Publicado na Revista Voto
Contrariamente ao que pensa a nova sociedade do
“politicamente correto”, é indispensável questionar as políticas afirmativas que pretendem “resgatar dividas
históricas” a partir da implantação de cotas.
Senão, vejamos: o governo federal pretende destinar mais,
frise-se, 20% de vagas em concursos públicos a afrodescendentes. Hoje, pessoas
com deficiência já possuem cerca de 5% a 20% dos cargos disponíveis em seleções
públicas. Logo, existe a possibilidade de todos os demais concorrentes
disputarem 60% dos cargos.
Essa “reserva racial” incentivada pelo Poder Executivo está longe de assegurar
igualdade. Exemplificando, há o caso dos gêmeos idênticos inscritos no
vestibular em Brasília, um considerado negro e beneficiado e outro não. Outro
exemplo vem do Itamaraty, que aprovou, através das cotas, uma pessoa branca de
olhos azuis que se autodeclarou negra.
Com tamanha subjetividade e a mestiçagem que caracteriza o
povo brasileiro, cabe o questionamento: não estaremos, sob o pretexto de promover igualdade, ignorando aptidão e mérito e
promovendo o racismo? E mais, eu sou ou não negro? E você, é?
Por vivência própria, e não obstante a infância pobre e
carente, como muitos, ingressei, ainda pré-adolescente, no mercado de trabalho.
Disputei vagas desde aquela época, para o segundo grau em escola pública,
faculdade, concursos e demais processos seletivos. Até hoje, não me foi oportunizado
dividir um “pedaço do bolo” com menos concorrentes.
Ora, todos passam por vitórias e derrotas, e o que deve nos
diferenciar não é a cor da pele, a etnia, o gênero, a genealogia ou, até, o
credo, nem tampouco a política de, em tese, promover a igualdade social a
partir de privilégios.
E, corroborando com a manifestação da escritora Lya Luft: “Qualquer
sistema de cotas, seja por raça ou tipo de escola freqüentada, é atrasado e
injusto. Isso tem de acabar. Provoca mais discriminação, fomenta o ódio racial,
e não ajuda a ninguém. É populismo burro. Tentativa de enganar os bobos.“
Mas não só o governo defende a falsa tese de saldar
equívocos na aplicação de políticas públicas ou não. Os partidos têm que
disponibilizar 30% das vagas a gênero (entenda-se mulheres), e tramita junto a
Câmara dos Deputados cota para parlamentares índios. Como se esses gestos
melhorassem nossa classe política.
Então, ao invés de incentivar vantagens, não há que nossos
governantes propiciarem igualdades na formação educacional, cultural e
profissional? Afinal, se não for assim, também quero uma cota pra mim!
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