encenação.

O Fernando disse uma vez que o que não fosse retórica era e tu achando que metáforas de futebol iriam nos fazer entender o que era falácia. Eu bem que tentei, mas acho que não sei o que são figuras de linguagem.

Mas pode ser uma conspiração, daquelas que os militares já faziam em 24, querendo votar e pregando moralização. E assim passou o tempo, até o Getúlio, que colocou o Lindolfo (parente do outro Fernando) no ministério do trabalho. Tudo bem, mas eu espero Lula, que tu não tenha um Plano Cohen na manga e que o único Dutra seja o tal do bigode, o Olívio.

Mas te peço, também, que tu não caias na disparrela, apesar da imprensa toda não estar mais a teu favor, e deixe os jornalistas em paz. Não quero mais nenhum Lacerda pra explicar pros filhos que ainda não tive.

Tu sabes no que deu, e nem sei se tu andas bem ou mal acompanhado, mas não deixa que passem pela Tornelero, se não já viu. Lá vai alguém pedir a tua renúncia, e sempre vai ter alguém pra concordar. Nem te desespera, tiro no peito tá fora de moda.

Depois disso, não sei que idade tu tinhas nem por onde andavas, mas eu li, te falei que sou daqueles brasileiros que lêem? Vem o JK e um golpe preventivo em seguida, pra deixar o J assumir, tu já ouviu falar nisso? E em doença preventiva? Coisa de louco! eu nem acredito.

Presidente, também não prenda quem te critica, pois isso já é "demodê", muito menos faça como o Jânio e condecore um ícone de sua época, como o Chavez ou Fidel.

Segura as pontas, Lula, o Jânio renunciou depois dessa e muitas outras, e já não temos o Brizola pra fazer campanha de Legalidade, se bem que com o teu presidente da Câmara e teu Vice, não sei no que ia dar. Mais renúncias de gabinetes? Sei não...

Ai, ai, ai.. Lá vem os AI´s. O primeiro depôs o presidente, os outros depuseram os brasileiros. Mas disso eu quero esquecer, que é pra não lacrimar antes de acabar. Olha só, lembrei de uma coisa, em 80 aprovaram o manifesto do PT, tu lembra disso? Te prenderam um pouco depois, e depois tu virou presidente do PT.

Depois do PT, veio a CUT, que já tem até o seu ministro. Isso foi em 83, antes das diretas, aquelas que a Câmara não aprovou em 84. O teu amigo amigo Sarney já andava brigando com o governo pra poder ter seu cargo, ou partido, e ser vice do falecido, pra depois dizer que não ia pagar a dívida com a fome do povo. Putz! E tu?

Ah, Lula, to sendo irônico pra não chorar. Sério mesmo. Porque depois disso tu já ia começar a ser candidato. E logo ali surge, do PMDB, o PSDB, e um de teus Fernandos. Pro outro, tu sofre a primeira derrota.

Depois disso, tu pensou que era sorte a Rosane sofrer denúncias na LBA ou graça quando o Pedro Collor denunciou o mano e o PC, que era tesoureiro, mas sei que esse cargo é um que tu não gosta de comentar, também não é só tu. No PT, já conteceu isso com os gaúchos e esse cargo.

E lá se foi o Collor, veio o Itamar e o Fernando vira ministro da Fazenda. No meio disso, de uma denúncia, os anões do orçamento. O José Carlos não tinha provas, mas era verdade. E pra não ficar nessa, tem CPI do Judiciário e o Nicolau. Enquanto isso, o Fernando fica preservado pra virar presidente. Será que é isso que tu quer com o Paloffi?

Bem, o Fernando, esse, acabou ganhando de ti. Até que um dia, tu ganha dele, e diz que a esperança venceu o medo. Mentiu pra mim, eu to com medo, medo de ti, de impeachement, de renúncias, de mais denúncias, de dinheiro nas cuecas.

Lula, eu não votei em ti, porque eu tinha medo, mas tinha esperança. E agora? Continuo com medo, mas onde está minha esperança?

