sábado, 1 de março de 2008

O ovo da serpente

Com mais um vestibular em curso na UFRGS, volta à tona o contraditório tema do acesso à universidade pelo sistema de cotas. Enquanto as federais e o ensino superior viram grife e estudantes escondem a habilitação como cotistas, o debate segue sem consenso.


A Universidade Federal do Rio Grande do Sul, uma das mais conceituadas do Brasil, reúne a miscigenação dos gaúchos e do Brasil em seus corredores. Ali, também estão os principais cursos, a administração e o cérebro pensante da instituição. Pensante?
Recentemente, na Ufrgs, por trás da disputa de diretórios acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes, o tema foi o sistema de cotas para ingresso na faculdade, acalorando o debate em torno do pleito.


A disputa entre chapas colocou na vitrina a discussão velada entre nós: o racismo, a discriminação e a segregação racial. A chapa derrotada teve seus cartazes pichados com a suástica, chamando à baila a hipocrisia do discurso de igualdade racial que se apregoa em uníssono no Brasil.

Não foi a primeira vez. Em junho de 2007, o alvo eram os negros, com frases como "voltem pra senzala" pichadas nas calçadas da Av. João Pessoa. Infelizmente, o assunto “morreu” sem ser esclarecido.

As cotas, agora, são chamadas de sociais, discriminando alunos e permeando a questão do acesso ao ensino. Não como medida paliativa quando do ingresso na universidade, mas como política de educação desde a infância.

Associado a falta de diploma, o preconceito não faz distinção de gênero, número ou idade e amplia as hostes do desemprego. A concessão de benefícios – sejam eles quais forem –, quando transformada em privilégios, amplia a distância entre os grupos e camadas sociais, raças ou pessoas. E mesmo aqueles que são atingidos acabam por transformar seus grupos em militantes na busca de vantagens.


Já não bastassem tais formas de preconceito racistas ou de xenofobia, constatados em nossas ruas, tomadas por subempregos quase sempre ocupados por negros, índios ou mulheres, com a implantação das cotas, talvez ainda venhamos a presenciar cenas explícitas de segregação social.

A inclusão e o acesso ao ensino superior devem ser feitos com justiça responsável, e não com o pagamento de dívidas históricas ou com o assistencialismo barato de benefícios, que servem exclusivamente àqueles que assistem ao nascimento de mais uma forma de discriminação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário