Fonte
Fazer rir, por Luiz Antônio
Araujo*
O deputado federal
Francisco Everardo Oliveira Silva (PR-SP) alcançou esta semana o cume do
noticiá- rio político ao fazer o inesperado: participou de 100% das sessões
legislativas ordinárias deste ano na Câmara dos Deputados. Inesperado porque
apenas 18 parlamentares, Silva incluído, tiveram assiduidade total às sessões
de votação, conforme levantamento recém divulgado. E mais inesperado ainda
porque Francisco Everardo é o nome de batismo do palhaço Tiririca, aquele do
slogan de campanha “Pior do que está, não fica”.
Antes mesmo de ser eleito
para a Câmara, em 2010, com 1,3 milhão de votos, Tiririca tornou-se alvo de um
dos mais gritantes episódios de bullying político da história. O Ministério
Público Eleitoral tentou impugnar sua candidatura por falsidade ideológica –
teria transferido todos os bens para terceiros para escapar de processos
trabalhistas, de alimentos e partilhas movidos pela ex-mulher – e por ser
analfabeto. (Num protesto respeitável contra o preconceito e a hipocrisia, a
ex-deputada e educadora Esther Pillar Grossi ofereceu-se para alfabetizá-lo
antes da posse.) Criou-se a expressão “Efeito Tiririca” para designar
celebridades que, sem maior relação com a política, tornam-se puxadores de
votos e garantem a eleição de candidatos com votações ínfimas em eleições
legislativas.
É impossível fazer rir sem
um senso preciso de oportunidade. Conhecedor dessa velha regra do circo,
Tiririca guardou alguns números para depois da eleição. Não se limitou a dar
quórum a sessões sonolentas. Votou a favor do direito a proventos integrais com
paridade para servidores aposentados por invalidez, da regulamentação da
carreira de procurador municipal, da efetivação dos atuais donos de cartórios,
da expropriação de terras onde houver trabalho escravo e da criação do Sistema
Nacional de Cultura. E foi contrário à transferência, da União para o Distrito
Federal, da atribuição de manter a Defensoria Pública do Distrito Federal.
Além de ser figura
carimbada em plenário, Tiririca deu o ar da graça na comissão da qual faz
parte, a de Educação e Cultura. Participou de au-diências públicas sobre
alvarás para instalação de circos e regulamentação do ensino de música, cultura
e cinema. É ativo integrante da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Cultura,
condição na qual participou de reuniões nos ministérios da Educação, da Cultura
e da Saúde e no Palácio do Planalto. A pedido da UNE, apresentou emenda ao
Plano Nacional de Educação prevendo mutirão pela alfabetização de jovens e
adultos. Suas emendas ao Orçamento Geral da União deste ano privilegiam
programas culturais, esportivos, de saúde e de assistência social, totalizando
recursos de cerca de R$ 15 milhões. Um terço desse montante é destinado a
hospitais de câncer, santas casas e fundações de assistência infantil de São
Paulo.
Em matéria de projetos de
lei, a produção de Tiririca pode ser qualificada de modesta – apenas oito em
quase dois anos, a maioria sobre questões ligadas à cultura. E, em pelo menos
um item da atividade parlamentar, sua performance foi igual a zero: discursos
em plenário. Não que o deputado não tenha o que dizer. No único boletim
publicado até hoje pelo mandato, ele afirma: “Estando político, é minha
obrigação desenvolver projetos e colocar minhas ideias em prática. Sou fruto de
uma sociedade que escraviza sem observar os mais humildes, que continuam
carentes das ações do Estado. Por isso, o meu compromisso é o de lutar pelo
desejo dessa pessoa que não se sente representada como cidadã. Quero muito que
a arte popular seja valorizada, que o artista tenha a garantia de que o seu
trabalho representa a qualidade do próprio trabalho”.
Esse é o deputado Francisco
Everardo Oliveira Silva, o Tiririca. E o seu?
luiz.araujo@zerohora.com.br
*JORNALISTA
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