quarta-feira, 27 de junho de 2012

Recomendo (e reproduzo) artigo "Dois PTs, por André Marenco", @zerohora de hoje @opiniaozh


Dois PTs, por André Marenco*

Existem dois PTs: um é aquele que está no governo federal, possui altos índices de aprovação popular, formulou e implementou políticas de sucesso como o Bolsa-Família, o Prouni, o Ciência Sem Fronteiras. Dilma Rousseff, Guido Mantega, Fernando Haddad, Miriam Belchior são filiados ao PT. Mas nunca frequentaram as disputas de correntes internas do partido, não fizeram carreira dentro dos diretórios, não são gente da máquina partidária.

O outro PT é aquele da máquina partidária, dos diretórios, dos militantes profissionais, cujo epicentro ainda se localiza em São Paulo. Até a crise do mensalão, era este PT que estava no governo, ilustrado por líderes como José Dirceu, Antonio Palocci, Luiz Gushiken. Seu legado para o governo Lula foi, sobretudo, um escândalo de corrupção, episódios como os aloprados, falta de coordenação da base governamental no Congresso, um governo que até 2004 patinava em formular política macroeconômica e políticas redistributivas. A inflexão no governo Lula ocorre exatamente quando seus principais ministros, saí- dos da burocracia partidária, são ceifados pelos escândalos e o presidente Lula precisa recorrer a quadros técnicos, para ocupar posições no centro do governo, sendo a então ministra Dilma sua melhor expressão. Se alguém procurar nas resoluções aprovadas por congressos ou encontros petistas até esta data alguma referência a Bolsa-Família, Prouni, Reuni, Ciência Sem Fronteiras, PAC, irá perder seu tempo, a burocracia partidária foi incapaz de formular políticas governamentais consistentes. Na verdade, a única agenda que despertou seu apetite foi a da reforma política, reduzida pelos oligarcas a dois pontos: lista fechada e financiamento público de campanhas eleitorais. Para um leitor menos atento, que não disponha de informação sobre o que significam essas propostas e suas experiências efetivas em outros países, vai aqui uma legenda: trata-se de concentrar dinheiro e poder nas mãos de caciques partidários.

Partidos são instituições indispensáveis em democracias. Identidades e programas partidários permitem que o eleitor tenha alguma previsibilidade sobre o que os partidos farão, quando no governo. Bancadas partidárias em Legislativos dão o necessário apoio a políticas governamentais. Mas eficiência governamental é fundamental para fazer com que democracias produzam resultados efetivos para eleitores e cidadãos. Todas as democracias apresentam governos baseados em partido(s). Nas democracias que combinaram os desideratos de representatividade e eficiência governamental, partidos foram capazes de oxigenar-se, aposentando os velhos burocratas partidários profissionais.

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