Ahh... que vontade de chorar, eu acreditei, acredito nos brasileiros, acreditava que tu fosse um deles. Eu nem sou dos mais bobos e chorões dos brasileiros.

Talvez tu seja o último dos irônicos, depois do Collor, ou o primeiro deles.

Clei, um brasileiro

31/05/07

O PT, os outros e passionalidade - III

A resposta fácil, e deixar de pagar por ela, não é tão natural quanto parece. Personificado pelo Mendonça, que além de responsável pela imagem do PT, do presidente e de grandes projetos como o Fome Zero, foi protagonista em flagrante de rinha de galos e chegou a ser afastado do comando da campanha de Marta, o marketing e suas divisas são tratados como ferramentas da direita perante os candidatos petistas.


Pagar é desforra, é recompensa, retribuição e, como tal, pode ser tema de retórica. A forma de pagamento de eleitores pode ser direta, funcional. Sabemos que o índice de desemprego em Porto é um dos menores das capitais do Brasil, cerca de 10% segundo o IBGE. Também sabemos que a informalidade e os empregos temporários são práticas comuns em nosso comércio. Com os partidos políticos não é diferente, é uma espécie de oferta de emprego de final de ano quando temos eleições. Neste contexto, uma oportunidade de emprego é aproveitada por qualquer eleitor necessitado, seja como panfleteiro ou, perdoando o trocadilho, bandeireiro. Embora não admitam, com o PT, não é diferente.

Já na prefeitura, a forma de recompensa é outra. João Verle, o ex-vice, que substitui o peremptório, anunciou, no dia 14 de outubro, um pacote de benefícios para os servidores municipais que incluiu o aumento de 14,29% do vale-refeição, cujo valor estava congelado havia dois anos, além de progressões, gratificação de incentivo a arrecadação e abono permanência (como se pode ver no link http://www.portoalegre.rs.gov.br/noticias/Default.asp?proj=81&secao=369&m1=25802) . Mobilizou, de fato, pois o aumento foi divulgado amplamente, na mídia e no Site da Prefeitura. O tiro no pé de mobilização conseguiu reunir cerca de 500 muncipiários junto à prefeitura, protestando contra a medida eleitoreira.

Outro pagamento eleitoreiro vem em forma de entrega de obras para a população, um dos itens da cartilha Duda/Maluf de marketing político. No sábado, dia 23, uma das propostas do atual candidato da Frente Popular foi entregue aos cidadãos: o último trecho da duplicação da Avenida Teresópolis, os 12,3 quilômetros da 3ª Perimetral, não sem antes deixar faltando a ligação entre as avenidas Aparício Borges e Teresópolis. Aqui chamamos de Perimetral; em São Paulo, de linhas.

Não se trata de questionar os marqueteiros, mas a masturbação de falácia pela qual os eleitores vestidos da armadura de militância se valem. Se de um lado é tácito que este tipo de estratégia existe no período eleitoral, de outro, há um discurso e outra prática e, para isso, a população é instigada a representar em cima de técnicas de comunicação, como espiral do silêncio, que, em poucas palavras, tende a ressaltar o silêncio imposto pela opinião dominante, veiculada, sobretudo, pelos meios de comunicação, provocando assim uma imposição do silêncio àquelas supostas vozes discordantes, tornando a opinião majoritária ainda mais dominante, técnica esta muito utilizada nos meios de comunicação dos governos petistas e do próprio PT, interna e externamente.

Mas ainda não podemos firmar definitivamente nossa hipótese, que, como tal, não é absoluta, a respeito da féria do partido dos trabalhadores com relação à suposta militância-gratuita-e-de-carteirinha sem passarmos pelo “pannis et circences” que são os showmícios.
No final de semana do dia 17, artistas locais, depois de terem devidamente gravados sua participação no horário eleitoral, faziam festa junto ao Gasômetro para tentar angariar mais algum eleitor. Neste final de semana, para “conclamar” a dita maré vermelha de militantes, foi necessária a presença de uma famosa dupla de cantores sertanejos. Somando tudo, os Gastos do PT com shows eleitorais superam R$ 10 milhões, que, segundo a agência de notícias O Estado de São Paulo, tem como principais artistas contratados pelo partido a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano, cujas 40 apresentações custarão R$ 3 milhões ao partido.

