sábado, 1 de março de 2008

O BOPE me bateu

Publicado na Zero Hora de 06/11/07
Publicado no Jornal do Centro - Edição Nov/07

Quem dirigiu o filme ou interpreta o Capitão Nascimento? Assistiu a uma cópia pirata? E o ministro também? É "aspira, zero dois"? Perguntas ouvidas em qualquer roda de bate-papo ou lidas em "spams" e internet.


O BOPE e a opinião pública andam em lua-de-mel. A mídia eletrônica baixou o DVD antes do lançamento e derrubou a primeira peça do dominó. Depois disso, avalanches de manifestações (das quais não nos eximimos) favoráveis à truculência, às táticas de guerrilha oriundas do exército e aplicadas à favela — sim, à favela, não só aos bandidos. Para os alistados, treinamento militar de exército. Aplicá-lo significa tratar o outro lado como inimigo. E inimigos têm que morrer!


Direitos humanos são pra bandidos e políticos, não para o BOPE, nem para a população do morro que contracena no filme, já que os demais cariocas e brasileiros que não morreram, apanharam ou foram supostamente torturados, são meros telespectadores da sociedade, à sua margem. Onde está a cena do “pé na porta” da casa dos moradores de classe média-alta ou de outra casta de olhos que não querem ver?


Hipócrita a posição de alguns formadores de opinião que ejaculam precocemente ao bradar que o roteiro tocou na ferida aberta que o tráfico corrói. O mesmo com os "tortura-nunca-mais" que aproveitaram “a deixa” para pleitear seus quinze minutos de fama. Por isso o "blockbuster hollywoodiano" do momento não foi indicado ao Oscar norte-americano. Porque a beleza não existe na pobreza, e o consumo de drogas destroça nossas aspirações de engajamento social. E isso não é belo!


Os operações-especiais devem existir sim, mas para seu fim específico, mantendo em dia o comprometimento com a vida. E, apesar do site do BOPE (http://www.policiamilitar.rj.gov.br/bope/) ter como plano de fundo a imagem de um atirador de elite apontando para quem acessa a página, e mesmo estando em construção os link’s de responsabilidade social e relacionamento com a comunidade, os nossos (e os deles) direitos humanos devem ser preservados.


Agora, com a opinião pública ao seu lado, com os elogios às regras rígidas para fazer parte e se manter no grupo, é fácil “colocar bandido no saco”. São favoráveis as criticas e silenciosas as manifestações dos grupos de direitos humanos. Mas e quando um dos disparos não mais abater a um bandido e sim virar estatística de bala perdida ou baixas aceitáveis? Da platéia, ainda aplaudiremos? Bateu-me a dúvida.

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