A
vertente hegemônica
Entre amigos, costumo dizer que o rancor
político entre esquerda e direita só será sobrepujado - pela afirmação
democrática e o anseio pelo bem comum da população - quando minha geração e as
que me antecedem deixarem de existir. De fato, morrerem. Somos filhos da
ditadura.
É esta mágoa, como a que as crianças
maltratadas física e psicológica têm dos pais, que move embates entre políticos
e cidadãos mais atentos à política. Há sempre os que dizem: “os gaúchos são os
mais politizados.” Também somos os mais passionais, do futebol à religião e à
política.
Nossa democracia dá seus passos de mãos dadas
com a corrupção, ferida putrefata de nossas origens, de brasileiros que somos.
Mesmo assim, há que se comemorar a estabilidade econômica e a pouca
interferência da crise internacional em nosso dia a dia. Estamos consolidando o
que é possível, não há mais espaço para extremismos, nem à esquerda, nem à
direita.
Ao falar em fascismo – cuja origem refere-se
ao totalitarismo de ultradireita, em um estado que se sobressaia aos anseios de
sua população e em seu nome restrinja direitos – não se pode suscitar que ele
venha a se estabelecer junto à nossa cidadania sem que situemos o recente e
atual exercício político de nossos governantes.
Senão vejamos: superado o fracasso da
primeira eleição presidencial pós-regime militar, com o afastado Fernando
Collor e o transitivo Itamar Franco, Fernando Henrique foi eleito por um
partido social-democrata. Como tal – para espanto de muitos – um integrante da
esquerda.
Depois dele, ingressamos na era do Partido
dos Trabalhadores. Dilma sucedeu Lula, e desde FHC somos um país com destaque
mundial por nosso posicionamento político através da democracia representativa.
Poderíamos dizer, ao teorizar, que essa postura política é um “mix” entre as
“dominações” Legal, Tradicional e Carismática proposta por Max Weber e o
chamado “bloco hegemônico” de Antonio Gramsci.
Dados os fatos, nossos governos recentes são
a representação de uma hegemonia de esquerda que procura a perpetuação no
exercício do poder. Através de seus eleitos um pouco mais ou um pouco menos à
esquerda. Exemplo recente foi o silêncio (que silencio?) dos partidos à
direita, nunca manifesta em seus programas e propostas de governo durante as
eleições.
Logo, onde está a direita e a “vertente
fascista” preconizada em artigo assinado
por Marcos Rolim no dia 18/11 em Zero Hora? O que temos, na verdade, no cenário
proposto, é a ineficácia desses governos em promover “políticas antirrisco”,
uma iminente recessão, a ausência de consolidação de suas instituições políticas
e o suposto estopim: a falta de segurança pública, que propiciaria a “legislação
de exceção tendente a suprimir direitos e garantias individuais”.
Ao contrário, é a vertente hegemônica que
procura controlar a imprensa, impedir o surgimento de novos partidos, degradar
o Supremo Tribunal Federal, partidarizar a educação e “ver pelo em ovo”.
Caberia apontar quem são os fascistas? Onde
estão? O que é ser fascista hoje, querer a ordem e bandidos na prisão?
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