31/05/07

O PT, os outros e passionalidade - II

Estandarte das administrações do PT, o Orçamento Participativo serve de estola para seus candidatos e marqueteiros, como se para isso fosse necessário o respectivo sacerdotismo. Sob a promessa do malefício causado pelos opositores com um suposto fim do OP, cobram o dízimo eleitoral a cada pleito. Mesmo não tendo parcela significativa no orçamento da prefeitura, o medo propagado pela publicidade da não participação dos cidadãos é utilizado para impelir seus militantes, desconsiderando origens e demais formas de participação existentes, como a da participação direta, sem temas e delegados pré-determinados. Há o mérito, sem dúvida, respaldado pela mídia e propaganda internacionais.


Ainda com relação ao medo, existe a possibilidade de alguns cargos em comissão simplesmente deixarem de ser ocupados pela mesma pessoa, e olha que alguns há quase 16 anos. Os mesmos ocupantes que, na maioria das vezes, além da política, não possuem uma outra profissão. Contrapondo o número destes cargos, já que a prefeitura utiliza muitas funções gratificadas, existem os funcionários públicos municipais, também remunerados como dissemos anteriormente. Em retribuição ao trabalho prestado, ter salário de CC é uma arte, balançar bandeira em frente às instituições municipais, faz parte.

Não fosse tão somente os integrantes da prefeitura é necessário constatar que a cidade esta sitiada, pois é necessário dar visibilidade ao público com relação às adesões dos eleitores ao exercício da militância. Domingo, dia 24, vários ônibus ocupavam a rua João Pessoa. Lotados de bandeiras e pessoas com as respectivas marcas e logotipos de movimentos sindicais ligados ao Partido dos Trabalhadores. Fora o translado, o city tour, as passagens e, em alguns casos, a hospedagem, ainda foram galardoados com sanduíches estilo pão e manteiga quase ao final da tarde. Alguns concederam entrevistas para os programas. Difícil foi não perceber que os transportes vinham da região metropolitana, Bagé, Santa Maria, Alvorada e que os sotaques interioranos estavam presentes.

Um dos princípios da democracia é a alternância no poder. José Genoino, presidente nacional do PT, diz que essa é uma das defesas de seu partido, o que chama de “democracia substantiva”. O mesmo José relembra que o regime militar durou cerca de 20 anos e sabotou “as regras constitutivas da democracia e seus procedimentos, como o sufrágio universal, a liberdade de organização e expressão, o pluralismo partidário, o Estado democrático de Direito, o exercício limitado do poder e a alternância no poder. Esquece-se do sectarismo político que vivem os poto-alegrenses, como colorados e gremistas, maragatos ou ximangos.

A representatividade de uma capital como Porto Alegre para a esquerda mundial só encontra precedentes em países europeus. O Fórum Social Mundial e mesmo o Orçamento Participativo, que encontra respaldo na Organização das Nações Unidas, ou a qualidade de vida de nossa cidade não são propriedades, logotipia ou peça publicitária de esta ou aquela agremiação, mas uma conquista de todos nós. Esse engajamento dos gaúchos e a defesa ferrenha de nossos interesses de cidadãos nos são características natas, sem que sejamos pagos com obras, showmícios ou exigidas taxas políticas a cada eleição. Dessarte, somos o pleno exercício da democracia social que Gilberto Freyre identificou no povo sulino.

A passionalidade está em, incitados a rebater qualquer argumento que gere dúvida, militantes transformarem-se em combatentes de armadura, elmo e cota de malha. A política mudou e está em constante mutação, chegaremos ao ponto em que esquerda e direita não mais existirão, mas até lá o PT continuará, como outros partidos, pagando pela militância que lhe convier, da forma proveitosa que se fizer necessária, tentando manter o discurso e habituando-se a ter o marketing como aliado. Quando à pratica. Bem...

