sexta-feira, 23 de agosto de 2013

#Artigo: Política do escondidinho


Escondidinho é um prato típico da culinária nacional. A iguaria consiste em envolver o recheio com uma camada de mandioca temperada. Assim como na gastronomia, também o Congresso Nacional tem seus temperos.
Nesta semana, acompanhamos a votação dos vetos presidenciais. Após “orientação” do Supremo Tribunal Federal – STF, os parlamentares criaram uma regra para que a pilha de propostas barradas pela presidência não virasse outra montanha novamente.
No processo Legislativo, em determinadas situações, uma matéria é apreciada pelas duas casas (daí o nosso sistema bicameral), ou seja: Câmara dos Deputados e Senado Federal são imbuídos de analisar, discutir e sugerir novas legislações. É o caso das Medidas Provisórias – MP´s.
Encerrado seu trâmite, cuja origem é no Poder Executivo, a decisão volta à presidência para que esta valide o trabalho dos congressistas e promulgue novas regras que venham a integrar as leis brasileiras. Se divergir de algum ou de todos os itens, usa-se o artifício de vetá-los.
Quando isso ocorre, mais uma vez, o Congresso tem que decidir sobre a questão. Foi ao que assistimos em sua última seção, quando da decisão pela manutenção dos vetos presidenciais em diversas matérias.
A pergunta que fica é: como votou o parlamentar que eu elegi? Não se sabe, a votação é feita com base em uma regra constitucional que determina que esse voto seja feito de maneira secreta, o mesmo para cassação de parlamentar, por exemplo.
No Brasil, o voto secreto surgiu para coibir a compra de votos dos eleitores, também para impedir o “voto a cabresto” e os currais eleitorais dos chamados coronéis, que obrigavam eleitores a votar em candidatos de sua preferência política, pois estes detinham, além do poder opressor de variada espécie, também o poder econômico.
Dadas as devidas origens dos fatos, surge outro questionamento: quem são os coronéis de hoje em dia? Também não se sabe. Por mais diversos interesses, há uma curiosidade renitente quando as votações passam de nominais a secretas: a matemática.
No momento em que uma proposição teve, hipoteticamente, “n” votos favoráveis (e defensores fervorosos na tribuna) em votação aberta, esta passa a ter “n – x” votos quando o mesmo tema é tratado em voto secreto. Aqui está a supressão de um direito do eleitor, a de saber como o parlamentar eleito para representá-lo vota e toma decisões.
Não só nos gastos e salários deve haver transparência, se faz necessária também no “fio de bigode” e nas relações políticas entre poderes e sociedade.

Urge que uma das propostas pelo fim do voto secreto que tramitam no Congresso seja aprovada. Ou continuaremos com a “política do escondidinho”?

Nenhum comentário:

Postar um comentário