quarta-feira, 14 de abril de 2010

Estado Assassino

Publicado no Jornal do Comércio de  15/04/10


Não é a primeira vez, nem é de hoje que acidentes, intempéries, "casualidades" provocam a morte de cidadãos que se abrigam nas hostes do Estado. Em Porto Alegre, foi a vez de um estudante. No Rio, centenas pagam com a vida pela omissão de governantes.
Não importa o número de vítimas, mas sim a falta de responsabilidade.  O Estado, sabido como instituição, independente da esfera, se municipal, estadual ou federal, constitui-se a partir de leis, de território e de governantes -  geralmente eleitos - responsáveis por esse território.
No Rio de Janeiro, autoridades haviam sido alertadas sobre riscos de desabamento, a moderna previsão do tempo estava a postos para avisar das tempestades. No entanto, nenhuma medida de prevenção ou contenção foi tomada. Enquanto isso, o presidente explicava que "Quando uma desgraça acontece, acontece". Já o prefeito e o governador seguiam no "lava mãos".
Pairam-me dúvidas se o socorro financeiro seria tão imediato caso não estivéssemos em ano eleitoral. Pois, para arrecadar votos, os mesmos que defenderam áreas ocupadas, estavam agora as condenando em busca de manchetes.
Aqui, sepultado com choque elétrico, aluno morreu ao encostar-se na parada de ônibus. Mais uma vez, os governantes omitem-se da responsabilidade. Ora, há, no local do acidente, uma estrutura com problemas elétricos disponibilizada, a princípio, pela prefeitura, via secretaria de Mobilidade Urbana e EPTC, pelo governo do Estado, via CEEE. Todas as esferas do Estado  estiveram envolvidas, uma vez que o criticado socorro foi prestado Samu, do governo federal.
Como ocorreu no Rio de Janeiro, o que se sucedeu foi uma troca de "não fui eu, a culpa não é minha". O "novo" prefeito diz não ser responsabilidade da prefeitura, o secretário corrobora, a direção da CEEE diz que não foram eles. Mas quem foi então?
Fomos nós! Somos responsáveis pelas nossas próprias mortes e pelo silêncio em nossos velórios. Enquanto os assassinatos provocados pelo Estado não se apresentarem como uma tragédia imediata nas urnas, continuaremos morrendo.
O ano é eleitoral e, enquanto ouvirmos calados outros políticos insurgentes gritarem "É um absurdo" sem nada fazerem, mortes continuarão a ocorrer. Não podemos mais eleger Pilatos.

Clei Moraes
Politólogo



Nenhum comentário:

Postar um comentário