O PT, os outros e passionalidade - I

As campanhas eleitorais modernas diferem das que precederam a era Collor em dois aspectos relevante, a militância e o marketing como ferramentas eleitorais. Entender como esse processo se dá é condição “sine qua non” para que possamos elocubrar as razões da possível derrota do PT em Porto Alegre e dos motivos que o fazem adotar práticas marqueteiras.


Antes de tudo, precisamos diferenciar militantes e eleitores. O primeiro — como o nosso bom e velho amigo Dicionário Aurélio explica e continua sem ilustrar — é um combatente, que atua, um apóstolo ou “6. Aquele que pertence a alguma das organizações apostólicas da Igreja.” Já o eleitor é, singelamente, “aquele que elege”. Pois que os porto-alegrenses votantes do PT em eleições passadas não eram militantes, mas eleitores imbuídos de tal tarefa, embebecidos pelo discurso de participação.

Mas como manter a proliferação extraordinária da maré vermelha com suas bandeiras, para o público externo, sem que fosse necessário pagar para isso e ter que entrar no jogo publicitário que se transformaram as campanhas? E, ainda, provar que a militância existe de fato e trabalha pela causa e não pelo salário. Fácil: Marketing.

Utilizar a publicidade e a propaganda como ferramenta para eleger um candidato é coisa de americano. Literalmente, John Kennedy implantou tais táticas, dando origem ao marketing político em 1960, propagado mundialmente. Em Israel, Ariel Sharon, sabidamente um homem de direita, elegeu-se primeiro-ministro valendo-se de tais técnicas, posando de estadista e como um bom velhinho, conquistando a esquerda. No Brasil, em 1989, Fernando Collor inauguraria este estilo de campanha, saindo do nada para eleger-se Presidente, pelo partido que criara para tal. Na última eleição, Lula abandonou a barba mal feita e a camisa vermelha com calça jeans por um cabelo aparado e ternos de marca.

Partindo de São Paulo, Duda Mendonça, em 1998, usou o slogan “Foi Maluf que fez” para tentar elegê-lo presidente, mostrando as obras realizadas por Maluf (e eleito seu pupilo, Celso Pitta) depois de ter derrotado Erundina, na época petista. Hoje, o mesmo Duda e sua nau continuam a expedição Brasil afora, utilizando o mesmo jargão e suas variáveis. Desrespeitando as peculiaridades regionais, em São Paulo, o slogan é “Marta faz bem-feito”; em Porto Alegre é “Raul faz melhor”, apaulistando a campanha para a prefeitura e, indiretamente, comparando Raul Pont e os petistas a Paulo Maluf, que, atualmente, pede votos para Marta.

(...)

O PT e os Outros

Foi-se o tempo em que o dicionário Aurélio associava a imagem de um petista ao lado da palavra militância. Invariavelmente, são pagos para fazê-lo. Contudo, por ser essa uma prática da direita, não podem declará-lo abertamente.

Nas ruas, vimos pessoas que, agora, neste segundo turno, carregam bandeiras da instituição petista, não do candidato Raul. Uma das causas é a perpetuosidade dessa militância na prefeitura, a justificativa para que assim o façam e pratiquem. Funcionários públicos da prefeitura, os famosos municipiários, foram recentemente pagos, com aumentos e gratificações. Os cargos em comissão, alguns deles ocupados pela mesma pessoa há 16 anos, sofrem do aumento em cascata, pagos também. Conselheiros da principal bandeira da atual administração popular são pagos com o temor de perder a participação, artistas são pagos pela oportunidade de valer-se de projetos culturais da prefeitura, não se questiona o mérito, mas o método, o mesmo que cria capelas de devotos na cultura, no turismo, e nas áreas de assistência popular e acesso à informação.

