sábado, 1 de março de 2008

2007: crescimento com gosto amargo

Publicado na Folha de São Paulo de 28/12/07

Não é preciso ser Adam Smith, o teórico do liberalismo econômico, para perceber que algo está mudando em nossa economia. Sem otimismo e euforia governista, e ao contrário do que ocorre no Estado, o Brasil sinaliza crescimento.
Neste sentido, índices não faltam.

O IBGE cita crescimento de 2,9% de área colhida nas previsões para a safra de 2008, aliado ao aumento de mais de 80% da área de lavouras.


Já o comércio tem 9,1% acumulados no volume de vendas do comércio varejista, enquanto a indústria tem produção física de 10,3 % superiores em comparativo com 2006.


Os indicadores macroeconômicos apontam um crescimento do PIB de 4,8%, uma queda da taxa de inflação (3,8%) e saldo comercial favorável de US$ 39 bilhões.


Nesse cenário de porcentagens e cifras, visíveis ou não, o efeito dominó é evidente: queda do índice de desemprego (8,2%), o menor desde 2002.


Contudo, sem que as estatísticas positivas batam à porta e ainda nos pareçam distantes, é preciso manter olhos abertos e orelhas em pé. Ocorre que a política do "rouba, mas faz" é a capa protetora das ações de governos corruptos, que anunciam projetos a todo instante enquanto regurgitam a falência dos cofres públicos.


Se o momento econômico parece alentador, o setor público definha no engessamento burocrático da labuta cartorial, favorecendo o mal que há em suas veias. Refiro-me a corrupção institucionalizada que cerca de privilégios a classe política.


Segundo o Transparência Brasil, nas últimas eleições, cerca de 8,3 milhões de eleitores foram instados a vender o voto; 2 % do PIB são abocanhados mensalmente pela corrupção, que tem como dieta anual parte dos recursos oriundos de gastos indevidos e desvios.


A economia tende a recrudescer a distância entre os escândalos de corrupção e a sociedade que ainda não saboreia o mel da queda das desigualdades sociais, reiterando o prelúdio de "A Riqueza das Nações", que diz que movidos apenas por interesse próprio (self-interest) os indivíduos (ou políticos) promovem crescimento econômico e inovação tecnológica.


Para o próximo ano, o alerta que nos cabe é: “Será que estamos disposto a provar o gosto amargo do fel dos desvios de verbas e escândalos que envolvem nossos governantes em troca do tão esperado crescimento econômico, da qualidade administrativa e da eficiência do poder público?”


Nenhum comentário:

Postar um comentário