terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Perfeição. Texto em homenagem a Santiago Andrade

Perfeição

“Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja
De assassinos covardes
Estupradores e ladrões”

Em 1993 Esses foram os primeiros versos de Renato Russo, na música chamada ironicamente “Perfeição”. Após 21 anos, com a morte de Santiago Andrade, atestamos nossas imperfeições.

Atingido por um rojão durante protesto no Rio de Janeiro, o cinegrafista veio a falecer nesta segunda-feira. Crônica de uma morte anunciada: qual político ou governante não sabia que algo trágico viria a acontecer?

Não imagino que tantos que opinaram a respeito das manifestações não conseguissem prever uma fatalidade, após sucessivas cenas de vandalismo e agressões. Assim se proliferam casos pelo Brasil. Com o despreparo da polícias e o surgimento dos “Black Blocs”. A Legião Urbana, continuava a sátira a nossa sociedade:
“Vamos celebrar
A estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso estado que não é nação”

É o que esperamos? No ano em que teremos eleições, Copa do Mundo e, certamente, manifestações, há o que a comemorar? Os 30 anos do movimento “diretas já”? Ou a capa da revista que ilustra um menor nu, preso a um poste? Ou, como diz a música:
“Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião”

Fosse apenas isso, mas não. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o que avançou além das promessas feitas aos parentes das vítimas da Boate Kiss? Em Minas e no Espírito Santo, mais de 45 pessoas morreram nas últimas chuvas. Quantos desastres mais terão que acontecer?

Ironia, o cinegrafista que teve dois prêmios jornalísticos de Mobilidade Urbana, cobria a manifestação contra o aumento das passagens de ônibus. Será que, como apregoava o músico há duas décadas:
“Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos”

Cantava em uma época em que ainda havia esperança, mas chegamos ao futuro que o Brasil seria e ainda vivemos momentos de combustão social. Nossos problemas continuam os mesmos e temos que repetir o que já foi cantado:
“Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação”
Mais que lamentar, é o momento de rever nossos valores, virtudes e governos! Alguém mais tem que morrer? Quanto luto ainda é preciso?

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