Os excluídos da folha de pagamento do PT na prefeitura, os militantes de carteirinha, agora são pagos com showmícios. Pra só assim se ver novamente a tão malfadada e temida — pelos oposicionistas — maré vermelha. Os demais, os eleitores não identificados, os simpatizantes, são pagos com obras que permaneceram paradas durante o ano para serem retomadas somente agora.

O PT é, em Porto Alegre, hoje, uma grande máquina-de-pagar-militantes, de propaganda partidária e de marketing político, que se vale de técnicas de comunicação para transmitir um discurso enquanto exerce outra prática, ao estilo faça o que eu digo e não o que eu faço. Enquanto isso, o Duda Mendonça vira militante.

Não vemos pessoas carregando bandeiras do Pont na rua, pois não é ele quem os patrocina, é a instituição. Ao contrário dos partidos, que personificam suas bandeiras, seus candidatos, independentes de qual agremiação defendam ou com a qual se identifiquem. Não votam os porto-alegrenses no Raul, mas na máquina administrativa petista.

Não se trata de carregar, especificamente, a bandeira do Fogaça, mas sim de ser o outro, o cara que não é do PT, do OP, um ET!

31/05/07

Teoria da Conspiração (ou 10 passos para um Golpe de Estado)


1) Enfraqueça o Poder Legislativo
2) Crie uma forma de Legislar com Medidas Provisórias
3) Enfraqueça o Poder Judiciário e retire poderes do Ministério Público
4) Crie uma forma de controlar o Judiciário, fiscaliza-o
5) Não deixe que a população saiba o que você está fazendo
6) Censure os órgão de imprensa
7) Crie um órgão fiscalizador para atuar nos itens 5 e 6
8) Desarme a População
9) Amplie e coloque o exército nas ruas
10) Repita as histórias de ditaduras mundiais

“Nos Estados ditatoriais ou terroristas, um regime tende a ganhar aquiescência e até aprovação com a simples passagem do tempo” (Peter Berger)

O “Estado Democrático de Direito”, como prega a constituição e alardeiam alguns juristas expoentes, tem por base a democracia, a liberdade de expressão e a submissão voluntária ao controle social desse Estado, uma de suas premissas. Outras delas são os Poderes, Legislativo, Executivo e Judiciário.
Desconsiderando os fins sociais que possam ter conquistado; há muito, o gosto pelo poder é saboreado por países de ideologias democráticas questionáveis — como na Venezuela, mais recentemente — alicerçado pela violência oficial (geralmente militar), cabe alertar.
O Ministério Público não tem só a função de oferecer denúncias contra políticos, embora o faça e por isso esteja sendo questionado. Sua extinção afeta diretamente às funções do Judiciário e a fiscalização das polícias, o que transfere tarefas para ambos, acabando com a fiscalização da corrupção, da truculência na polícia, tornando mera burocracia a função organizacional da Justiça. Dessa forma, retorquindo a liberdade de ir e vir, mais uma vez,
Já o Poder Legislativo deveria, em tese, criar leis e fiscalizar o Executivo. Entretanto, foram-lhe usurpadas as funções com a edição continuada de Medidas Provisórias. Como fazê-lo quando lealdades pessoais entre parlamentares e representantes diretos do Executivo valem, literalmete, mais?
Continuadamente, são ditas verdades absolutas, e a liberdade de imprensa tende a questionar dogmas estabelecidos. Não quando a mordaça a impede. A censura, que outrora fora combatida, agora, está prestes a calar o “Quarto Poder”, essencial à manutenção da trama social. Vivemos a nova era do “stalinismo” no Brasil, em que a política de imprensa a ser implantada deve calar a voz daqueles que o "elegeram", e o fascínio pelo poder faz sucumbir qualquer discurso eleitoral.
São outras revoluções da “esquerda”, onde se prega o desarmamento como forma de diminuir a violência, enquanto se aumenta o poder das forças policiais e militares.
Será que você está vendo essa história?

Clei Moraes
Estudante de Ciências Políticas
cleimoraes@terra.com.br

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