sábado, 1 de março de 2008

O Fim das Bandeiras

(* publicado no Jornal do Centro - poa de agosto/04)

Graças às eleições, alguns temas ressurgem das catacumbas do pensamento, dos porões libertários e dos telhados de vidro dos discursos. Jargões de ideários políticos que não farão parte de vida de nossos filhos e netos.
Devemos deixar de lado o pensamento da formação “ideológica” da esquerda, do “assistencialismo” de centro e da “doutrina” da direita. Velhos assuntos, como lei de imprensa, são tratados como temas de esquerda, repreendidos, cabe salientar. A denúncia, arma da esquerda, virou “homem-bomba” na direita com o nome de denuncismo, sendo verdadeira a recíproca. Foi-se o tempo de segurar uma bandeira na mão e defender uma idéia, quiçá um partido, nos troca-trocas atuais.
Porto Alegre — usada de exemplo como domicílio eleitoral, que deve ser explicado, pois dos vários de que fazemos parte, além do natural, do tributário, do residencial e outros tantos que se façam necessários — é um exemplo típico. Quando dos regimes militares, uma de suas características era a permanência no poder. Aqui, temos 16 anos da mesma idéia política no poder, o que não surpreende os mais venturosos políticos. Caminhamos para 20 anos de mesma proposta. E olha que nem Geisel, “o Tirano”, sonhou com isso.
Mas o que questionar? Em pleno ano eleitoral, vemos candidatos que têm como propostas o continuísmo mascarado ou, quando tentam inovar, esquecem-se que temas como transporte e segurança, muitas vezes, fogem da esfera municipal. E olha que nem menciono a gama de candidatos a edil semi-analfabetos em que a função legislar foge ao vocabulário. Entretanto, a campanha está nas ruas e um bom penteado e um sorriso tratado (no computador é claro) podem angariar alguns votos.
A mesmice paira no ar. Quanto mais específico o tema, pior. Para os porto-alegrenses, trata-se de tergiversar sobre o mesmo assunto, uma conversa para mesa de bar quando de fala do Centro. Quais soluções darão ao bairro, mudá-lo para Curitiba? Bani-lo para a Restinga? Mudar de assunto. Falemos de política internacional, de macro-economia e de um futuro que não viveremos. O presente é um carma, seja de esquerda ou de direita.
Ser candidato, passa por trata-se de ser um “good guy”, um cara legal, sendo a favor aqui e contra lá, e, mais uma vez, situação ou oposição. Essa é a política de poder de duas ideologias: ou se faz parte, ou se é contra, republicanos e democratas ao mais belo estilo americano. Contudo, deixemos a política ideológica para quem estiver animado a escrever a respeito, para que conste nos anais da história, em um capítulo encenado por Judas.
Nunca esquecendo que, graças a nossa boa constituição, que pouco legisla e menos regulamenta, há lugar para todos, inclusive ao sol. E, em tempos de política moderna: “Quem já não foi pragmático, que atire a primeira pedra.”

É dia das mães. Cadê meu pai?

Num outro dia, li o artigo de um amigo que defendia fervorosamente a união indissolúvel do casamento na Igreja Católica, nada mais atual em época de visita papal. Sou agnóstico. Os avós, meus e de meu filho, são separados. Quando digo que morreu o avô, do tio, do meu filho ninguém consegue me explicar quem morreu.


Segundo as últimas estatísticas do Registro Civil do IBGE, na média nacional, os divórcios tiveram uma alta de 15,5%, na comparação de 2005 com 2004. Supondo que, dada a nossa modernidade, antes do casamento estes já eram pais ou moravam juntos ou ambos, temos uma criança que vai passar o dia das mães em companhia de apenas um deles.

Mas e eu, alguém pode me incluir numa estatística? Acredito que todos os filhos devem estar, em primeiro lugar, junto às mães, são elas que nos ensinam o carinho, o afeto, o perdão e são elas que sofrem com casos de agressões que acabam motivando uma separação. Hoje, temos leis que garantem os direitos das mulheres, das mães. Mas quem garante o direito dos filhos de mães - isso mesmo - separadas?

Claro que me sinto culpado por estar longe de meu filho e por já ter perdido alguns passos da vida dele. Porém, transformá-lo em mercadoria ou visita de consultório nunca passou por minha cabeça. Romântico, ainda acredito no amor que motiva casamentos e filhos, mas não creio que a instituição da família deva ser mantida sem que haja amor entre os pais. A criança deve crescer sabendo que é filha de pais separados, para que o doce da união familiar não seja roubado mais tarde, quando se está formando opiniões que vão conduzi-la a uma vida bem suscedida ou ao analista mais próximo.



Para os casos de pais que criam seus filhos sozinhos, acredito neles e no seu papel de sentir na pele e defender o dia-a-dia de ser mãe, para que continuemos comemorando o segundo domingo de maio como uma data especial (o que me faz lembrar que devo ligar pra minha progenitora neste domingo).

O avô do tio do meu filho é o sogro de meu pai.

(* publicado no Jornal do Comércio de 11/05/07)

31/05/07

Sobre passagens aéreas

Enquanto discutimos o uso indevido de passagens aéreas pagas com dinheiro público, oriundo do fundo partidário, uma outra questão perpassa a estratosfera das conversas políticas. É o uso dos programas de milhagens disponibilizados pelas empresas de transporte aéreo para acirrar a concorrência.


O silogismo deveria ser evidente, mas não é. Se dinheiro público paga passagens para funcionários do governo, comissionados e terceirizados, não seria o óbvio que o benefício do uso desses programas disponibilizadas pelas empresas retornassem ao governo?

Sim, mas nesse país que tem o presidente mais ético do mundo paga passagens de parentes e viagens de férias com milhas ganhas pelo dinheiro público.

31/05/07