Por que votar?
Astor Wartchow
Advogado
A
crise do sistema político representativo não é uma particularidade brasileira.
O sentimento de frustração popular também é percebido na Europa e nos Estados
Unidos. As disputas políticas em geral têm se caracterizado em mera luta pelo
poder. O poder pelo poder. Ou o poder para obter vantagens e enriquecimento
pessoal.
Não
necessariamente em defesa da geléia geral, mas explicando e tentando justificar
a confusão, também é verdade que devamos reconhecer que a atualidade mundial é
de absoluta inquietude, inconstância e com graves crises cíclicas. Crises
sociais e econômicas que começam discretas, locais e setoriais, para logo,
logo, serem escandalosas, interregionais e gerais.
A
freqüência das crises e suas características diferenciadas têm causado grande
confusão nos governos, nos partidos políticos e naquilo que identificávamos
como suas convicções ideológicas. Dito de outro modo, objetiva e resumidamente,
nem o mercado tem mais a capacidade de auto-regulação, e nem o estado tem o
poder de resolução e “apagar incêndios”.
Ultimamente,
entre nós brasileiros, as faces mais comuns e freqüentes da degradação do
processo político-partidário têm sido o clientelismo, a corrupção e o cinismo. Conseqüentemente,
não é a toa que a população rejeita e hostiliza a política. Os jovens em sua maioria
a ignoram quase que por completo.
O
que mantém as aparências e dissimula nossa crise de representação é a
obrigatoriedade do voto. Em outros países, notadamente na Europa, os índices de
abstenção servem como referência para denunciar e rechaçar as disputas
políticas medíocres e seus métodos.
Assim,
desinteresse popular, abstenção e voto nulo funcionam como forma de crítica e
denunciam as práticas e métodos políticos que não oferecem alternativas, que
confundem a opinião pública, e que, dia após dia, tornam os partidos cada vez
mais iguais entre si. Programática e comportamentalmente.
Diante
do descrédito na política e nos políticos, e frustrados com a (deliberada ou
não) geléia ideológica, a pergunta dominante entre as pessoas sempre era a
seguinte: em quem votar? Mas, ultimamente, a pergunta é outra: por que votar?
Essa
pergunta revela e confirma a gravidade do momento que vivemos. Possivelmente,
há dois aspectos extremamente danosos na política brasileira. Primeiramente, o
estado brasileiro é exageradamente centralizador e arrecadador. Há poder e
dinheiro demais em Brasília.
O
segundo ponto diz respeito ao poder legislativo. Teoricamente, um poder
soberano. Mas, na pratica e de modo crescente e objetivo, é, hoje,
absolutamente submisso ao poder executivo. Resulta disso, em moto contínuo, que
não há mais representantes do povo. O objetivo principal de vereadores e
deputados é fazer parte do governo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário