sábado, 1 de março de 2008

A hipocrisia nossa de igualdade racial

Publicado no Jornal do Centro - Dez/07

Porto Alegre, por seus costumes cosmopolitas, abriga moradores vindos do interior e de outros estados e países. No bairro Bom Fim é onde a mistura de idiomas, cores e raças são mais evidentes.

No Centro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul - a UFRGS, uma das mais conceituadas do Brasil, reúne e revela a miscigenação dos porto-alegrenses e gaúchos em seus corredores. Ali, também estão os principais cursos, a administração e o cérebro pensante da instituição. Eu disse pensante?

Face à disputa de diretórios acadêmicos e do Diretório Central de Estudantes, sempre há a participação de agremiações políticas que acaloram o debate em torno do pleito. Desta vez, o tema era o sistema de cotas para ingresso na faculdade.

A disputa entre as chapas colocou na vitrina uma discussão velada que quase não ocorre entre nós: o racismo. Quando a chapa derrotada teve seus cartazes pichados com a suástica e dizeres racistas, trouxe à tona a hipocrisia do discurso de igualdade racial que se apregoa em uníssono.

Não foi a primeira vez. Em junho deste ano, o alvo foram os negros, com frases como "voltem pra senzala" pichadas nas calçadas da João Pessoa. Agora, foi a vez dos judeus. Nas formas de preconceito racista, talvez ainda venhamos a presenciar cenas explícitas de xenofobia e anti-semitismo.

É fácil percebê-las em nossas ruas, tomadas por subempregos quase sempre ocupados por negros, índios e mulheres. O preconceito não faz distinção de gênero, número ou idade e amplia as hostes do desemprego.

A concessão de benefícios – sejam eles quais forem –, quando transformada em privilégios, amplia a distância entre os grupos e camadas sociais, raças ou pessoas. E mesmo aqueles que são atingidos acabam por transformar seus grupos em militantes na busca de vantagens.

O debate do racismo e preconceito deve permanecer para que os "pensantes" possam chegar à conclusão de que não é através de privilégios e benefícios que teremos uma sociedade mais igualitária, com menos diferenças sócio-econômicas e ou raciais.

É preciso que todas as políticas públicas, especialmente as que se referem à educação, tenham como baluarte o acesso, a inclusão e a justiça responsável, e não o pagamento de dívidas históricas ou o assistencialismo barato de benefícios.

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