quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Artigo: Uso da máquina e propaganda - republicado, versão original de 2008


Uso da máquina e propaganda
(Título original: Realidade virtual em obras - escrito em 2008)

Assusta-me um pouco a quantidade de publicidade que a prefeitura de Porto Alegre tem despejado em nossos meios de comunicação, principalmente através da televisão. É estratégia rotineira de quem ocupa o Executivo deixar a pirotecnia de mídia para o ano de eleição.
Muito já se evoluiu com relação à propaganda dos próprios feitos por nossos políticos. Antigamente, as obras eram assinadas em nome pessoal, com logotipia própria daqueles que usufruíam de mandado. Coisa do tipo “Foi o Maluf (hic!) que fez” tinha o aval dos legisladores. Hoje, faz-se divulgação através da entidade, ou seja, da prefeitura, do governo do Estado, ou da Câmara de Vereadores, de acordo com o caso e circunscrição.
A política privilegia a esses que usam a máquina pública (a estrutura de pessoal, de escritório e financeira, principalmente) para alardear investimentos nem sempre factíveis ou existentes. Na nossa capital, a mais recente peça publicitária trata de se vangloriar do Programa Socioambiental (futura rede de esgoto sanitário)*1, do Programa Portais da Cidade (futuro sistemas de integração nas linhas de ônibus). Todas obras do futuro! Nada que se veja de fato em nosso dia-a-dia.
Estranhamente, e alguém me corrija caso me engane, não vejo anúncios da “solução tapa-furo” que é o camelódromo (Centro Popular de Compras)*2. Mas, de real, cheguei a presenciar manchetes sobre sua execução e entrega  em maio e, com certeza, longe da conclusão, dado os andamentos das obras. Estamos em junho. Fato semelhante com anúncios da ligação da Borges com Mauá, que deve alterar o fluxo de veículos no entorno do Mercado Público. Em cada marco de obra que talvez um dia possamos ter, uma placa! Mais estranho ainda é o fato de a SMAM (Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Porto Alegre) ter programa para reduzir a poluição visual.
Não sou contrário a divulgar o que é feito, desde que isso realmente exista, o que não tem sido o caso ultimamente. Primeiro, é necessário que se possua mais que a “pedra fundamental” para qualquer ação, obra ou programa para divulgá-la aos quatro ventos. Contudo, se há verba para publicidade, por que não a usam para manter em dia o Art. 37 da Constituição: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” Será por que publicidade e eficiência devem andar juntas?
Ano eleitoral é isso. Os políticos e seus marqueteiros esquecem-se que, quando se fala em publicidade de governos tem mais haver com transparência que com propaganda. É lastimável que essa falta de memória se dê em dias tão tortuosos, onde a ética tem se tornado uma lembrança e a corrupção uma constante.

Nota do autor:
1 - O PISA está sendo implementado de fato em Porto Alegre
2 - O camelódromo foi implementado 

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