Publicado em Zero Hora de 06/10/2012
A preocupação
é a da arruaça,
da criação de
movimentos
que não
possuem um
propósito além
da baderna
é a da arruaça,
da criação de
movimentos
que não
possuem um
propósito além
da baderna
CLEI MORAES*
As redes sociais, mais uma vez, foram a ferramenta de mobilização utilizada para conclamar uma manifestação, em Porto Alegre, contra a suposta privatização de espaços públicos.
Claro que acredito que a internet deve, também, servir como uma ferramenta democrática e de expressão política, como candidatos ou eleitores cidadãos. Ao contrário do que muitos pensam, há, sim, que se permitir que as pessoas exponham suas propostas e ideias da forma mais ampla e ilimitada possível pela rede, desde que não abusem de poder econômico.
Na chamada "primavera árabe" e em outros movimentos (geralmente contra regimes autoritários), Facebook, Twitter e outros que se assemelham tiveram papel fundamental de conclamar a população e levá-la às ruas. Sem questionar se resultaram, de fato, em novas democracias. Tinham um propósito: as pessoas saírem de trás do monitor e transformar palavras em ação.
Em 2000, o relógio comemorativo dos 500 anos que estava instalado no Gasômetro, em Porto Alegre, teve sua cerca derrubada. O relógio foi pichado, depredado e queimado. A Brigada Militar entrou em confronto com os manifestantes e, além dos registros policiais e danos materiais, manifestantes e policiais ficaram feridos. Não havia redes sociais.
Doze anos depois, na Capital, em pleno período eleitoral, foram feitas algumas tentativas, pelas redes sociais, de manifestações contra empresas privadas que utilizam espaços públicos. Na primeira, questionou-se o cercamento do Araújo Vianna. Consequência: um balão publicitário queimado como forma de protesto contra o "morrinho" que fora também encerrado no local.
Na noite seguinte, a vítima foi a mascote da Copa, o tatu-bola. Inicialmente, os manifestantes pensavam em realizar uma espécie de ciranda ao redor do símbolo. Porém, o que ocorreu, mais uma vez, foi o derrubamento das grades que protegiam o boneco, seguindo-se pancadaria entre os que protestavam e os policiais.
É inacreditável que, enquanto o futuro prefeito de Porto Alegre participava de debate com os demais candidatos, uma parcela inconsequente da população, munida de paus e pedras, destruía a propriedade privada e o patrimônio público. Mas com que motivação e justificativa? Com que direito se pode transformar democracia em violência? Nada justifica.
Também há que se questionar a atuação da BM, mas não é esse o mote deste artigo. A preocupação é a da arruaça, da criação de movimentos que não possuem um propósito além da baderna, diferente do que ocorria nos períodos do regime militar e mais recentemente, do período Collor.
Hoje, quando o próprio governo se vale de parcerias público-privadas, as chamadas PPPs, para sanar as dificuldades de caixa na realização de obras, não há _ e penso que nunca houve _ algo que motive um protesto contra a "ocupação de espaços públicos".
Todos têm o direito de expressar suas opiniões. Porém, quando essas extrapolam a internet para se transformar em mero vandalismo, perdem o sentido de existir.
Quem perde é a população. Mataram o tatu.
Claro que acredito que a internet deve, também, servir como uma ferramenta democrática e de expressão política, como candidatos ou eleitores cidadãos. Ao contrário do que muitos pensam, há, sim, que se permitir que as pessoas exponham suas propostas e ideias da forma mais ampla e ilimitada possível pela rede, desde que não abusem de poder econômico.
Na chamada "primavera árabe" e em outros movimentos (geralmente contra regimes autoritários), Facebook, Twitter e outros que se assemelham tiveram papel fundamental de conclamar a população e levá-la às ruas. Sem questionar se resultaram, de fato, em novas democracias. Tinham um propósito: as pessoas saírem de trás do monitor e transformar palavras em ação.
Em 2000, o relógio comemorativo dos 500 anos que estava instalado no Gasômetro, em Porto Alegre, teve sua cerca derrubada. O relógio foi pichado, depredado e queimado. A Brigada Militar entrou em confronto com os manifestantes e, além dos registros policiais e danos materiais, manifestantes e policiais ficaram feridos. Não havia redes sociais.
Doze anos depois, na Capital, em pleno período eleitoral, foram feitas algumas tentativas, pelas redes sociais, de manifestações contra empresas privadas que utilizam espaços públicos. Na primeira, questionou-se o cercamento do Araújo Vianna. Consequência: um balão publicitário queimado como forma de protesto contra o "morrinho" que fora também encerrado no local.
Na noite seguinte, a vítima foi a mascote da Copa, o tatu-bola. Inicialmente, os manifestantes pensavam em realizar uma espécie de ciranda ao redor do símbolo. Porém, o que ocorreu, mais uma vez, foi o derrubamento das grades que protegiam o boneco, seguindo-se pancadaria entre os que protestavam e os policiais.
É inacreditável que, enquanto o futuro prefeito de Porto Alegre participava de debate com os demais candidatos, uma parcela inconsequente da população, munida de paus e pedras, destruía a propriedade privada e o patrimônio público. Mas com que motivação e justificativa? Com que direito se pode transformar democracia em violência? Nada justifica.
Também há que se questionar a atuação da BM, mas não é esse o mote deste artigo. A preocupação é a da arruaça, da criação de movimentos que não possuem um propósito além da baderna, diferente do que ocorria nos períodos do regime militar e mais recentemente, do período Collor.
Hoje, quando o próprio governo se vale de parcerias público-privadas, as chamadas PPPs, para sanar as dificuldades de caixa na realização de obras, não há _ e penso que nunca houve _ algo que motive um protesto contra a "ocupação de espaços públicos".
Todos têm o direito de expressar suas opiniões. Porém, quando essas extrapolam a internet para se transformar em mero vandalismo, perdem o sentido de existir.
Quem perde é a população. Mataram o tatu.
*Politólogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário